terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Os homens e o futebol

Antes de mais nada, devo dizer que acho legal jogar futebol e não tenho nada contra assistir a uma partida pela televisão. Copa do Mundo me empolga e ainda fico feliz quando o Flamengo ganha. Mas ver nos noticiários de domingo aqueles corintianos chorando me fez concluir que essa relação dos homens com o futebol é patética.

O futebol consegue transformar qualquer marmanjo numa versão piorada das fãs do Menudo nos anos 80. Pense bem: aquelas meninas, ingênuas que eram, davam a vida por uma banda que, de tão genuína, substituía os integrantes assim que eles completavam 16 anos. Alguma semelhança com os times de futebol? Toda.

Nos clubes, o troca-troca é intenso, deixando qualquer boy band, ou banda de chicos, no chinelo. O cara sai do Vasco direto pro Flamengo, do São Paulo pro Corinthians, do Corinthians pra time argentino!, tudo na maior. E o torcedor? Fica lá no estádio, histérico como uma garotinha, chorando e rezando pelo time de coração. Tem gente que até morre, vai entender.

Mas isso não é o pior. Ruim mesmo é o efeito Zorra Total que o futebol produz. Pros bem blindados, explico que o Zorra Total é o pior programa da televisão brasileira (se bem que ainda não assisti ao Conexão Xuxa...). Tem uns quadros que deveriam fazer você rir e, além de não conseguir, repetem sempre a mesma piada. Resume-se a um “Não espera eu molhar o bico” ou algo do tipo seguido de risadas pré-gravadas. Um tédio.

Pois toda segunda-feira, depois de um fim-de-semana movimentado nos gramados, qualquer escritório de trabalho vira uma espécie de Zorra Total:

_ Que chocolate ontem, hein? Esse seu time só me dá alegria!

_ E em 92, quando a gente ganhou de vocês, lá?

_ Ih, quem vive de passado é museu.

Os caras reproduzem diálogos desse tipo toda semana como se fossem algo inédito. E você, sentado na sua mesa, tem que ouvir aquilo com um sorriso amarelo no rosto.

Por fim, não bastasse torcer que nem fã do Menudo e agir como comediante de televisão brasileira, os homens querem mais. Querem algo muito pior. Querem ser jogadores de futebol! Aí não dá pra agüentar. Por mais legal que seja bater uma bolinha, é preciso muita paciência para comparecer a essas peladas de sábado à tarde.

Oswald de Souza, o matemático imortalizado pelo Fantástico, deve confirmar: é impossível reunir 12 homens gente-fina de uma só vez. Daí, qualquer pelada tem pelos menos uns quatro ou cinco imbecis completos, que usam a desculpa da competitividade para agirem como trogloditas.

São aqueles que reclamam como tias velhas porque você não passa a bola pra eles, metem a trava da chuteira na sua canela assim que têm a chance e acham que te empurrar pelas costas contra o alambrado é só jogo de corpo. Esses caras acreditam que são “esquentados” só dentro de campo e que depois do jogo todo mundo volta a ser amigo. Ser seu amigo, ô mau caráter? Acho que não.

Fora que quando entra em campo todo homem se transforma num bobalhão. Por culpa do avanço das transmissões de futebol, que captam os menores detalhes, as peladas se transformaram num teatro ridículo. É um tal de imitar os trejeitos dos jogadores, levando a mão à testa quando erra o passe, puxando a camisa um do outro na hora do escanteio, que sinceramente não dá.

Por isso, parei de ir às peladas há um bom tempo e assim sou mais feliz. E nunca mais tive de engessar nenhuma parte do meu corpo. É, porque, não bastasse isso tudo, jogar futebol é uma tentativa constante de se quebrar inteiro. Simplesmente incompreensível. No último domingo, na hora dos jogos decisivos (ooohhh!) fiz coisa melhor e fui assisitr ‘I´m not there’, o filme “sobre” o Bob Dylan. Falo dele aqui daqui uns dias. Amanhã mesmo de repente.