O site Senhor F publicou recentemente a lista dos 50 discos mais legais da cena independente desde 1998, ano em que a revista foi criada e esta cena independente, como está hoje, estava também começando. Na chamada de capa da matéria especial, um disco que certamente merece o destaque: ‘Bloco do eu sozinho’, do Los Hermanos. Ver isso – lista e destaque para o ‘Bloco...’ – me deu a idéia de propor uma outra relação, a das 50 músicas mais importantes. E aí já queria também sugerir a inclusão de uma canção, essa também dos barbudos, mas presente no disco seguinte, ‘Ventura’.
Podem argumentar que incluir ‘Bloco’ numa lista de independentes ainda dá, afinal o disco simbolizou uma luta que, aparentemente, não fazia mais sentido para a geração estamos-felizes-da-vida-com-o-controle-da-inflação. Mas a banda do Rio, naquele momento, mostrou que era fundamental e, mais, mostrou que era viável brigar pelo direito de fazer arte, lançando um disco que não tinha nenhuma outra ‘Ana Júlia’, mesmo que fosse isso que a gravadora esperasse. Quicados da gravadora, conquistaram milhares de novos fãs e viraram a banda mais legal daqueles anos. Já ‘Ventura’, podem continuar argumentando, já foi um disco de banda estabelecida, de bem com uma major, mainstream. Como pinçar desse disco uma música para uma lista de independentes?
Eu respondo dizendo que ‘O Vencerdor’ fala muito sobre o que representou o disco anterior. É a canção mais importante do rock nos anos 2000 e nada é mais independente do que é cantado ali.
Assim como a briga para lançar o ‘Bloco’ mostrava que a nossa geração precisava ficar esperta para a arte continuar fazendo sentido, ‘O Vencedor’ nos aclarava a pressão por sermos vencedores e deixar o amor, o prazer, a vida para lá. E fazia isso de um jeito bacana, dizendo que ser o tal do vencedor não era assim essa maravilha, pelo contrário. Propunha uma vida “devagar, pra não faltar amor” e pregava que juntássemos as mãos ao nosso redor, fizéssemos o melhor que fôssemos capazes para vivermos em paz.
É o tipo de canção que pode inspirar novas visões de mundo e, melhor, dar mais forças para buscarmos nossos sonhos, que não necessariamente nos levam ao posto de vencedores, mas a uma vida bacana, boa, com paz e amor. Não há motivo maior para se orgulhar do que saber que você fez o seu melhor e continuar tentando fazer isso, junto com quem tá do seu lado, pra coisa ficar mais forte e mais gostosa. E se esse sentimento não te atinge quando você está na cena independente, acho que na verdade você está fora de cena...
Quando ouvi essa canção pela primeira vez, me senti em um daqueles momentos legais da história em que as músicas que estão nas paradas de sucesso realmente têm algo a dizer para uma porção de gente. Ir aos shows e poder cantar “E eu que já não sou assim muito de ganhar / Junto às mãos ao meu redor / Faço o melhor que sou capaz / Só pra viver em paz” era exorcizante. Ainda é. Por isso meu voto está dado.