quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Crônica

37 anos e menos estúpido (um sincero pedido de desculpas)

37 anos não parece uma idade grandes coisas. Não tem a mitologia que envolve os 30 e os 40 nem é uma das idades múltiplas de cinco, que, por alguma razão irracional, parecem ter mais importância que as demais. Mas aí um e-mail de uma colega com antigas fotos do tempo de escola me jogou a real: faz 20 anos que saí do segundo grau. Fazer 37 anos significa completar duas décadas longe do colégio. Já passou tanto tempo que nem se fala mais segundo grau. Aos jovens leitores, explico que era assim que chamávamos o ensino médio na minha época. E pensar que eu achava estranhíssimo quando minha mãe falava de sua época de colegial e isso fazia ela parecer muito velha.

Mas, antes que alguém pense que estou mal, aviso logo que muito pelo contrário. Rever antigos companheiros de segundo grau nessas fotos não me trouxe dor, desespero, depressão, nada disso. Nenhuma saudade daquele tempo. Saudade sinto de pessoas com quem -- pude perceber olhando as imagens -- realmente construí uma relação afetuosa. Não as vi todas nos instantâneos, mas me lembrei com carinho de Fabiana, Roueida, Ernesto, Karine, Fabiano, Rodrigo e tantos outros. Pessoas com quem perdi o contato, mas imagino que estejam bem. Gosto de pensar assim.

Não me sinto velho, mas sei que estou envelhecendo porque consigo rir agora de coisas que pareciam ser muito importantes. Fiquei admirado ao perceber que os bonitos não eram de fato mais bonitos que os feios. E os feios eram bem bonitos, graciosos. Mas de tanto acreditar que estava no grupo dos feios, me esforcei ao máximo para ser bem esquisito. Mecanismo de defesa, que me fazia ser muito chato, injusto e agressivo às vezes. Só isso pode explicar os estilos que eu adotava. Em 1989, ano em que as fotografias foram tiradas, eu deixava meu cabelo crescer livremente. A rebeldia, porém, só me dava um aspecto de uma garota desprovida de qualquer senso estético.

Coincidentemente, o dia ao qual gostaria de voltar para agir de forma diferente foi quando uma amiga docemente preparou uma festinha de aniversário surpresa pra mim. Comprou um bolo, colocou velas sobre ele e, na hora do recreio, entrou na sala convidando todos para cantar 'Parabéns pra você'. Reagi com revolta, me dizendo contra aquelas "convenções capitalistas" (ou qualquer outra expressão boba do tipo) e que não queria nada daquilo. Certamente a magoei naquele dia, mas era muito infantil para reconhecer minha burrice e pedir desculpas de forma apropriada.

No meu processo de envelhecimento, passados 20 anos, sei o quanto a imagem que tentava construir para mim mesmo era tola, sem importância. E ao mesmo tempo sei o quanto os gestos de carinho com aqueles de quem gostamos são importantes. Por isso, muito obrigado, Karine, por comprar o bolo naquele 9 de agosto. Fosse seu amigo hoje, eu ficaria emocionado, te daria um beijo, um abraço e sentiria meu coração batendo feliz. Desculpa. Eu era um adolescente tolo e estúpido.

E obrigado, Tamara, pelas fotos. Um belíssimo presente de aniversário.

Não é menina. Eu sou o de óculos, jaqueta preta e camiseta branca, ajoelhado à esquerda (você pode clicar para ampliar a foto)