
Não é de agora que a Rolling Stone tem dado espaço a bandas, cantores e compositores independentes nas suas páginas. Em várias seções, seja nas pequenas matérias sobre o mundo da música, no playlist de melhores canções do mês, ou na seção de críticas, é comum vermos artistas como Metallica ou Fresno dividirem o espaço com bandas como Lucy and the Popsonics e Hurtmold. Na última edição, na qual tive a alegria de ver meu disco resenhado, notei, feliz, que os quatro primeiros lançamentos analisados eram o de Frejat, Wado, Erykah Badu e o meu ‘Dias mais tranqüilos’.
Posso, é claro, discordar de uma abordagem ou outra em algumas reportagens. Mas, no geral, a linha editorial da revista merece aplausos por não reservar um espaço mínimo aos independentes como fazem alguns veículos que mantêm apenas uma página ou seção para quem não está ligado a uma grande gravadora, que mais parecem um curralzinho para não-famosos. A Rolling Stone parece, na medida do possível, dosar bem a relevância dos artistas, seja por sua exposição em festivais ou sites, seja pela qualidade dos seus trabalhos. É a prova de que dá para tratar os independentes como o que eles são de fato: artistas.
O outro belo exemplo vem aqui de Brasília. Desde que assumiu a direção da rádio pública Cultura FM, Marcos Pinheiro colocou no ar uma programação que emenda, de forma natural, Johnny Cash, Bob Dylan e Mallu Magalhães; ou Superquadra, CSS e Peter Bjorn and John. Há lugar também para MPB e um bando de outros estilos. E o melhor: um grande espaço para os artistas locais, dando chance de o público interessado descobrir a produção feita na própria cidade.
Às vezes fico me perguntando o quanto as rádios comerciais não poderiam ganhar ajudando alguns artistas a obterem projeção local, podendo depois ter esses mesmos artistas, de forma bem barata — pois os cachês não seriam astronômicos nem haveria custos com passagens —, tocando em eventos promovidos pelas mesmas rádios. Parece que seria o bom e velho todo-mundo- ganha, mas sei lá, o sábios executivos devem ter uma resposta pronta para essa indagação.
Mas, enfim, esses dois exemplos deixam a certeza de que é possível direcionar um veículo que trabalha com música de forma livre, sem amarras, adotando critérios como qualidade e relevância; e não apenas o dos jabás e do poder econômico.