quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Feliz ano-novo com StereoScope


Não sei se é porque em Brasília ficamos num clima chuvoso e cinzeto ou porque minha culpa de burguês aparece de forma mais acentuada. O fato é que os feriados de fim de ano me deixam melancólico. Mesmo tendo passado ótimos Natal e reveillon, ando em câmera lenta, preguiçoso e contemplativo. A chegada do ano-novo não ajuda a mudar meu sentimento. Também não sei a razão, mas acho meio forçado aquele entusiasmo todo que as pessoas manifestam quando chega a meia-noite de 31 de dezembro. Sempre me senti esquisito porque não fico tão feliz quanto os outros parecem ficar e comecei a desconfiar que deve ser fingimento deles.

Faz alguns anos que, quando o fim de dezembro se aproxima, começo a lembrar mais das canções dos caras do StereoScope, belíssima banda de Belém. Isso ocorre principalmente porque a primeira música que ouvi deles era justamente uma que fala do Natal: 'Antigos carnavais (boas festas)', do primeiro disco, 'Rádio 2000', lançado em 2003. Acho que a ouvi naquele mesmo ano, quando a Senhor F a incluiu num e-mail de fim de ano.

"Não adianta dizer que vai ficar mal / Na noite de Natal, é sempre tudo bom", ouvi Jack Nilson cantar numa melodia ao mesmo tempo triste e acolhedora. Fiquei impressionado como aquela gravação lo-fi combinava perfeitamente com o sentimento (um misto de alegria e reflexão melancólica) que me domina todo fim de ano e fui atrás de outras coisas da banda.

'Antigos carnavais' acabou sendo apenas a minha porta de entrada para o mundo do StereoScope, conjunto capaz de combinar rimas ao mesmo tempo espertas e simples com uma profundidade existencial rara. Logo descobri outras belas músicas no disco de estréia, como 'Cherole' (que pra mim é uma espécie de 'She´s leaving home' brasileira), 'Felicidade Azul' e 'Eu envelheço' (uma das minhas músicas preferidas do rock nacional de todos os tempos).Tornei-me fã.

Talvez a grande vantagem da banda seja reunir três grandes compositores (além de Jack, Ricardo Maradei e Marcelo Nazareth) que, apesar de estilos próprios, fazem composições que interagem entre si e dão forma a um repertório consistente. E com uma sonoridade com toques sessentistas repleta de arranjos bem trabalhados, com detalhes saborosos adornando as músicas.

Prova disso é segundo CD dos caras, 'O grande passeio do SteroScope', obra quase conceitual que consegue trazer, ao longo de 15 faixas, reflexões, insights e retratos da nossa vida. Está tudo ali: a rotina que segue igual mesmo depois da morte de um jovem ('O grande passeio ou este lado da vida'), o eterno risco de sermos pegos de surpresa e vermos nossas certezas se desmanchando ('Anche se sia de notte', que tem o maravilhoso verso "De repente chega alguém que não conhece avião, mas sabe voar"); a sensação dos anos passando enquanto ainda somos jovens ('Novembro'); a luta necessária contra a solidão e a busca pela felicidade ('O que você tem'); a lembrança da primeira paixão ('Maria, doze anos') e muito mais.

O StereoScope é dessas bandas que exalam inteligência sem prejuízo algum para a emoção e a simplicidade. E por isso é capaz de oferecer músicas que nos fazem companhia e dão alento. A boa notícia é que o ano que se inicia hoje traz a promessa de lançamento do terceiro disco deles. Será uma dos momentos mais legais para mim deste 2010.

Feliz ano-novo, amigos.

PS: para ouvir os dois primeiros discos do StereoScope, basta clicar aqui.