quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Feliz ano-novo com StereoScope


Não sei se é porque em Brasília ficamos num clima chuvoso e cinzeto ou porque minha culpa de burguês aparece de forma mais acentuada. O fato é que os feriados de fim de ano me deixam melancólico. Mesmo tendo passado ótimos Natal e reveillon, ando em câmera lenta, preguiçoso e contemplativo. A chegada do ano-novo não ajuda a mudar meu sentimento. Também não sei a razão, mas acho meio forçado aquele entusiasmo todo que as pessoas manifestam quando chega a meia-noite de 31 de dezembro. Sempre me senti esquisito porque não fico tão feliz quanto os outros parecem ficar e comecei a desconfiar que deve ser fingimento deles.

Faz alguns anos que, quando o fim de dezembro se aproxima, começo a lembrar mais das canções dos caras do StereoScope, belíssima banda de Belém. Isso ocorre principalmente porque a primeira música que ouvi deles era justamente uma que fala do Natal: 'Antigos carnavais (boas festas)', do primeiro disco, 'Rádio 2000', lançado em 2003. Acho que a ouvi naquele mesmo ano, quando a Senhor F a incluiu num e-mail de fim de ano.

"Não adianta dizer que vai ficar mal / Na noite de Natal, é sempre tudo bom", ouvi Jack Nilson cantar numa melodia ao mesmo tempo triste e acolhedora. Fiquei impressionado como aquela gravação lo-fi combinava perfeitamente com o sentimento (um misto de alegria e reflexão melancólica) que me domina todo fim de ano e fui atrás de outras coisas da banda.

'Antigos carnavais' acabou sendo apenas a minha porta de entrada para o mundo do StereoScope, conjunto capaz de combinar rimas ao mesmo tempo espertas e simples com uma profundidade existencial rara. Logo descobri outras belas músicas no disco de estréia, como 'Cherole' (que pra mim é uma espécie de 'She´s leaving home' brasileira), 'Felicidade Azul' e 'Eu envelheço' (uma das minhas músicas preferidas do rock nacional de todos os tempos).Tornei-me fã.

Talvez a grande vantagem da banda seja reunir três grandes compositores (além de Jack, Ricardo Maradei e Marcelo Nazareth) que, apesar de estilos próprios, fazem composições que interagem entre si e dão forma a um repertório consistente. E com uma sonoridade com toques sessentistas repleta de arranjos bem trabalhados, com detalhes saborosos adornando as músicas.

Prova disso é segundo CD dos caras, 'O grande passeio do SteroScope', obra quase conceitual que consegue trazer, ao longo de 15 faixas, reflexões, insights e retratos da nossa vida. Está tudo ali: a rotina que segue igual mesmo depois da morte de um jovem ('O grande passeio ou este lado da vida'), o eterno risco de sermos pegos de surpresa e vermos nossas certezas se desmanchando ('Anche se sia de notte', que tem o maravilhoso verso "De repente chega alguém que não conhece avião, mas sabe voar"); a sensação dos anos passando enquanto ainda somos jovens ('Novembro'); a luta necessária contra a solidão e a busca pela felicidade ('O que você tem'); a lembrança da primeira paixão ('Maria, doze anos') e muito mais.

O StereoScope é dessas bandas que exalam inteligência sem prejuízo algum para a emoção e a simplicidade. E por isso é capaz de oferecer músicas que nos fazem companhia e dão alento. A boa notícia é que o ano que se inicia hoje traz a promessa de lançamento do terceiro disco deles. Será uma dos momentos mais legais para mim deste 2010.

Feliz ano-novo, amigos.

PS: para ouvir os dois primeiros discos do StereoScope, basta clicar aqui.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Melhores dos anos 00

A Senhor F elegeu os melhores discos independentes nacionais dos anos 2000. Confira aqui.

Dos apontados ali, meus favoritos: Superguidis, Prot(o), Suite Super Luxo, Phonopop, Gianoukas Papoulas, Los Hermanos e Frank Jorge. Que faltaram: Lestics (mas o Gianoukas representa bem o Olavo e Umberto e cia) e StereoScope. Por sinal, devo um texto sobre o StereoScope desde que iniciei este blog. Prometo escrever em breve.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Eu eu eu a OMB se deu mal

Da Redação de Senhor F

O Tribunal Regional Federal da 3ª Região proibiu a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) de fiscalizar os músicos bem como exigir a inscrição na entidade. O Acórdão garante aos músicos do estado de São Paulo o direito de exercício da profissão, sem necessidade de prova, inscrição na OMB e sujeição ao regime disciplinar específico. A informação é do deputado Carlos Giannazi, Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa dos Músicos e Compositores do Estado de São Paulo.

O Acórdão destaca, entre outros pontos, que "a Lei nº 3.857/60 não exige o registro na OMB de todo e qualquer músico para o exercício da profissão, mas apenas dos que estão sujeitos à formação acadêmica sob controle e fiscalização do Ministério da Educação". “De agora em diante os músicos do estado de São Paulo não podem mais ser fiscalizados pela OMB e nem tampouco ter a obrigatoriedade da inscrição na mesma”, disse Giannazi em seu pronunciamento na Assembléia Legislativa de São Paulo.

Giannazi fez também uma representação no Ministério Público Federal pedindo a suspensão de vários artigos da Lei 3857/60 - que criou a Ordem dos Músicos do Brasil. Depois de julgada pelo Supremo, a ação pode passar a valer em todo o território nacional, desobrigando músicos da inscrição na entidade. O Acórdão está disponível no site do Tribunal Regional Federal (www.trf3.jus. br). Para quem quiser consultar na íntegra, o número do processo é 2005.61.15.001047- 2.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

domingo, 15 de novembro de 2009

Dona Canô pede desculpas por Caetano

Da Redação da Senhor F:

A família do cantor e compositor Caetano Veloso pediu desculpas públicas ao presidente Lula pela infeliz e preconceituosa declaração do músico. Em texto assinado pelo irmão Rodrigo Velloso, a família, e em especial Dona Canô, fez questão de esclarecer que nada tem a ver com a declaração do mano famoso. Na semana passada, Caetano referiu-se ao presidente Lula como analfabeto, ao mesmo tempo em que teceu elogios ao ex-presidente FHC. O texto abaixo foi publicado no jornal Correio da Bahia.

"Venho a público esclarecer que a recente declaração, feita pelo cantor e compositor Caetano Veloso sobre o Presidente Lula, não expressa, em nenhuma hipótese, a opinião da família Velloso. Sua matriarca, Dona Canô, por meu intermédio, deseja se dirigir ao Governador Jaques Wagner, a todos os brasileiros e, principalmente, ao Presidente da República, com um sincero pedido de desculpas".

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Um mantra: a música como fim

Dia desses me chamaram de derrotado. Foi no meio de um debate, uma argumentação acalorada sobre o que nós, músicos independentes, podemos fazer para conquistar mais público. A pessoa que conversava comigo queria agir, "tomar o destino nas mãos", tocar para milhares de pessoas, e acho que imaginou que teria em mim um aliado. Mas meu discurso de que não vejo muito mais o que fazer além de tentar compor as melhores músicas que sou capaz e apresentá-las da melhor maneira possível, dentro das minhas limitações, a incomodou. Afinal, lá pelas tantas, veio a cacetada: "Você é um derrotado, Beto!"

Não vou dizer que não doeu. É difícil se desapegar verdadeiramente da necessidade de ser considerado um vencedor. Ser chamado de loser, big L, assim, na cara dura, não é moleza. Mas me surpreendi reagindo bastante bem. Senti o golpe, é claro, mas não a ponto de dobrar meus joelhos. Continuei firme nas minhas convicções, tentando explicar que minhas crenças servem muito bem a mim, mas que não acho que todos devem agir como eu. Há muitos rumos a seguir no meio musical. Cada um toma o caminho que acreditar ser melhor. E, se me lembro bem, não xinguei de volta.
O papo, porém, ficou longe de ser uma mera briga. Serviu bastante para refletir. Inclusive, agradeci à pessoa pela conversa, que foi, na maior parte da noite, muito rica e interessante. Dias depois, certamente motivado pelo encontro, me peguei pensando muito sobre o que é meio e o que é fim para mim. E percebi que durante muito tempo, desde o comecinho, aos 12 anos, a música era só um meio. Meio de, um dia, ser amado, ser igual ao Renato Russo. Meio de me sentir o maioral, idolatrado por milhares de fãs. Meio de ter mais autoestima. Meio, no fim das contas, de ser um vencedor.
Aprender a fazer canções, montar bandas, organizar shows, gravar demos, tudo isso era um meio de chegar ao sucesso. Mas o sucesso não veio, como normalmente não vem. Da mesma forma como normalmente não ganhamos na Mega-Sena. E com isso, veio a revolta, a inveja, a indignação. Eu me achava bom, melhor do que muitos que faziam sucesso. Um injustiçado.
Estranhamente, porém, ao contrário do que fiz em outros projetos, não desisti de tocar, de compor, de montar bandas. Comecei a ver que, de alguma forma, a música era necessária pra mim. Não interessava quão grande era a frustração, não pensava em parar. E um dia recebi uma lição maravilhosa. Do melhor tipo, que são essas que a pessoa te dá sem nem perceber que tá te ensinando algo.
Foi num ensaio dos Solitários Incríveis, quando caímos numa discussão sobre se a banda estava dando certo ou não. Minha análise tendia a ser direcionada para fatores objetivos, como quantos shows havíamos dado naquele ano, a recepção da crítica à demo, o convite para tocar nesse ou naquele festival. E daí o Txotxa, com toda sua simplicidade, mandou: "Claro que a banda tá dando certo, a gente tá tocando tão bem juntos, fazendo músicas boas. Pra mim, o melhor jeito de saber se uma banda está dando certo é olhando se ela está fazendo música bem".
Calei. Deixei os outros falarem e comecei a mudar ali minha maneira de ver as coisas. Hoje, sei que o que o Txotxa me apresentou naquele instante foi a percepção de que a música deve ser, antes de um meio, o fim. Tocamos porque queremos fazer música boa. Esse é o objetivo.
Ver a música como fim não elimina, é claro, a possibilidade de ela ser meio para infinitas coisas. Mas ela nunca pode perder seu posto principal de "fim". E foi esse aprendizado que me possibilitou não partir pras agressões mais baixas quando fui chamado de derrotado por alguém que acabara de conhecer. Porque essa noção me dá a certeza de que, se a música é o fim, não posso estar derrotado. Como estaria derrotado se acabo de compor, em parceria com o Ju e a ajuda preciosa do Ataide, a melhor música que já fiz? Como, se essa música me encheu de vontade de concluir logo o repertório do terceiro disco para gravá-lo? Se estou melhorando, como posso já estar derrotado?
Sei que para muitos sou mesmo um derrotado. Sei que muitos se perguntam por que eu simplesmente não desisto, já que depois de todo esse tempo só há 190 membros na comunidade "Beto Só" do Orkut. Não digo que mais reconhecimento não me me deixaria feliz. Claro que deixaria. Mas não é essa a questão. O importante é que, apesar da pressão de sermos vencedores, não podemos esquecer que o "fim" é a música. E nesse aspecto, estou cada vez mais satisfeito. Apesar de alguns dizerem que estou cada vez pior, tenho convicção de que estou cada vez melhor. Por isso, não paro. Por isso, não sou um derrotado.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Cover de Elliott Smith

Neste mês, a morte de Elliott Smith completa seis anos. O gênio morreu em 21 de outubro de 2003 e deixou muita saudade. Por isso, coloco abaixo um vídeo no qual apareço tocando ‘Cupid´s Trick’ com meus antigos companheiros, os Solitários Incríveis Ju, Capa e Txotxa. Foi gravado em 2002, no Festival Goiânia Noise.

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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Boas intenções

Quase ninguém entende por que só
É que a solidão é bem melhor
Pra quem não sabe dizer não
Por não querer nunca frustrar
Só espalhei esperança e ilusão

E agora sou um ferro-velho de boas intenções
Um ferro-velho

Por não querer nunca errar
Meu planos todos adiei
Pior é que não há
Do que me desculpar
Só sou um ferro-velho de boas intenções
Um ferro-velho

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Quer vender disco? Agrade de verdade seu público

Dia desses, respondi por e-mail as perguntas de uma entrevista para um blog. Uma delas questionava por que eu disponibilizava meus discos de graça na rede. Se era por ser um entusiasta da internet e do download gratuito ou por achar que não há mesmo o que fazer, então o melhor era tocar o foda-se. Coincidentemente, dias antes, tinha discutido essa questão com amigos, a partir de uma entrevista que Fred Zero Quatro deu ao G1, tecendo críticas à web 2.0. Resultado: voltei a pensar no assunto.
Fui à minha estante atrás das duas obras que, de certa forma, resumem o debate sobre o tema: ‘A cauda longa’, do editor da Wired, Chris Anderson, e ‘O culto do amador’, do empresário do Vale do Silício Andrew Keen, este último elogiado pelo líder do Mundo Livre S.A. Relendo trechos para rememorar os argumentos dos dois, vi que um não é precisamente a antítese do outro, apesar de o livro de Keen ser vendido como (e em alguns momentos ser de fato) uma espécie de “anti-Cauda longa”.
As abordagens, porém, são um pouco diferentes. Em ‘A cauda longa’, Anderson parece mais interessado em mostrar uma ótima oportunidade de negócios aberta pela internet. Resumidamente falando, ele diz que se dá bem na web quem oferece a maior variedade possível de produtos, apostando nos inúmeros mercados de nicho que a modernidade criou. Ele mostra, com análises e gráficos, que, ao contrário do que ocorre, por exemplo, com as lojas de disco físicas e vídeo locadoras, que veem seus negócios sendo reduzidos ano a ano, empresas como a Rhapsody, de venda de música digital, ou a Netflix, que aluga DVDs pela rede, comemoram o crescimento de negócios.
O segredo? Muita variedade em oferta. Por não precisar ter uma loja física e lidar com a limitação das prateleiras, essas empresas podem oferecer de tudo. A Rhapsody, por exemplo, pode ter músicas de um artista desconhecido como eu e da Madonna e oferecê-las do mesmo jeito. Já o Wall Mart perderia dinheiro usando o espaço limitado de seu estoque guardando um disco meu, que dificilmente seria vendido. A conseqüência é que o Wall Mart perde a chance de realizar milhões de vendas dos inúmeros artistas pequenos e pouco conhecidos que existem hoje no mundo. A Rhapsody não. Ela pode vender uma só música minha em um ano inteiro. Mas, como eu, existem milhares de artistas vendendo uma só música anualmente. No fim do ano, ela terá vendido milhares de músicas que o Wall Mart nem sequer consegue oferecer.
Anderson nos mostra então que as novas tecnologias, que permitem que eu grave meu disco de forma razoavelmente barata e depois a disponibilize pela internet, tem tudo para fazer com que se venda mais música. O que ocorre, porém, é que essas vendas são cada vez mais pulverizadas. O público hoje tem mais opções e pode – e isso é o maravilhoso dos tempos atuais – preferir comprar um disco do Superguidis do que um do Forfun. Anderson dá uma cacetada na indústria dizendo: não é só por causa do download fácil e gratuito que vocês vendem menos discos. É que o gosto do público hoje é dividido mesmo, graças às infinitas possibilidades de escolha. Em palavras menos elegantes que as de Anderson, está mais difícil enfiar essas porcarias goela abaixo do público porque o pessoal tem onde procurar coisa melhor.
Mas Anderson não é o único que tem coisas a dizer. A leitura de ‘O culto do amador’ traz algumas questões sobre as consequências da internet que certamente merecem análise. O foco de Keen está, como já diz o título do livro, na crítica a uma espécie de eudeusamento do conteúdo produzido por leigos. A artilharia do autor se volta para iniciativas como a Wikipedia e blogs feitos por leigos que disputam o público com a Enciclopédia Britânica e o New York Times. Keen argumenta que as pessoas que hoje ganham rios de dinheiro com a internet vendem uma falsa idéia de que é culturalmente vantajosa a enxurrada de conteúdo amador online, que disputa espaço com a produção de especialistas.
Ele cita casos de verbetes na Wikipedia em que leigos insistem em modificar o texto mesmo depois de professores de Harvard terem afirmado que a informação correta era outra. O alerta é: vendem-nos uma idéia de democratização da produção de conteúdo, mas o que fazem é criar um universo onde não se reconhece o valor do conhecimento adquirido por meio da especialização. Assim, podemos estar construindo uma sociedade mais burra, guiada por opiniões sem fundamento algum.
Quanto à música, Keen diz que esse discurso da democratização se manifesta de uma maneira um pouco diferente, mas com resultados igualmente desastrosos. Os entusiastas da internet, ele afirma, dizem que o download livre é a democratização do acesso à música. No entanto, para ele, trata-se apenas de uma forma de roubo que traz prejuízos e inviabiliza uma indústria que, com erros e acertos, nos proporcionou os Beatles, Paul Simon e Michael Jackson. Sem essa indústria, ele alerta, grandes talentos artísticos não poderão chegar ao nível profissional e ganhar pelo que produzem. Estarão fadados a serem eternamente artistas não remunerados, fazendo arte por diletantismo. Que tipo de arte teremos num mundo que não remunera seus artistas, ele questiona, lançando sombras apocalípticas sobre nossas cabeças.
Keen constrói bem seus argumentos, mas confesso que eles não me convencem. Primeiro porque, no último capítulo, que chama de “Soluções’, ele cita uma série de iniciativas já em curso, encontradas pela própria indústria, para usar a internet a seu favor. Ele cita, por exemplo, o serviço eMusic, no qual as pessoas pagam U$ 9,99 por mês para poderem baixar “legalmente” (as aspas são porque o termo ilegal nesse caso me parece mais que questionável) 30 músicas por mês dentre um variado catálogo. Na época em que ele escreveu o livro, 2007, o serviço contava com 250 mil assinantes. Outro dado citado por ele: em 2006, só nos Estados Unidos, foram vendidas 525 milhões de músicas no formato digital. Ou seja, parece que muita gente ainda está disposta a pagar por uma música de seus artistas favoritos. Anderson parece ter razão. Ainda se vende música, mas fenômenos como Michael Jackson tendem a se tornar cada vez mais raros, graças à pulverização de gostos e interesses.
Outra coisa que me faz questionar a visão de Keen é sua ideia de que o compartilhamento de música on line é roubo. Li em uma reportagem na revista Galileu que, meses atrás, a Suprema Corte Americana chegou a uma conclusão interessantíssima: ela recusou o argumento da indústria de que cada download feito via Torrent, Soulseek, eMule etc. poderia ser considerado uma venda perdida. Os juízes americanos disseram o óbvio: quem baixa algo não estaria necessariamente disposto a pagar por aquele conteúdo.
Quer coisa mais verdadeira? Dia desses, senti curiosidade de assistir esse filme de vampiro adolescente, ‘Crepúsculo’. Pensei em baixá-lo. Mas se não houvesse internet, você acha que eu pagaria para vê-lo no cinema ou num DVD? Nem a pau. Já pensou se nós tivéssemos de pagar por cada música que sentimos a curiosidade de ouvir? Isso eu fazia nos anos 80, quando a única fonte de informação que eu tinha era a revista Bizz, que trazia umas 15 resenhas mensais. O disco era barato e dava pra comprar uns três ou quatro por mês. E se algum amigo meu já tinha um LP, levava uma fita cassete pra ele e pedia pra ele copiar pra mim. Hoje é parecido, só que numa escala gigantesca. Foi a proporção que tornou a coisa digna de policiamento?
Agora, para fechar – porque, se eu não agüento mais escrever, imagina que decidiu ler esse texto –, o que falta talvez no discurso de iniciativas como o Música para Baixar é a lembrança de que o artista precisa ser remunerado sim. Ou seja, meu toque é: se das milhares de músicas que você baixou, você gostou muito de um artista, compre a música dele. Dia desses recebi um e-mail de uma pessoa dizendo que queria comprar meu primeiro disco, que está esgotado. Eu disse que não tinha, mas que ele poderia baixar todas as músicas na Trama Virtual. Ele respondeu dizendo que já tinha baixado há muito tempo, mas que queria ter o CD oficial. Essa é uma postura bacana. E é também sinal dos tempos. Quer vender disco? Agrade de verdade seu público.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

sábado, 3 de outubro de 2009

Fotolog atualizado (menu à direita)

Algumas palavras

Entrevista comigo no blog Gafanhoto Jr. Confiram aqui.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Incrível


E no Brasil, temos a menina pastora... tsc tsc

terça-feira, 29 de setembro de 2009

São Paulo

2009 vai certamente ficar na memória como o ano em que dei dois dos shows mais legais da minha vida. Depois da alegria que foi o Rock de Inverno 7, em Curitiba, fui presenteado com uma apresentação no palco do Itaú Cultural, sexta-feira passada. O som de primeira, proporcionado por uma equipe competente e gente fina; a plateia respeitosa e receptiva, que ouviu as músicas em silêncio acolhedor; o prazer de tocar com Frank Jorge e cantar 'Amigo punk'; a felicidade de cantar 'Velho' ao lado dos Lestics Olavo e Umberto; o tratamento VIP do Itaú Cultural, que incluía no camarim as coxinhas mais gostosas que já provei; ter descoberto que tinha gente em São Paulo esperando pra ver um show da gente; ouvir pessoas dizendo que não conheciam o trabalho e que adoraram; os amigos que foram; as gargalhadas depois do show com o Olavo, a Andreia, o Patu, o Ju e o Ataide... É difícil dizer o que foi mais legal.

Pra quem quer saber mais sobre como foi o show, o Marcelo Costa, que tive o prazer de finalmente conhecer, publicou uma matéria no Scream & Yell. E tem mais fotos aqui.

Abraços.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Em São Paulo (e na rede) com Frank Jorge

Amigos, na sexta-feira, dia 25, tocamos em São Paulo, no Itaú Cultural, mais uma vez acompanhados do grande Frank Jorge. Vamos apresentar o show de voz, violão, guitarra (Ju) e violoncelo (Ataide Mattos).

Além de fazer algumas músicas com o Frank, vamos ter o prazer de receber o Olavo e o Umberto do Lestics, que tocarão a linda 'Velho' com a gente.

Pra quem não estará em São Paulo, o site o Itaú Cultural vai transmitir o show ao vivo.

Pra quem pode ir, os detalhes:
Frank Jorge + Beto Só
Sexta, 25 de setembro, 20h
Entrada franca: distribuição de convites a partir das 19h30
Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Conselho

Nunca crie um blog. A não ser que você realmentepouco se lasque para as expectativas alheias. Aí tudo bem. Digo isso porque acho horrível essa coisa de os dias passando e passando e passando e eu sem nada a dizer. Ou a de pensar em coisas que até seriam legais de escrever aqui, mas sentir preguiça e depois pensar: "Puxa, aquela história ficou velha, o blog tá desatualizado e eu sem nenhuma ideia justo agora que estou com disposição para escrever".

Escrever sobre sua falta de assunto também não é saída. Essa é a solução mais clichê do mundo, já usada por qualquer colunista meia-boca que tem por aí. Então, não comece um blog. Não ceda ao entusiasmo que te move a entrar no blogger ou no wordpress e criar um site desses. Sério, você vai se arrepender.

Volto daqui a alguns dias (ou semanas). Ando em crise sobre o que penso das coisas.

PS: Estou mais para ouvir no momento. Abaixo, algo que me faz muito bem ouvir.


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

No Multishow

O programa Bastidores do Multishow traz nesta semana a cobertura do Rock de Inverno. As reprises são neste sábado, às 7h, e no domingo, às 13h30. Assistam lá.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Muito obrigado



Chego hoje a Brasília. Escrevo do Aeroporto de Congonhas, enquanto espero meu voo, marcado para daqui a duas horas. Na memória, além de bons e relaxantes dias em São Paulo e no Rio de Janeiro, o show de Curitiba, no último dia 24. As lembranças me fazem ter certerza de uma coisa: o mundo virtual é legal, mas a realidade é fantástica.

Cada vez mais tranquilo com meus status de músico independente, agradeço todos os dias à internet, pelo contato que ela me proporciona com ouvintes, às vezes fãs. A certeza de que sou ouvido chega por meio de textos descobertos via Google, números que aumentam pouco a pouco em MySpaces, YouTubes e Tramas da vida, e-mails e comentários neste blog que me deixam feliz da vida. Algumas dezenas, talvez centenas, de pessoas que retornam os sinais lançados via mundo virtual.

Mas ter a chance de olhar, de um palco, uma pequena porção dessas pessoas, identificar seus rostos e tocar para elas é fenomenal. Como se fosse a confirmação de algo no qual acreditava, mas ainda tinha dúvidas.

Nossa participação no Festival Rock de Inverno 7 não poderia ter sido mais legal. Bom, talvez se o frio não tivesse me deixado gripado e com a voz abalada, ou se eu não ficasse nervoso e tivesse acertado todos os acordes de 'Abre a janela' (uma espécie de bis na apresentação), teria sido melhor. Mas esses detalhes pouco importam. Ver minhas expectativas de tocar para quase ninguém, pelo fato de sermos a última banda do primeiro dia, serem desfeitas quando começamos o show foi muito recompensador.

O que resta, além das lembranças bacaníssimas, é a vontade de agradecer, com sinceridade, ao Ivan e a Adri, pelo convite, ao Luigi e equipe, pelo tratamento e som de primeira, aos músicos que me acompanharam nessa festa, às bandas que subiram para cantar 'Gloria' com a gente e a quem esperou, cantou junto e pediu pra ouvir essa ou aquela canção.

Eu andava bastante inseguro com shows desde que tocamos em Belo Horizonte, em um lugar cheio de gente, mas com a grande maioria dos presentes nos ignorando. Curitiba lavou minha alma. Aquele pequeno punhado de gente me fez achar que a coisa toda é de verdade e que vale muito à pena. Que venham outros. Mesmo que demorem, não há problema. Aprendi a esperar e a aproveitar esses bons momentos. Ainda bem.

Beijos.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Reflexões antes de partir para Curitiba

"O caminho é longo, mas não tenho pressa / Nem tenho certeza / Se você quiser e vier / Então venha." Quando comecei a escrever a letra de 'Vida boa não é vida ganha' eu não estava pensando em uma história de amor, de homem e mulher, como os demais versos que foram surgindo acabaram por dar a entender. Pensava em meu irmão e parceiro, Ju, e na angústia que sentíamos com a dúvida se um dia seríamos ou não bem-sucedidos na música -- o que naquela época significava ser famoso. Avisava-o no começo da canção que havia decidido seguir a passos lentos e que não tinha certeza de êxito, mas que gostaria de tê-lo ao meu lado.

Quando era moleque, eu sonhava com o estrelato. Assistia a vídeos do The Doors, especiais com os Smiths, ia a shows da Legião Urbana e me imaginava um Morrissey, um Renato Russo ou um Jim Morrison, cujos trejeitos cheguei a imitar muito bem. Se bem que, por eu ser gordinho, contorcer-me no palco como meu ídolo me deixava mais engraçado ou afrescalhado do que provocativo e sensual. O sonho de ser um rock star, porém, era proporcional à frustração e à ansiedade. A cada sinal de falha, que podia ser a não seleção para um show ou o sucesso de outras bandas que não a minha, ficava infeliz e derrotado.

Um dia, nos idos de 1997, fui tocar em um bar junto com uma banda daqui de Brasília que havia, duas semanas antes, se apresentado no programa do Jô Soares. Eles mexiam os pauzinhos como podiam e de forma bem esperta para conquistar espaços na mídia, e eu ficava intrigado sobre como eles conseguiam aquilo tudo. Conversando com os integrantes, descobri que o vocalista havia largado o emprego e se dedicava só à banda, porque a levava a sério. Perguntei-me se não deveria fazer o mesmo. Menos de dois anos depois, aquela banda havia acabado e o vocalista, desistido da carreira musical.

Na hora, tive a grande sacada da minha vida: é preciso controlar a ansiedade. Se a coisa demorar a acontecer, não verei como derrota, mas como parte do caminho, que deve ser longo mesmo. Achei por bem avisar meu parceiro dessa nova postura diante das coisas (que incluía não largar meu emprego nem partir pra um tudo ou nada a curto prazo) e compus 'Vida boa...', na qual aproveitei pra falar sobre outras dúvidas e medos também. A mensagem que importava pra mim na música, porém, era essa: controlar a ansiedade.

Desde então, tenho feito, de maneira disciplinada, esse exercício. Quando caio na besteira de contar o tempo que já passou, de me perguntar se não estou meio velho pra ficar tocando em porões mal iluminados e mau cheirosos ou comparar minhas conquistas com a de outros, lembro da epifania de anos atrás e digo a mim mesmo: "sem ansiedade, olha o que você já conseguiu..." Não é fácil, mas tenho certeza que só assim consegui chegar até aqui e ter vivido um bando de coisas que aquela banda que se apresentou no Jô há mais de 10 anos não pôde viver.

Sou feliz hoje. Assim como sou. Jornalista, músico, vivendo petinho da minha família, namorando a Carol, compondo e gravando meus discos. Estou indo para o terceiro!, e isso parece inacreditável. Viva a Senhor F Discos! Agora, esta semana, estou recebendo mais uma dessas recompensas fantásticas. Vou tocar no festival Rock de Inverno 7, em Curitiba (vejam o link do site no post abaixo).

Lembro que quando lancei o meu primeiro disco, em 2005, tinha uma grande expectativa a respeito de festivais. Achava que rodaria o Brasil lançando meu disco, mas não foi assim que as coisas rolaram. Poucos festivais pareciam achar que o som que faço se encaixava no evento (valeu, Monstro e Goiânia Noise!), ou então eles simplesmente não gostavam do que eu fazia. Mas aí eu pensei de novo: "ah, deixa rolar que um dia alguém vai achar que vale a pena levar você pra tocar".

Depois disso, algumas manifestações de que eu poderia ser chamado para festivais em outros estados apareceram, mas foi mesmo Ivan e Adriane Perin que me ligaram e disseram: "Vem!" E vou feliz pra caralho. E não porque é um festival fora de Brasília. Mas porque é um festival com a minha turma! O Rock de Inverno parece ser o reduto de caras assim como eu, que gostam de ouvir e compor baladas, muitas vezes tristes. Que parecem ter se acostumado a usar a música pra pensar na vida.

Vou tocar com os maravilhosos Lestics, que têm letras fantásticas, com a emocionante Hotel Avenida, que me soa como o trabalho mais maduro que já ouvi do Ivan e do Giancarlo Rufatto, com o sempre bem-sacado Oneide (agora com Diedrich e os Marlenes -- ouçam 'Monte Carlo'), com o bacana Nevilton, e com meus ídolos de adolescência Fellini (ainda estou pensando se levo os discos pra eles autografarem ou não -- é mico?). A recompensa é essa, fazer parte dessa turma. Sexta-feira será legal por isso! Ainda mais porque vou com uma tropinha de amigos pra lá de competentes: Ju, Fernando Brasil, Rinaldo Costa e Txotxa. Tô bem. Mais uma vez.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Em Curitiba



Tocamos na sexta-feira, 24 de julho. Para saber tudo do Rock de Inverno 7, visite http://www.rockdeinverno.com.br/.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Questionário


Na semana passada, o Jornal de Brasília enviou algumas perguntas para mim e o Frank Jorge, por conta do início do projeto Solitários Incríveis. Como não couberam todas as respostas, coloco a íntegra da minha parte (isso é que é falta de inspiração para um novo post!).

O que é ser um “solitário incrível”?

Caramba, não estava preparado para essa pergunta. Mas acho que o ser humano é, por essência, um solitário incrível. Somos únicos e especiais, pelo menos eu acho.

O que ouve um “solitário incrível”?
Frank Jorge e Beto Só.

Existe uma ponte Porto Alegre – Brasília na música brasileira?
Deve ter. Algumas das coisas que mais gosto de ouvir atualmente vêm de Porto Alegre. O próprio Frank e o Superguidis, que é de Guaíba, na verdade. Me identifico muito com o Nei Lisboa também, que despertou em mim a vontade de ser um cantor e compositor solo.

O formato acústico é solitário por excelência? Ou não necessariamente?
O acústico radicalizado é um cara e seu violão, né? O acústico chama a atenção para a composição, para a canção, que na grande parte das vezes é criada de forma solitária. Mesmo quando componho em parceria, preciso de um momento sozinho.

Quem, nessa ponte Brasília-Porto Alegre, você admira musicalmente (pode citar de lá e cá)?
Já citei ali atrás minhas preferências no Sul. Em Brasília, cuja cena conheço mais, admiro muita gente. Disco Alto, Watson, Cine Hits e Phonopop são minhas bandas prediletas atualmente. Pra esse projeto, já convidamos o Carlos Pinduca, pra mostrar as canções que compôs quando estava no Maskavo Roots e no Prot(o). Gosto muito do Cláudio Bull (Superquadra) também.

Pampa e cerrado: o que sai desta união?
Difícil essa. Parece uma união complicada, algo que já tem uma tradição com algo que ainda busca sua identidade. Os gaúchos têm um orgulho de serem gaúchos que os brasilienses ainda não conhecem. Mas Brasília tem a chance de apontar para o novo. Por isso, acredito que seja uma troca saudável.

Diga 3 canções de amor perfeitas (pode justificar brevemente)
“Between the Bars” (Elliott Smith). Etílica e esperançosa. Linda!
“Far from me” (Nick Cave). Realista e emocionante. O amor do começo ao fim.
“Why can´t I be you” (The Cure). Feliz e divertida como a paixão correspondida.

Cite 3 canções de fossa perfeitas (pode justificar brevemente)
“De tanto amor” (Roberto e Erasmo Carlos). A minha preferida deles.
“For no one”. É Lennon e McCartney, né? Arrasadora.
“C’mon Billy” (PJ Harvey). Amor feminino, desesperado e intenso.

Como vai ser o mundo sem Michael Jackson daqui para frente?
Acho que igual. Não via ele como alguém que estava fazendo a diferença, inovando. O legado dele já foi deixado.

Qual a sua predileta do Michael Jackson?
Ben.

Como anda o mercado da música em sua cidade?
O mercado aqui é no máximo uma feirinha hippie.

Quais seus últimos projetos?
Esse show acústico já é a preparação do meu próximo CD, que quero gravar no ano que vem. Ele será gravado nesse formato e com esses músicos (Ataide Matos, no violoncelo, Ju, na guitarra, e eu, na voz e violão). Estamos preparando músicas novas que vão sendo incorporadas no repertório do show à medida que ficarem prontas até termos todas as canções do disco finalizadas.

O que você andou lendo que tenha influnciado sua música?
“Amor líquido”, do Zygmunt Bauman me marcou e resultou numa canção dessa safra nova, chamada “Rumo ao futuro”.

Como a temperatura e o clima de sua cidade influencia sua obra?
Quando tá frio, gosto de dirigir mais devagar, ouvindo músicas tristes. Acho que fico mais animado pra compor.

É mais fácil (melhor, pior) compor na secura ou na umidade?
No seco.

Se tivesse a chance de ser outra pessoa durante uma semana: quem seria?
Ficaria com medo disso e recusaria a oferta.

Qual a canção de outrém – se pudesse escolher para si – você gostaria de ter feito? Por quê?
Eu gostaria de compor “O Vencedor”, do Los Hermanos, que tem uma letra provocativa, fundamental pros dias de hoje. Também queria ter composto “Saturno”, música do Fernando Brasil e Carlos Pinduca, do novo disco do Phonopop. É linda demais. O irônico é que o Fernando me mandou a música para eu por a letra e não consegui. O Pinduca fez e mandou bem demais.

Cite um álbum que represente o seu “eu”.
É o meu primeiro mesmo, Lançando Sinais, de 2005. Tem umas letras tão confessionais que dá até vergonha hoje em dia.

Cite um filme que é o roteiro (ou quase) de sua vida.
“O mito do orgasmo masculino” (John Hamilton). Minha vida e angústias até os meus 30 anos mais ou menos.

Que episódio da múisca gostaria de ter vivenciado de pertinho?
Acho que nenhuma em especial. Gostei de acompanhar o rock brasileiro dos anos 80. Não sou tão tarado assim por ídolos das antigas, sonhando em vê-los tocar ao vivo. Lamento um pouco não ter visto Elliott Smith ou Smiths ao vivo, mas nada muito grave.

domingo, 5 de julho de 2009

Abraço ao Cristian, que foi ver a gente tocar hoje.

sábado, 4 de julho de 2009

Show domingo

Amigos, tocaremos (ju, ataide e eu) no Oi Expressões neste domingo. Será ao meio-dia em ponto, no Parque da Cidade. Palco roxo perto do Parque Ana Lídia. Até lá.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O marido da cabeleireira

Andava com saudade dessa dança. Queria dançar assim. Na verdade, às vezes faço isso escondido...




quinta-feira, 28 de maio de 2009

Pílulas: pequenos fatos dignos de nota

O YouTube tá me sacaneando que nem meus amigos! Ao digitar "beto só" na busca do site, vejo na tela a seguinte sugestão: "Tente também: beto only".  

quarta-feira, 13 de maio de 2009

'O tempo contra nós': 5 mil downloads

Pra quem montou a primeira banda numa época em que fazer sua fita demo circular era a coisa mais difícil do mundo, a internet é sempre uma surpresa. Levantamento da revista Senhor F sobre o número de downloads de músicas feitos na seção Senhor F Virtual aponta que a nossa 'O tempo contra nós' foi a música mais baixada no site em 2008, com 2.194 downloads. Desde que foi disponibilizada na Senhor F, em dezembro de 2006, a música somou 5.048 baixas. Só este ano, já foram 1.280.

Eu me tornei Beto Só em 1996, quando criei a banda Beto Só e os Solitários Incríveis. Gravei uma demo com todo o dinheiro que juntei dando aulas de inglês, lançada no ano seguinte. Na época, a nossa música que fazia mais "sucesso" se chamava 'Chico Buarque'. No show de lançamento, vendemos 23 fitas. Depois, deixei cinco demos numa loja de discos. Mais três foram vendidas. Vinte e nove pessoas adquiriram a gravação de 'Chico Buarque' no ano em que ela foi lançada. Um tempo atrás, coloquei todas as músicas gravadas pelos Solitários Incríveis em uma página da Trama Virtual. Desde então, 'Chico Buarque' foi baixada 54 vezes. Mais de 10 anos depois...

Na Rolling Stone passada, Humberto Gessinger, dos Engenheiros do Hawaii, pergunta se a internet é uma boa pra quem não é famoso. Os números não mentem, é uma ótima.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

'C_mpl_te', o segundo do Móveis

A primeira faixa de 'C_mpl_te', segundo disco dos Móveis Coloniais de Acaju, traz uma agradável sensação de que algo está diferente na banda brasiliense mais bem-sucedida dos anos 2000. 'Adeus' é uma terna e quase melancólica música sobre reencontros, curtinha para os padrões "moveininanos", com timbres atuais. Dessas que dá vontade de ouvir de novo. 

Ela, como percebemos na audição do CD, lançado pelo projeto Álbum Virtual, da Trama, destoa um pouco das outras 11 músicas do repertório. Mas a sensação que ela traz de que algo mudou não está errada. O Móveis continua Móveis, mas está melhor. Dizer que os caras passaram por um amadurecimento pode dar uma ideia errada do que eles fizeram nesse sucessor de 'Idem'. O termo mais correto talvez seja "polimento".

Em 'C_mpl_te', a banda consegue respeitar as composições, deixando as músicas surgirem sem tantas mudanças abruptas de ritmo, sem a colagem de diversas partes que faziam as faixas do CD anterior às vezes parecerem várias em uma só. O resultado é mais pop (o que é bom!) e serve para o Móveis dizer: "nós não somos apenas bons músicos, nós sabemos fazer canções". Exatamente o que a bela faixa de introdução nos diz: vem aí um disco de canções.

Algo me diz que essa escolha vai levar a banda mais longe, alcançando um público ainda maior. Músicas como 'O Tempo', com um refrão bem grudento (e que tem uma bateria maravilhosa e um bem-vindo piano mais aparente) e 'Falso retrato (u-hu)' ajudarão nesse caminho. Se há pecados nesse disco, talvez sejam dois: o novo arranjo de 'Sem palavras', já conhecida dos shows, no qual uma das linhas de metais mais emocionantes que a banda já criou aparece diluída (talvez porque remetesse a Los Hermanos -- mas era bonita de lascar...) e um excesso de felicidade. Mas que tipo de gente acha excesso de felicidade defeito? Deve ser alguém bem sozinho...   

terça-feira, 5 de maio de 2009

Moretti + Cohen

Faz um tempo já, escrevi alguns textos falando sobre a relação da música com o cinema. De propósito, "esqueci" de mencionar uma das cenas mais legais onde imagem e canção se juntam para formar um desses momentos inesquecíveis da sétima arte. O "esquecimento" se deu por uma ignorância minha. Não sabia qual era a música que compunha a cena em questão e não consegui descobrir fazendo uma pesquisa pela internet. Mas agora sei, graças ao santo YouTube.

O bom é que posso reparar minha falha anterior. O chato é que tenho de admitir que minha ignorância era imensa. A música é 'I´m your man', cantada por Leonard Cohen. E pelo jeito, é uma das mais conhecidas dele, pois virou título de filme. Mas poder lembrar a cena em que Nanni Moretti passeia de lambreta pelas ruas de Roma, em 'Caro Diário', compensa a vergonha diante de minha lacuna musical.

O filme do italiano é um dos que me inspiram mais carinho. Lembro até hoje da minha grata surpresa ao assisti-lo pela primeira vez no cinema da Cultura Inglesa. Um humor leve, crítico e ácido ao mesmo tempo, raro de encontrar. Poucos dias depois, levei meus melhores amigos ao cinema e o assisti de novo. Fiz isso com poucos filmes na vida.

Se você ainda não viu, veja uma palhinha abaixo. Se já, provavelmente vai gostar de rever. Cortesia do santo YouTube.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Tocamos amanhã

Ataide, o revolucionário. Ou Beethoven encontra Nick Cave

Amanhã, quarta-feira, é dia de recomeço. A apresentação no Jogo de Cena marca a estreia de um show que vem sendo preparado há cerca de três meses, com uma nova formação: Ju, na guitarra; eu na voz e violão; e a presença especialíssima de Ataide Matos, no violoncelo. Professor da Escola de Música de Brasília, lutier, com algumas décadas dedicadas à música erudita, Ataide é uma figura rara. Raríssima. Não só pelas histórias surreais e divertidíssimas que coleciona -- que vão de acidentes inusitados durante apresentações a experiências com projeção astral. O que também o torna especial é a coragem de olhar sem preconceitos para a música popular e procurar, como ele mesmo diz, "aprender" com ela.

Ataide gravou violoncelo em algumas músicas de 'Dias mais tranquilos', meu segundo disco. No começo do ano liguei para ele e pedi a indicação de algum aluno que pudesse participar desse novo show, em formato quase acústico. Pensava que talvez pudesse encontrar algum jovem violoncelista que gostasse de ouvir rock e quisesse fazer parte de um projeto assim. Para minha feliz surpresa, Ataide indicou ele mesmo. Aceitei, é claro. Mas morrendo de medo. Afinal, o que um "músico de verdade" (expressão que ele odeia, por sinal) pensaria das composições que crio em parceria com o Ju? O cara que conhece peças de Mozart, Beethoven, Bach e outros nomes dos quais nem ouvi falar não acharia tudo muito primário?

Passadas algumas horas de ensaio, entre uma história hilária e outra, veio uma confissão que eu nunca imaginaria ouvir. Ataide disse que estava nervoso de tocar com a gente, com medo de não conseguir. A música popular, do jeito que as bandas de rock estão acostumadas a fazer, com arranjos sendo criados coletivamente, muitas vezes na base do improviso, era um universo totalmente desconhecido para ele. Daí o receio de não dar conta. Confessado o medo que eu e o Ju também sentíamos, a conversa se tornou franca e muito esclarecedora.

Ele disse que estava em busca de uma nova relação com a música, na qual o artista não seja só um repetidor, mas um criador. Coisa que nós, roqueiros invocados, nos metemos a fazer assim que aprendemos os dois primeiros acordes no violão. Os ensaios com Ataide serviram, então, para aumentar, e muito, minha autoestima. Ele me fez ver que todos esses anos compondo e tocando em diversas bandas me ajudaram a desenvolver uma espécie de saber intuitivo, um domínio de uma forma de cultura popular bastante rica. É bizarro ouvi-lo comparar as linhas de violoncelo que criamos (o Ju bem mais que eu) com estruturas usadas por compositores clássicos. "Esse recurso melódico era muito usado por Beethoven", ele solta de vez em quando, para nosso espanto e constrangimento. "Estamos só tentando imitar o Nick Cave", respondemos.

O que mais admiro na postura de Ataide é a busca de uma nova forma de ensinar música para seus alunos. Ao topar fazer rock com a gente, ele está na verdade aprendendo como funciona a música popular para, depois, tornar o estudo do violoncelo algo mais atraente para seus jovens estudantes. Quantos músicos não desistiram das aulas tradicionais porque não aguentaram o saco de seguir métodos rígidos que insistem na repetição e não estimulam a criatividade? Não seria bom um professor que te ajudasse a ver a relação entre Beatles, Luiz Gonzaga e Mozart? É o que ele tem buscado fazer. E acaba enfrentando resistência de colegas que insistem em colocar o erudito em um nível superior ao popular. Nesses anos todos de rock, nunca encontrei alguém tão punk e revolucionário como Ataide. É uma honra tocar com ele.

No show de amanhã, faremos só três músicas. Mas a partir de maio faremos apresentações completas, que incluirão duas músicas inéditas, compostas recentemente. Espero ver vocês na plateia em alguma delas.

Abraços.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Adeus ao velho Escort

Hoje, numa tarde chuvosa e cinzenta, vendi meu velho Escort. Não descreverei aqui alguns dos momentos memoráveis que passei com ele nos últimos 15 anos porque estou em uma campanha para ser menos piegas -- mas acho que só estou ficando mesmo é com menos assunto. :-)

Agora me dei conta de que não tirei nenhuma foto do meu antigo carrinho... Então deixo aqui a música na qual o menciono, gravada no meu último disco. A partir de hoje, perambulo pela cidade num novo Ka. Menos charmoso, mas bem mais confiável.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Molezinha

Os dois discos que lançamos estão disponíveis para download, na íntegra, na Trama Virtual. É só clicar no link disponível no menu à direita.

E obrigado por ouvirem!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Uma das (várias) lições dos Móveis

A conversa com um amigo hoje de manhã me fez ter ainda mais certeza que os Móveis Coloniais de Acaju são mesmo o principal nome do rock de Brasília nos anos 2000. A discussão não é somente estética. Lista de melhor banda cada um pode ter a sua. Mas, além de ter um controle de qualidade elevado, os Móveis conseguiram cativar um público fiel, fazer escolhas acertadas de gerenciamento de carreira e expandir a admiração por seu trabalho além das fronteiras do DF como nenhuma outra banda brasiliense nesses primeiros 10 anos de século 21.

O lançamento do segundo disco dos caras, 'C_mpl_te', só tende a confirmar isso, quando eles dão um passo que parece ser do tamanho exato de suas pernas, lançando pela Trama. Mas é uma frase que li na crítica sobre o CD publicada no Correio Braziliense de hoje que eu queria destacar aqui. Lá pelas tantas em seu texto, o jornalista Tiago Faria diz: "Como eles conseguiram (um excelente disco)? Com naturalidade, sim, mas não dá para descontar o auxílio do (produtor) Carlos Eduardo Miranda. Um dos maiores equívocos do rock independente brasileiro é subestimar a importância de um bom produtor".

Na mosca, Tiago. Esse é um dos passos fundamentais que o meio independente brasileiro precisa dar. O caso dos Móveis é emblemático. No primeiro disco, conseguiram trabalhar com Rafael Ramos e, agora, com Miranda. Os dois produtores podem não ser ideal para sua banda ou para mim. Mas um bom produtor é essencial para 99% dos artistas -- e os independentes não são exceção. No caso dos Móveis funcionou e o principal do exemplo deles é a preocupação em buscar um bom produtor. Por outro lado, há vários exemplos emblemáticos extamente opostos. De discos que possuem um belo repertório, mas sofrem com uma produção pobre, que pode levar desde erros de timbragem (ou alguns ainda mais graves de execução mesmo) à falta de conceito, ou melhor, unidade.

Não me esqueço do dia em que ouvi pela primeira vez meu primeiro disco, 'Lançando sinais', gravado e produzido por Philippe Seabra. Meu primeiro comentário foi: "Está tão bom que não parece um disco meu". É claro, meus discos anteriores eram EPs e demos "produzidos" pelos donos dos estúdios que alugávamos para gravar. Nâo havia um cara de fora, com talento ou bom ouvido, para apontar coisas que não percebíamos, para fazer o controle de qualidade ficar num nível mais alto. Quando o Philippe fez isso por nós, o resultado foi surpreendente, mesmo para mim e para a banda que me acompanhava.

As novas tecnologias nos permitem gravar em casa, de forma rápida e fácil e cada vez mais barata. Mas o processo de dar forma a um álbum é muito mais complexo que simplesmente dominar softwares modernos. Claro, todos ainda estamos aprendendo. Um cara que hoje só grava uma banda pode se tornar daqui a pouco um belo produtor. Mas se quisermos fazer a diferença -- e certamente, do jeito que as coisas estão, o mundo precisa que façamos a diferença -- temos de ser exigentes. E não temos sido, em grande parte das vezes, no que diz respeito à produção.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Um pouco sobre Milk e os gays

Eu já havia achado, assistindo à cerimônia do Oscar 2009, o discurso do roteirista Dustin Lance Black, premiado por 'Milk', o mais bonito da noite. Pela carga confessional e emotiva, de longe mais relevante que o de Sean Penn, por sinal também muito bom. Mas uma notícia que li no Correio Braziliense no domingo passado fez com que eu passasse a valorizar ainda mais a fala de Dustin Lance e o filme que conta a história do ativista gay e político Harvey Milk (sobre a qual, admito, eu era totalmente ignorante).

A matéria do Correio mostrava que, no domingo que passou, a resolução do Conselho Federal de Psicologia do Brasil que proíbe terapeutas de tratar a homossexualidade como doença, oferencendo "cura" aos pacientes, completou 10 anos. Ou seja, só a partir de março de 1999 passou a ser inaceitável que um psicólogo diga que pode fazer com que alguém deixe de ser gay. E, pasmem, a decisão foi pioneira no mundo, sendo seguida depois pelos conselhos de outros países.

Se até psicólogos podiam tentar "curar" os gays, o que esperar de pais que cresceram envoltos em medo e precoceito? Me dar conta disso fez com que a coragem de Milk de dizer a tantos gays que não havia nada de errado com eles e que Deus os amava se tornasse ainda mais admirável. Assim como a história do jovem roteirista, que sonhava em levar às telas a história do homem que deu a ele esperanças de poder viver uma vida normal e feliz, em paz com sua orientação sexual.

Pra mim, Dustin Lance foi muito feliz quando inseriu no filme o personagem de um jovem adolescente que liga para Milk dizendo que seus pais pretendem interná-lo por ser gay. Milk então diz ao garoto que fuja de casa, procure amigos que o aceitem e não deixe que seus pais o tratem como uma aberração. O garoto diz então que não pode fugir. A câmera se afasta e descobrimos que ele é cadeirante. Temos ali um símbolo de todos nós, que podemos nos paralisar frente ao medo de enfrentar um mundo que nos quer oprimir, seja por qual motivo for.

Muito provavelmente, Dustin se sentiu alguma vez na vida limitado como aquele personagem. Todos nós já nos sentimos assim. Mas, belamente, o adolescente aparece mais uma vez no filme para nos mostrar que essas barreiras -- externas e internas -- são superáveis. (Re)vejam o discurso de Dustin. Vale a pena.

Abraços.

sexta-feira, 20 de março de 2009

"O" show

Indo pra São Paulo amanhã, ver show do Radiohead no domingo! Hoje saiu uma matéria no Correio Braziliense da qual participei. Confiram abaixo. Abraços!

Agonia e êxtase

Tiago Faria e
Daniela Paiva

Da equipe do Correio

Nas entrelinhas de cada um dos álbuns do Radiohead, uma mensagem subliminar alerta os fãs: espere pelo imprevisível. O talento para se reinventar é a força vital de uma das bandas de rock mais inventivas — e surpreendentes — de que se tem notícia. Por isso mesmo, que ninguém se apresse a especular sobre o formato do show que os ingleses apresentam este fim de semana no Brasil — hoje à noite no Rio de Janeiro e domingo em São Paulo. No México, há uma semana, o quinteto deu provas de simpatia e bom humor ao resgatar hits como Creep e My iron lung. Em entrevista ao Fantástico, o guitarrista Ed O’Brien listou semelhanças entre a obra-prima Ok computer, de 1997, e a poesia melancólica da bossa nova de João Gilberto. Alguma coisa está fora da ordem?

Felizmente, não. Desde o início dos anos 1990, as guinadas criativas da banda de Oxford foram recebidas com misto de espanto e excitação. Se a estreia Pablo honey (1993) soava como uma resposta inglesa para a catarse do grunge de Seattle, The bends (1995) desfiava versos ainda mais doloridos, espelhos para as tensões do fim do milênio. Mas a grande virada chegaria dois anos depois, com o cultuado Ok computer. A segurança conquistada por sucessos como High and dry e Fake plastic trees permitiu uma ousada fusão de elementos de rock e eletrônica, que seria aprofundada no minimalista Kid A (2000). Entre o jazz e o pop, e depois de Amnesiac (2001) e Hail to the thief (2003), o Radiohead encontraria o calor da sensualidade no recente In rainbows, de 2007. Desde o começo, uma aventura sonora sem lugares-comuns.

Musicalmente, o Radiohead gerou filhotes como Coldplay, Elbow, Liars e Travis. Entretanto, provocou terremotos ainda mais barulhentos graças a uma atitude de integridade artística (o vocalista, Thom Yorke, prefere a reclusão ao status de celebridade) e à forma inteligente como confrontou uma decadente indústria fonográfica. Em 2007, deu o golpe de misericórdia ao lançar In rainbows via internet e com preço definido por cada fã. “Eles influenciaram uma geração inteira”, resume Beto Só, com ingresso comprado para o show de São Paulo.

O músico brasiliense admite ter bebido diretamente na sonoridade dos ídolos. “O que mais me atraiu neles foi a mistura de psicodelia com canções de apelo pop”, diz o compositor, que elege Ok computer como o favorito. “Eles sempre se renovam musicalmente e com isso acabam sugerindo caminhos e sonoridades novos, sem perder a sintonia com seu público”, observa. Para exemplificar essa postura desafiadora, Beto lembra da performance do Radiohead no Grammy Awards deste ano. “Enquanto o Coldplay fez uma apresentação-padrão, cantando junto com um rapper, o Radiohead veio com um arranjo novo para a música deles (15 step), com sopros e percussão”, compara.

Mesmo com diferenças sonoras, não são raros os fãs na cena brasiliense do rock e da eletrônica. “O Radiohead começou como uma banda comum de um sucesso só (Creep). Ninguém achava que passaria daquilo. Mas eles conseguiram criar uma sonoridade única de vanguarda, que se renova com os anos”, afirma o DJ Hopper, que reconhece a inspiração no tempo em que tocava no Low Dream, nos anos 1990. “Foi uma influência forte. Essa coisa de colocar suavidade e agressividade em uma música ao mesmo tempo”, lembra. Ok computer também ocupa o lugar mais alto da lista de preferidos do músico. “A experimentação deles com barulhos e música eletrônica, apesar de não ser novidade na época, foi bem diferente de tudo e acabou virando referência”, completa Rafael Monstro, guitarrista do Disco Alto.

Valor artístico
Para o DJ de rock Montana, que torce para ouvir Paranoid android e Reckoner no Brasil, a importância do Radiohead está no “valor artístico” dos álbuns. Na discografia, fica com The bends, o primeiro álbum deles que ouviu e comprou. “Na pista, geralmente toco Just e uma versão do The Twelves para Reckoner”, conta. Até quem não se diz fã, como Fábio Pop, do Club Silêncio, quer conferir a apresentação. “Decidi ir a esse show como fã de música. Acho que o Radiohead é a última das grandes bandas do século passado, depois do Nirvana. E a última das grandes bandas que surgiram, também”, explica.

O público brasileiro esperou 15 anos para assistir ao show do grupo, que terá abertura de Los Hermanos e Kraftwerk. Para compensar o atraso, eles prometem um set generoso, de mais de duas horas de duração, com faixas sacadas de todos os discos. A relação tumultuada com os palcos parece ter ficado no passado. Depois do sucesso de Ok computer, o Radiohead quase se separou durante a turnê Against demons, atormentado por pressões comerciais. A tempestade cedeu lugar a um período mais ameno, de independência e sutilezas. A angústia permanece afiada — mas a viagem ao Brasil promete cumprir expectativas dos fãs. O que não deixará de contar como surpresa.

terça-feira, 3 de março de 2009

No 'Cria da Cidade'

Amigos, convido vocês a assistirem uma pequena matéria comigo para a seção 'Cria da Cidade', produzida pelo jornalista Sérgio Maggio e que vai ao ar no site do Correio Braziliense e também na TV Brasília. Para assisitr, vá à parte de vídeos da página do Correio e procure o vídeo no dia 25 de fevereiro.

Reparem na camiseta do Elliott Smith! Presente da minha super-irmã, Rô. :-)

Abração!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Baladas

Foi lendo 'Seis propostas para o próximo milênio', de Ítalo Calvino, que topei com uma frase que se tornou referência para mim: "A melancolia é a tristeza que se tornou leve". Para Calvino, a leveza deve ser um dos nossos objetivos quando escrevemos. Ela é superior ao peso. Da mesma forma, a melancolia ultrapassa a tristeza. Desde então, sempre que me chamam de melancólico, sorrio. De triste, franzo a testa.

Lembrei disso agora, depois de ler no blog de Marcelo Costa, editor da Scream and Yell, uma discussão sobre quais seriam as melhores baladas do rock nacional dos anos 2000. Na relação, várias canções que têm o poder de nos deixar felizes e molhar as bochechas ao mesmo tempo. Afinal, as boas baladas parecem ser a materialização da melancolia, essa tristeza quase gostosa que adoramos cultivar para não perdermos contato com a poesia do mundo.

Talvez esteja na diferença entre melancolia e tristeza a explicação sobre a pobreza estética do emo... não sei. Mas isso não importa neste momento. Queria mesmo deixar a dica da lista feita pelo Marcelo, que inclui a nossa 'O tempo contra nós' -- também citada numa listona que o pessoal do Alto Falante postou por lá. Vocês podem também participar do debate, que tá bacana.
Abraços!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Disco Alto

O Disco Alto é o que posso chamar de banda-irmã. Sempre tive uma afinidade estética e emocional com eles, desde que os vi pela primeira vez em um show no Space Bar. Jà fiz cover deles e fiquei muito feliz quando eles tocaram 'Isadora' em alguns shows deles.

É a banda em que hoje toca o Bruno Sres, um dos guitarristas mais criativos que já tive o prazer de ver tocando e que me ajudou a gravar o 'Dias mais tranqüilos'. É a banda também do querido Paulo Renato e do talentoso Rafael. O amigo Rinaldo já tocou com eles também.

Enfim, tem muita coisa legal que me liga ao Disco Alto, mas o principal são as músicas, sempre muito bem trabalhadas, emocionantes e de bom gosto. Por isso, fiquei super feliz de ser convidado para participar do show de lançamento do novo disco dos caras. Vai ser no dia 1º de março, na Livraria Cultura, aqui em Brasília. Depois passo os detalhes certinhos.

Vou cantar a música 'Meus amigos', que vocês ouvem abaixo.

Até lá.

Meus Amigos
eu que esperei só
todo silêncio
eu não vou mais me conter
erro muito
em quase tudo
por querer mais
do que é bom pra mim
comecei
a te perseguir
mesmo assim
não espero te aborrecer
se ao menos pudesse entender
talvez eu ousasse me esforçar pra ser mais

meu tempo acabou e eu nem lembro
quando foi que eu parei de sonhar

espero que a dor que eu causei esteja menor

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Lacuna preenchida

Eu fui apresentado ao Andrei Machado há alguns anos, pouco antes de um show que fizemos, se não me engano, no bar Feitiço Mineiro, aqui em Brasília. Era 2005, época do lançamento do nosso primeiro disco, 'Lançando Sinais'. Andrei me pareceu um desses garotos (parecia ter 16, 17 anos) bastante tímidos. Mas ao contrário do que ocorre com muitos daqueles que sofrem com a timidez, não parecia nada antipático. O enorme cabelo sem corte não escondia a cara de gente boa dele.

Isso me fez achar que talvez ele fosse um cara sensível. Mesmo sem ter conversado com ele e só tendo apertado sua mão. Acho que o fato de ele estar na mesa do pessoal do Disco Alto contribuiu para isso. Não me lembro de ter "falado" com ele depois disso.

Fico feliz de saber hoje que minhas impressões estavam certas. Dia desses, ao entrar em seu perfil do MySpace, me deparei com algumas músicas do seu primeiro trabalho como pianista/instrumentista: o delicado 'Lacuna'. Instrumental, o disco é de uma fragilidade cativante. Simples e de bom gosto, como as coisas que eu mais gosto de ouvir. Hoje, sem a cabeleira do passado, Andrei me parece a coisa mais bacana surgida em Brasília nos últimos tempos.

Fica a dica. Na página dele, tem um link para baixar o 'Lacuna' na íntegra. Dá pra ler também uns trechos de críticas -- merecidamente elogiosas -- que descrevem muito bem a música que ele cria. Uma delas diz: "Andrei creates the most simple but yet the most elegant atmosphere sounds with simple touches of his piano". Não podia concordar mais.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O brinquedo mais legal


Eu devo um bocado a esse velhinho aí de cima. Nunca tinha parado para pensar que havia uma pessoa, um cara no canto do mundo, que tinha inventado o brinquedo que mais curti na vida. Pois esse cara existia e morreu ontem, aos 79 anos. Hans Beck era alemão e inventou o Playmobil.

Sempre que me lembro da minha infância, na Asa Norte, me vem a imagem da gente no tapete azul escuro do quarto que dividia com meu irmão, brincando com os Playmobils. Teve a fase Falcon, é claro. Também a do Natal em que ganhei o jogo do Speed Racer. Mas os playmobils, inventados em 1974, um ano depois de eu nascer, nunca saíam de cena. E eu nunca tive o da nave espacial... Esse era massa, mas só via na loja. Devia ser caro.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Mais um...

Fomos lembrados por mais uma lista de melhores de 2008, o que nos deixa muito felizes. O blog Coisa Pop divulgou estes dias sua relação. A música 'O tempo contra nós' foi escolhida como a melhor nacional do ano passado. E o disco 'Dias mais tranqüilos' (com trema!) aparece entre os 10 mais.

Como diriam Os Wallaces (alguém lembra?): Le-gal! Su-per legal!

O novo ovo

E o sapato é o novo ovo. Houve uma época, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, que o protesto da vez era jogar ovos em políticos. Agora, a sapatada promete ser o hit do momento. Ontem, um tênis voou em direção ao primeiro ministro chinês...

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A sapatada eternizada

Dizem que uma obra de arte se torna grande quando consegue captar e condensar o espírito de uma época. Às vezes, é uma frase ou um gesto que consegue simbolizar, de forma instantânea, o que todos - ou muitos - estão pensando. E aí, parece que o gesto mais feliz desse fim de década foi a sapatada do jornalista iraquiano em George Bush.

O sujeito foi muito feliz e sintetizou o que provavelmente mais de 2/3 da população mundial (chutando, sem trocadilho, por baixo) pensavam sobre a era política que chegava ao fim com o encerramento do mandato de Bush. Ao lançar os sapatos contra o então homem mais poderoso do mundo, o jornalista lavou a alma de muita gente. Gesto preciso, conciso e feliz. Não à toa, a ação virou escultura, inaugurada ontem na cidade de Tikrit, a 130km de Bagdá.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A criatura


Brasília é minha. É nossa, dos brasilienses – nascidos aqui ou não. Brasília é a minha história. Como já disse aqui antes, não existiria se não fosse Brasília. Por isso, pensar que ela poderia não ter sido criada me assusta profundamente.

Hoje, leio nos jornais que Oscar Niemeyer se diz surpreso com a polêmica em torno de seu projeto da Praça da Soberania, que, se construída, fará surgir no amplo gramado da Esplanada dos Ministérios um obelisco de mais de 100 metros de altura e um edifício para abrigar uma galeria dos presidentes da República.

Surpreso, estupefato até, fico eu ao reparar que o gênio não percebeu que, há algum tempo já, Brasília deixou de ser uma tela em branco (ou vermelha, como a terra que há aqui), para que o artista invente sem objeções. Suas invenções, por mais geniais que continuem sendo, hoje afeta pessoas, gente esquisita, única, singular – os tais brasilienses.

"Querem defender o monumento de seu próprio criador", alfineta o amigo de Niemeyer, Jayme Zettel, ex-presidente do Iphan, o órgão que, hoje sob nova direção, contesta a construção da praça. O monumento, senhor Zettel, essa criatura fascinante chamada Brasília, cresceu, ganhou vontade própria e, junto, o direito de espernear, brigar pelo que acredita ser o melhor para ela. E isso pode significar dizer não ao seu criador, sim.

A criatura ainda olha desconfiada para a imensa biblioteca vazia construída alguns anos atrás, capricho sem muita utilidade, pelo menos até agora. Mais um monumento na nossa paisagem? Pra quê? Será que queremos? Temos o direito de perguntar.

Brasília pode até decidir que quer a nova praça e daqui a alguns anos não conseguir se imaginar sem ela. Mas o que Brasília não pode, e que bom que não está fazendo isso, é aceitar que simplesmente a avisem que uma nova construção será erguida em seus gramados – sem discutir, sem entender bem do que se trata, sem opinar.

Brasília é minha, é nossa, dos brasilienses. Não é demais pedirmos para sermos ouvidos. Pois não é demais quando a criatura pede para exercer seu direito de seguir o próprio caminho, que pode ser diferente daquele imaginado por seu criador.

Niemeyer se diz em uma “trincheira”, apoiado por seus amigos. Deveria ansiar pelo apoio dos brasilienses, os únicos que podem dar legitimidade ao seu novo projeto.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Preconceito 2

E por falar em preconceito, parte do tema do post anterior, hoje li uma notícia de entortar a cabeça, na Folha Online: pesquisa da USP diz que 97% dos brasileiros não se consideram racistas, mas 98% conhecem alguém que é.

O que me faz questionar: os 3% que disseram ser racistas são pessoas que até merecem nossa admiração por reconhecerem que têm preconceito ou são só bossais que não estão nem aí? De que forma eu responderia a pesquisa se fosse entrevistado? Admitiria o preconceito aprendido durante anos e contra o qual luto ou me encaixaria nos 97%?

Isso me lembrou da época em que fui para a África do Sul, em 1994. Já contei aqui mesmo a aventura com o elefante num safári. Eu estava com antenas ligadas para manifestações racistas, guardando na memória conversas preconceituosas, quando participei da seguinte conversa, com uma estudante de 17 anos:

_ Eu vou viajar para a praia, eu disse.
_ Para qual?
_ Durban, respondi.
_ Ah, Durban é muito bonita. O único problema é que tem muitos pretos.

Chocados? Preparem-se para o detalhe: a estudante era brasileira, e também estava fazendo intercâmbio na África do Sul. O comentário mais racista que ouvi no país que instituiu o apartheid foi dito por uma brasileira. Pois é.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Música em espanhol: desaprendendo a não gostar com Sr. Chinarro


A idéia é falar aqui da nossa resistência à música cantada em espanhol. E vou mesmo fazer isso um pouco mais adiante. Mas não resisti a começar o texto com uma pequena história, dessas que fazem vocês rirem de mim um pouco (um dia ainda escrevo sobre essa minha irresistível tendência de me autosacanear).

Trata-se de uma conversa curtinha, que tive com um crítico musical durante o show da banda Sr. Chinarro, da Espanha, que rolou no Festival El Mapa de Todos, no fim do ano passado. Eu tinha tocado no evento dois dias antes e estava ansioso para conhecer a banda liderada por Antonio Luque. Lá pela segunda música, o jornalista se dirige a mim:

_ Esperava mais. Tô achando meio 'aburrido' isso.
_ Eu tô gostando, respondi inocentemente.
_ Eu imaginei mesmo que você estivesse gostando, soltou o crítico, também inocentemente espero, sem se dar conta da crítica à minha música que escapava ali.

Pensei que daquele lado não viriam grandes elogios ao meu show nem ao do Sr. Chinarro. Mas não importava. Sei que não agradarei a todos (talvez à maioria...) e, independentemente da opinião do jornalista, aqueles espanhóis se transformaram na trilha sonora dos meus meses pós-El Mapa.
Eu e Carol compramos os dois discos mais recentes da banda, que foram importados para meu I-Pod. Hoje mesmo, passei o dia todo dirigindo e ouvindo as músicas de Luque e me dei conta de que é a primeira vez que um artista que canta em espanhol se torna um dos meus favoritos.
Ter participado do El Mapa de Todos (pra quem não sabe, o festival reuniu em Brasília bandas do Chile, Uruguai, Argentina, Espanha, Peru, Portugal e Brasil) abriu minha mente. A língua espanhola deixou de ser algo impossível de ser combinado com música pop e passou a soar bem aos meus ouvidos preconceituosos.

A apreciação artística é uma questão de aprendizado. E nunca foi tão imperativo para mim desaprender. Se há uma real barreira para o Brasil fazer parte da integração musical ibero-americana, me parece que é o preconceito à sonoridade do espanhol. Aprendemos a ouvir música em português e inglês. Precisamos desaprender a lição de que só nessas duas línguas o rock soa bem.

As melodias e os arranjos de Sr. Chinarro foram o que me motivaram a ouvir seus discos sem parar. E com o tempo passei a admirar a pronúncia de certas palavras, que se encaixam de forma tão singular nas canções. Palavras como "refrigerador" ou "autobus", ou versos como "una pared desnuda y blanca", cantadas de um jeito tão charmoso (isso, claro, se nos abrirmos o suficiente para nos encantarmos com algo que a princípio pode soar estranho).

Foi ouvindo a canção 'Anacronismo', do álbum 'Ronroneando', que percebi que ouvir música em espanhol traz a possibilidade de uma nova experiência poética/estética pra mim. Ou de que outra forma ouviria os versos abaixo?

"Ay, ay, ay, ¿por qué no estamos juntos?
Ay, ¿por qué me enamoré en el día de difuntos?"
Ouça: 'El gran poder'