sexta-feira, 2 de julho de 2010

Crônica desta* semana



Retões e horizonte

Não há motivos pra se apressar no trânsito de Brasília. Costurar perigosamente, dar farol alto pra que saiam da frente, colar na traseira do alheio, tudo bobagem. Em Brasília é uma delícia guiar. Retões e horizonte. E tudo perto. Se está atrasado, relaxe. Serão só mais cinco minutos de atraso por causa do trânsito lento, vai por mim. Vivo atrasado, já fiz vários testes.

Desacelero meu 1.0 e me entrego a divagações que seriam um perigo em outras capitais, mas não aqui, no Eixão, no Monumental, na Epia. Nenhuma curva fechada adiante que exija minha total concentração. Por isso, gosto de lembrar das coisas legais que já vivi aqui. E esse troço dos espaços serem abertos ajuda pacas. Do Eixão Sul, indo pra Rodoviária, consigo enxergar a 209. Foi pro Giraffa´s de lá que fui com a Carol na noite em que a conheci. Nosso primeiro programa. Dividimos uma batatinha frita e duas cocas zero depois de um show meu em que quase ninguém foi. Mas ela foi, e só precisava dela mesmo. Minha vida ficou melhor naquela noite, no Gate's, na 402.

Às vezes saio do CCBB ou da Academia de Tênis (se bem que com o cinema fechado faço isso menos) e pego o Setor de Clubes Norte. Minha época de UnB, os tempos em que fazia natação na Apcef. A L2 é da 415 Norte, onde morava minha primeira namorada. Como eu era moleque e tolo. Vejo o Olhos d’Água. Lembro do dia em que fui parado por uma moradora da quadra, pedindo pra que eu aderisse a um abaixo-assinado pra transformar o matão abandonado em parque. Assinei, metido a hippie que eu era. Obrigado, gentil cidadã. O parque que você sugeriu e me fez apoiar ficou lindo.

Qualquer caminho traz lembranças. Até a Ponte JK já tem histórias. Foi por ela que passei pra acompanhar o Senhor F nas Escolas em São Sebastião. No centro de ensino de lá, uma surpresa bacana: banda Orgasmo tocando música autoral. A W3 lembra minha primeira infância, na 711 Norte. Época boa em que gangue era a Galera da 12. A gente tinha muito medo, mas eles não matavam, só roubavam nossos tacos de bete. O começo do Eixinho Norte traz de volta as idas de ônibus até o Conjunto Nacional pra comprar vinis na 2001, que fechou em 2008, e os primeiros VHS alugados na Privê da 102. Como vibrei quando achei na prateleira Comando Delta, com Chuck Norris!

Vou lembrando e, quando vi, cheguei. Aí, sim, é hora de ficar meio chateado. Achar estacionamento tá difícil. Mas dá pra parar um pouquinho mais longe e ir andando. Nada muito grave.


* Nada garante que semana que vem haverá outra crônica.