quarta-feira, 22 de julho de 2009

Reflexões antes de partir para Curitiba

"O caminho é longo, mas não tenho pressa / Nem tenho certeza / Se você quiser e vier / Então venha." Quando comecei a escrever a letra de 'Vida boa não é vida ganha' eu não estava pensando em uma história de amor, de homem e mulher, como os demais versos que foram surgindo acabaram por dar a entender. Pensava em meu irmão e parceiro, Ju, e na angústia que sentíamos com a dúvida se um dia seríamos ou não bem-sucedidos na música -- o que naquela época significava ser famoso. Avisava-o no começo da canção que havia decidido seguir a passos lentos e que não tinha certeza de êxito, mas que gostaria de tê-lo ao meu lado.

Quando era moleque, eu sonhava com o estrelato. Assistia a vídeos do The Doors, especiais com os Smiths, ia a shows da Legião Urbana e me imaginava um Morrissey, um Renato Russo ou um Jim Morrison, cujos trejeitos cheguei a imitar muito bem. Se bem que, por eu ser gordinho, contorcer-me no palco como meu ídolo me deixava mais engraçado ou afrescalhado do que provocativo e sensual. O sonho de ser um rock star, porém, era proporcional à frustração e à ansiedade. A cada sinal de falha, que podia ser a não seleção para um show ou o sucesso de outras bandas que não a minha, ficava infeliz e derrotado.

Um dia, nos idos de 1997, fui tocar em um bar junto com uma banda daqui de Brasília que havia, duas semanas antes, se apresentado no programa do Jô Soares. Eles mexiam os pauzinhos como podiam e de forma bem esperta para conquistar espaços na mídia, e eu ficava intrigado sobre como eles conseguiam aquilo tudo. Conversando com os integrantes, descobri que o vocalista havia largado o emprego e se dedicava só à banda, porque a levava a sério. Perguntei-me se não deveria fazer o mesmo. Menos de dois anos depois, aquela banda havia acabado e o vocalista, desistido da carreira musical.

Na hora, tive a grande sacada da minha vida: é preciso controlar a ansiedade. Se a coisa demorar a acontecer, não verei como derrota, mas como parte do caminho, que deve ser longo mesmo. Achei por bem avisar meu parceiro dessa nova postura diante das coisas (que incluía não largar meu emprego nem partir pra um tudo ou nada a curto prazo) e compus 'Vida boa...', na qual aproveitei pra falar sobre outras dúvidas e medos também. A mensagem que importava pra mim na música, porém, era essa: controlar a ansiedade.

Desde então, tenho feito, de maneira disciplinada, esse exercício. Quando caio na besteira de contar o tempo que já passou, de me perguntar se não estou meio velho pra ficar tocando em porões mal iluminados e mau cheirosos ou comparar minhas conquistas com a de outros, lembro da epifania de anos atrás e digo a mim mesmo: "sem ansiedade, olha o que você já conseguiu..." Não é fácil, mas tenho certeza que só assim consegui chegar até aqui e ter vivido um bando de coisas que aquela banda que se apresentou no Jô há mais de 10 anos não pôde viver.

Sou feliz hoje. Assim como sou. Jornalista, músico, vivendo petinho da minha família, namorando a Carol, compondo e gravando meus discos. Estou indo para o terceiro!, e isso parece inacreditável. Viva a Senhor F Discos! Agora, esta semana, estou recebendo mais uma dessas recompensas fantásticas. Vou tocar no festival Rock de Inverno 7, em Curitiba (vejam o link do site no post abaixo).

Lembro que quando lancei o meu primeiro disco, em 2005, tinha uma grande expectativa a respeito de festivais. Achava que rodaria o Brasil lançando meu disco, mas não foi assim que as coisas rolaram. Poucos festivais pareciam achar que o som que faço se encaixava no evento (valeu, Monstro e Goiânia Noise!), ou então eles simplesmente não gostavam do que eu fazia. Mas aí eu pensei de novo: "ah, deixa rolar que um dia alguém vai achar que vale a pena levar você pra tocar".

Depois disso, algumas manifestações de que eu poderia ser chamado para festivais em outros estados apareceram, mas foi mesmo Ivan e Adriane Perin que me ligaram e disseram: "Vem!" E vou feliz pra caralho. E não porque é um festival fora de Brasília. Mas porque é um festival com a minha turma! O Rock de Inverno parece ser o reduto de caras assim como eu, que gostam de ouvir e compor baladas, muitas vezes tristes. Que parecem ter se acostumado a usar a música pra pensar na vida.

Vou tocar com os maravilhosos Lestics, que têm letras fantásticas, com a emocionante Hotel Avenida, que me soa como o trabalho mais maduro que já ouvi do Ivan e do Giancarlo Rufatto, com o sempre bem-sacado Oneide (agora com Diedrich e os Marlenes -- ouçam 'Monte Carlo'), com o bacana Nevilton, e com meus ídolos de adolescência Fellini (ainda estou pensando se levo os discos pra eles autografarem ou não -- é mico?). A recompensa é essa, fazer parte dessa turma. Sexta-feira será legal por isso! Ainda mais porque vou com uma tropinha de amigos pra lá de competentes: Ju, Fernando Brasil, Rinaldo Costa e Txotxa. Tô bem. Mais uma vez.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Em Curitiba



Tocamos na sexta-feira, 24 de julho. Para saber tudo do Rock de Inverno 7, visite http://www.rockdeinverno.com.br/.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Questionário


Na semana passada, o Jornal de Brasília enviou algumas perguntas para mim e o Frank Jorge, por conta do início do projeto Solitários Incríveis. Como não couberam todas as respostas, coloco a íntegra da minha parte (isso é que é falta de inspiração para um novo post!).

O que é ser um “solitário incrível”?

Caramba, não estava preparado para essa pergunta. Mas acho que o ser humano é, por essência, um solitário incrível. Somos únicos e especiais, pelo menos eu acho.

O que ouve um “solitário incrível”?
Frank Jorge e Beto Só.

Existe uma ponte Porto Alegre – Brasília na música brasileira?
Deve ter. Algumas das coisas que mais gosto de ouvir atualmente vêm de Porto Alegre. O próprio Frank e o Superguidis, que é de Guaíba, na verdade. Me identifico muito com o Nei Lisboa também, que despertou em mim a vontade de ser um cantor e compositor solo.

O formato acústico é solitário por excelência? Ou não necessariamente?
O acústico radicalizado é um cara e seu violão, né? O acústico chama a atenção para a composição, para a canção, que na grande parte das vezes é criada de forma solitária. Mesmo quando componho em parceria, preciso de um momento sozinho.

Quem, nessa ponte Brasília-Porto Alegre, você admira musicalmente (pode citar de lá e cá)?
Já citei ali atrás minhas preferências no Sul. Em Brasília, cuja cena conheço mais, admiro muita gente. Disco Alto, Watson, Cine Hits e Phonopop são minhas bandas prediletas atualmente. Pra esse projeto, já convidamos o Carlos Pinduca, pra mostrar as canções que compôs quando estava no Maskavo Roots e no Prot(o). Gosto muito do Cláudio Bull (Superquadra) também.

Pampa e cerrado: o que sai desta união?
Difícil essa. Parece uma união complicada, algo que já tem uma tradição com algo que ainda busca sua identidade. Os gaúchos têm um orgulho de serem gaúchos que os brasilienses ainda não conhecem. Mas Brasília tem a chance de apontar para o novo. Por isso, acredito que seja uma troca saudável.

Diga 3 canções de amor perfeitas (pode justificar brevemente)
“Between the Bars” (Elliott Smith). Etílica e esperançosa. Linda!
“Far from me” (Nick Cave). Realista e emocionante. O amor do começo ao fim.
“Why can´t I be you” (The Cure). Feliz e divertida como a paixão correspondida.

Cite 3 canções de fossa perfeitas (pode justificar brevemente)
“De tanto amor” (Roberto e Erasmo Carlos). A minha preferida deles.
“For no one”. É Lennon e McCartney, né? Arrasadora.
“C’mon Billy” (PJ Harvey). Amor feminino, desesperado e intenso.

Como vai ser o mundo sem Michael Jackson daqui para frente?
Acho que igual. Não via ele como alguém que estava fazendo a diferença, inovando. O legado dele já foi deixado.

Qual a sua predileta do Michael Jackson?
Ben.

Como anda o mercado da música em sua cidade?
O mercado aqui é no máximo uma feirinha hippie.

Quais seus últimos projetos?
Esse show acústico já é a preparação do meu próximo CD, que quero gravar no ano que vem. Ele será gravado nesse formato e com esses músicos (Ataide Matos, no violoncelo, Ju, na guitarra, e eu, na voz e violão). Estamos preparando músicas novas que vão sendo incorporadas no repertório do show à medida que ficarem prontas até termos todas as canções do disco finalizadas.

O que você andou lendo que tenha influnciado sua música?
“Amor líquido”, do Zygmunt Bauman me marcou e resultou numa canção dessa safra nova, chamada “Rumo ao futuro”.

Como a temperatura e o clima de sua cidade influencia sua obra?
Quando tá frio, gosto de dirigir mais devagar, ouvindo músicas tristes. Acho que fico mais animado pra compor.

É mais fácil (melhor, pior) compor na secura ou na umidade?
No seco.

Se tivesse a chance de ser outra pessoa durante uma semana: quem seria?
Ficaria com medo disso e recusaria a oferta.

Qual a canção de outrém – se pudesse escolher para si – você gostaria de ter feito? Por quê?
Eu gostaria de compor “O Vencedor”, do Los Hermanos, que tem uma letra provocativa, fundamental pros dias de hoje. Também queria ter composto “Saturno”, música do Fernando Brasil e Carlos Pinduca, do novo disco do Phonopop. É linda demais. O irônico é que o Fernando me mandou a música para eu por a letra e não consegui. O Pinduca fez e mandou bem demais.

Cite um álbum que represente o seu “eu”.
É o meu primeiro mesmo, Lançando Sinais, de 2005. Tem umas letras tão confessionais que dá até vergonha hoje em dia.

Cite um filme que é o roteiro (ou quase) de sua vida.
“O mito do orgasmo masculino” (John Hamilton). Minha vida e angústias até os meus 30 anos mais ou menos.

Que episódio da múisca gostaria de ter vivenciado de pertinho?
Acho que nenhuma em especial. Gostei de acompanhar o rock brasileiro dos anos 80. Não sou tão tarado assim por ídolos das antigas, sonhando em vê-los tocar ao vivo. Lamento um pouco não ter visto Elliott Smith ou Smiths ao vivo, mas nada muito grave.

domingo, 5 de julho de 2009

Abraço ao Cristian, que foi ver a gente tocar hoje.

sábado, 4 de julho de 2009

Show domingo

Amigos, tocaremos (ju, ataide e eu) no Oi Expressões neste domingo. Será ao meio-dia em ponto, no Parque da Cidade. Palco roxo perto do Parque Ana Lídia. Até lá.