Zygmunt Bauman, o filósofo que percebeu que o mundo hoje é líquido, disse que as celebridades cumprem a função de ligar os vários grupos nesse mundo tão fragmentado nosso. É só sobre elas que nós conseguimos conversar com quem quer que seja, do cobrador do ônibus àquele machista imbecil que calhou de ter uma mesa ao lado da sua no escritório. Não que isso seja um ponto positivo para as celebridades. É sinal de que o mundo anda mesmo mal.
As celebridades têm também, me parece, a função de causar aquela sensação de "não sei se rio ou se choro" na gente. Melhor rir, claro. Recomendo, como experiência sociológica, uma visita à seção 'Celebridades' do UOL, que lista uma série de blogs de famosos brasileiros. Já imaginou o que te espera, né? Pois é pior. Logo na letra A, lemos o nome do Alexandre Frota. É um link para o site do moço.
A mensagem que ele deixou gravada para ouvirmos tão logo acessamos sua página inicial é algo simplesmente indescritível. Tive que clicar em "atualizar a página" para ouvir de novo. Vá lá você e confira... Depois, repare no fato de que não há, em nenhum lugar, nenhuma referência a nenhum de seus filmes pornôs ou ensaios para revistas... Na seção 'carreira', há espaço apenas para televisão e teatro. Quelôco!
A coisa é tão braba, que entre as chamadas de destaque da página de blogs, está o de Sônia Abrão. Olha que beleza o jeito como ela inicia seu último post: "Como não tenho nenhuma esperança de que Renam Calheiros vá ser tirado da presidência do Senado, já que a votação é secreta; como ta na cara que não ficaremos livres da CPMF e, pra variar, Lula está fora do País nos momentos cruciais, prefiro falar de novela". Não é ótimo? Que jeito sagaz de mostrar o quanto é antenada e bem-informada, mas que tudo bem, até pessoas inteligentes como ela se ocupam com novelas.
Isso me lembra um trecho do livro do Marcelo Mirisola, O homem da quitinete de marfim, que estou lendo porque fui com minha namorada à Feira do Livro ouvi-lo e acabei comprando para ajudar o cara. É bom dizer, não foi dinheiro jogado fora (foi mal Lourenço, decidi citar o Mirisola mesmo sabendo que você, um dos meus pouquíssimos leitores, não o suporta):
"Quero usar como epígrafe a questão levantada pelo autor de Adorável criatura Frankenstein, Ademir Assunção: 'O que se pode esperar de uma época em que pastores evangélicos, peruinhas siliconadas e pagodeiros xaropes se tornam grandes comunicadores, ocupando o espaço da circulação de idéias?' Nada, Ademir. Absolutamente nada".
Nada, tipo assim: "Oi, eu sou o Alexandre Frota... e carioca... rubronegro... e... amante da juventude e do esporte".