terça-feira, 27 de novembro de 2007

Quanto tempo leva dez minutos?

‘O espaço de nada’, o novo single que estou lançando esta semana pela internet é uma daquelas úsicas que só levam dez minutos para ficarem prontas. Na verdade, o disco já estava todo composto e estávamos prestes a entrar no estúdio quando ela surgiu. Veio da inquietação de sentirmos que, apesar de termos um bom conjunto de músicas, ainda faltava alguma coisa, talvez uma composição que “amarrasse” todo o repertório.

No meio dessa angústia, peguei o violão e comecei a tocar um riff de guitarra que o Ju, meu irmão e parceiro, havia me apresentado cerca de um ano atrás. Era um riff de que nós dois sempre gostamos, mas nunca conseguimos fazer nada além dele. O que poderia vir depois?, que acordes tocar?, que melodia cantar? Por mais que tentássemos, não conseguíamos dar àquele riff uma canção.

Mas daí, num dia específico, veio uma idéia muito simples. Manter a harmonia que acompanha o riff e cantar em cima dela mesmo. Depois cair num Fá maior e fazer uma variação vocal semelhante às que o Elliott Smith tanto fez... Quase ao mesmo tempo que tive essa idéia, a letra foi surgindo, falando sobre como acumulamos coisas não feitas na vida e como elas nos pesam nas costas.

Mostrei a idéia para o Ju que se animou e fez em seguida a terceira parte da canção, com um novo riff de guitarra e que deu origem à parte em que canto a frase que dá nome à musica: “Como pode nada ocupar tanto espaço?” Estava pronta. Demos ainda uma lapidada nos ensaios com a banda, mas a canção ficou pronta naquele instante.

A surpresa foi reparar que os amigos que ouviam a pré-produção do CD, quando gravamos todas as músicas do disco ao vivo, logo comentavam sobre a faixa número 8. Era a que mais ficava na cabeça deles e o riff era sempre citado. A tal música, que surgiu assim de supetão aos 45 do segundo tempo, virou uma espécie de xodó.

Isso parece ser um dos mistérios do pop. Tanta coisa genial (não que seja o caso dessa música) surge assim, do nada, sem muito esforço aparente. E é aí que devemos dar uma ênfase no aparente. Afinal, deve haver muito trabalho inconsciente antes da coisa simplesmente desabrochar. Afinal, não é por acaso que foi o Paul McCartney quem sonhou com ‘Yesterday’. Tenho certeza de que ‘Yesterday’ não apareceria assim, do nada, num sonho do Latino... Tá, é exigir muito do Latino. Não apreceria no sonho de mais ninguém.

Pra mim, ficará sempre a pergunta de quanto tempo eu e o Ju trabalhamos em ‘O espaço de nada’ antes de termos aqueles dez minutos de conclusão. Não que a resposta seja importante, pois o que importa é que outros dez minutos como aqueles voltem sempre a acontecer em minha vida.

Ouçam aí embaixo o resultado. Se gostarem, vocês podem ir até o site Senhor F e fazer o download da música de graça. Lá também está disponível outra música do próximo disco, chamada ‘Meu velho escort’. Os convido a ouvi-las.

Abraços!



O espaço de nada

Uma idéia morta
E meus pés no chão
Mais um falso início
E só vento em minhas mãos

Tudo o que eu nunca fiz
Tudo o que nunca vou ser

O “gesto calado”
A palavra muda
O amor desperdiçado

Tudo o que eu nunca fiz
Tudo o que nunca vou ser
Tudo que não resolvi
É tudo que me pesa mais

Como pode nada ocupar tanto espaço?