A conversa com um amigo hoje de manhã me fez ter ainda mais certeza que os Móveis Coloniais de Acaju são mesmo o principal nome do rock de Brasília nos anos 2000. A discussão não é somente estética. Lista de melhor banda cada um pode ter a sua. Mas, além de ter um controle de qualidade elevado, os Móveis conseguiram cativar um público fiel, fazer escolhas acertadas de gerenciamento de carreira e expandir a admiração por seu trabalho além das fronteiras do DF como nenhuma outra banda brasiliense nesses primeiros 10 anos de século 21.
O lançamento do segundo disco dos caras, 'C_mpl_te', só tende a confirmar isso, quando eles dão um passo que parece ser do tamanho exato de suas pernas, lançando pela Trama. Mas é uma frase que li na crítica sobre o CD publicada no Correio Braziliense de hoje que eu queria destacar aqui. Lá pelas tantas em seu texto, o jornalista Tiago Faria diz: "Como eles conseguiram (um excelente disco)? Com naturalidade, sim, mas não dá para descontar o auxílio do (produtor) Carlos Eduardo Miranda. Um dos maiores equívocos do rock independente brasileiro é subestimar a importância de um bom produtor".
Na mosca, Tiago. Esse é um dos passos fundamentais que o meio independente brasileiro precisa dar. O caso dos Móveis é emblemático. No primeiro disco, conseguiram trabalhar com Rafael Ramos e, agora, com Miranda. Os dois produtores podem não ser ideal para sua banda ou para mim. Mas um bom produtor é essencial para 99% dos artistas -- e os independentes não são exceção. No caso dos Móveis funcionou e o principal do exemplo deles é a preocupação em buscar um bom produtor. Por outro lado, há vários exemplos emblemáticos extamente opostos. De discos que possuem um belo repertório, mas sofrem com uma produção pobre, que pode levar desde erros de timbragem (ou alguns ainda mais graves de execução mesmo) à falta de conceito, ou melhor, unidade.
Não me esqueço do dia em que ouvi pela primeira vez meu primeiro disco, 'Lançando sinais', gravado e produzido por Philippe Seabra. Meu primeiro comentário foi: "Está tão bom que não parece um disco meu". É claro, meus discos anteriores eram EPs e demos "produzidos" pelos donos dos estúdios que alugávamos para gravar. Nâo havia um cara de fora, com talento ou bom ouvido, para apontar coisas que não percebíamos, para fazer o controle de qualidade ficar num nível mais alto. Quando o Philippe fez isso por nós, o resultado foi surpreendente, mesmo para mim e para a banda que me acompanhava.
As novas tecnologias nos permitem gravar em casa, de forma rápida e fácil e cada vez mais barata. Mas o processo de dar forma a um álbum é muito mais complexo que simplesmente dominar softwares modernos. Claro, todos ainda estamos aprendendo. Um cara que hoje só grava uma banda pode se tornar daqui a pouco um belo produtor. Mas se quisermos fazer a diferença -- e certamente, do jeito que as coisas estão, o mundo precisa que façamos a diferença -- temos de ser exigentes. E não temos sido, em grande parte das vezes, no que diz respeito à produção.