sexta-feira, 28 de setembro de 2007

“Está-me no sangue”

Não sei se existe um tipo de transtorno parecido com o bipolar, em que a pessoa alterna fases em que ta pronta para uma boa discussão com outras em que tudo o que quer é ficar quieta, deixando as confusões de lado. Se existir, acho que eu sofro desse treco aí.

Vivo me alternando entre esses dois estados. Tem dia que acordo meio bravinho e resolvo falar mal de quem eu acho que merece. É nesses dias, geralmente, que dou uns tiros (sem muita chance de acertar) nos pés, falando mal de quem um dia, talvez, quem sabe, poderia me ajudar. Nessa, já meti o pau na MTV, no Multishow, nas gravadoras e por aí vai. Até o Philippe, meu patrão!, já resolvi alfinetar.

Daí tem dias em que eu acordo e acho que isso de ficar criticando é uma bobagem. Que eu devia mesmo era me dedicar só às palavras gentis. Falar bem do que eu gosto e deixar o que me incomoda pra lá. Minha vida seria mais tranqüila se eu fosse calminho o tempo inteiro. Meus textos seriam só sobre o aniversário de 95 anos da minha vó, do amor que sinto por Brasília, do quanto gosto do Superguidis e que queria ser Adriana Falcão e Frank Jorge. São textos legais, que deixam as pessoas mais felizes e emocionadas e me rendem umas mensagens carinhosas. E quem não gosta de carinho?

Mas não sei o que me dá. Tem dia em que eu vejo um negócio que acho feio e não consigo me segurar. “Está-me no sangue.” Venho aqui pro computador e tóin.

Agora estou na fase o mundo é belo. Como é gostoso. Por isso, quero só recomendar aos meus amigos o sorvete de iogurte com mel que tem no Dona Lenha da 201 sul. Acho que é a sobremesa mais barata do cardápio e é uma delícia. É exatamente o que promete, sorvete de iogurte adocicado pelo mel.

Também queria dizer que se um dia escrevesse um livro, queria que fosse tão legal quanto ‘O homem ou é tonto ou é mulher’, do português Gonçalo M. Tavares. É de lá que tirei o título deste texto. Quantos (e quais) livros preciso ler para escrever um bom desse jeito? Uns trechinhos para vocês se animarem a lê-lo, caso não o conheçam:

O amor é sacana.
Quando começamos a apanhar-lhe o ritmo, ele muda de ritmo.
É um palerma, o amor!
Ou é muito lento, ou é todo apressadinho.
E nós sempre com os mesmos pés.

O amor é um palerma!

***

Ontem construí um barco de pedra.
Não funcionou.
Dói meu ponto de vista, o oceano ainda não se encontra preparado para as grandes invenções.
Um barco de pedra é uma grande invenção.
A água não o percebeu assim, paciência.

Gosto de inventar coisas.
Principalmente coisas inúteis.
Por isso mesmo umas pessoas chamam-me poeta, outras
vagabundo.
Infelizmente são mais as pessoas que me chamam de vagabundo.
Mas tudo bem.
O mundo sempre foi assim.
Sempre houve maior número de idiotas do que de outras pessoas.
A isso chama-se multidão.

Se um tipo fica sem voz vem logo uma pá de gente
oferecer remédios para a garganta,
mas depois, quando começamos a falar, ninguém nos ouve.
Dão-nos remédios para a garganta e depois
pedem-nos silêncio.
Não me parece bem.
Ou não nos davam remédios,
ou deixavam-nos falar.

Enfim.

O mundo é isto.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Baixio das Bestas X Tropa de Elite

É uma pena que ‘Tropa de Elite’ tenha vazado e acabado se transformando no filme brasileiro do momento antes de ter chegado às telonas. Isso porque o bafafá fez um outro filme nacional que já estreou nos cinemas passar sem muitos comentários, e eles eram necessários. Trata-se de ‘Baixio das Bestas’, o novo filme do diretor Cláudio Assis, que fez também ‘Amarelo Manga’.

Eu já vi os dois. Quer dizer, vi o ‘Baixio’ no cinema e a versão “inacabada” de ‘Tropa de Elite’ no DVD pirata. Minha intenção era ver ‘Tropa’ só no cinema, mas ao visitar um amigo justo na hora em que ele colocava a cópia pirata dele no DVD acabou atiçando minha curiosidade a ponto de não resistir.

Aparentemente os dois filmes não tem muito a ver. Mas ambos falam de um Brasil marginal e miserável, e ambos causam na gente aquela sensação de “caramba, isso não tem jeito de resolver”. Mas ‘Baixio’ ganha em importância ao virar suas lentes para um Brasil que consegue ser mais abandonado que as favelas cariocas.

A história da menina que é abusada por todos – pelo avô que ganha dinheiro com caminhoneiros que pagam para vê-la nua, pelo garoto classe média que a princípio se revolta com sua situação, mas depois se convence de que também pode usá-la como quiser e, mais tarde, pela dona do bar que passa a vendê-la para os caminhoneiros que passam por ali – é uma história que precisa ser encarada e remoída por um país que parece praticar a arte do abandono e do fechar de olhos.

Cláudio Assis volta suas lentes para esse Brasil com um olhar de documentarista, captando diálogos tão verdadeiros que parece nos transformar em forasteiros de passagem por uma cidade do interior de Pernambuco. Ver o filme é uma experiência que choca, ao testemunharmos diálogos que deixam claro o quanto a exploração e abuso de mulheres, sejam adultas ou não, parece fazer parte da cultura brasileira. A conversa da dona do bar com um cliente sobre a garota que passa a se prostituir é um soco no estômago: “Essa aí vai te render muito”, diz ele. “Deus te ouça”, ela responde, esperançosa e feliz.

O curioso é observar que por mais que tente, ‘Tropa de Elite’ não consegue o olhar neutro e documental de ‘Baixio’. Cláudio Assis nos leva por uma viagem de imagens explícitas e quase sem pudores que torna tudo tão real a ponto de precisar nos lembrar que estamos no cinema (na ótima cena em que Matheus Nachtergaele olha para câmera e diz que o bom do cinema é que lá podemos fazer o que quisermos).

‘Baixio’ ganhou merecidamente o prêmio de melhor filme no Festival de Brasília de 2006. Mas em 2007, pelo jeito, será escanteado pela atenção em torno de ‘Tropa de Elite’, assim como ‘Amarelo Manga’ foi sombreado por Carandiru. Deve ser porque mesmo na hora de olhar seus excluídos, o brasileiro concede privilégios, achando mais importante o que está mais próximo (do Rio e de São Paulo).

Mas se ‘Tropa’ é um bom filme ainda não sei dizer. Me parece perigoso adotar a visão do capitão do Bope como faz o filme, ainda mais num tempo em que os Estados Unidos tentam convencer a todos de que os fins justificam os meios na luta contra o mal. Mas vou esperar para ver no cinema o filme como deve ser visto antes de criticá-lo.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Celebridades

Zygmunt Bauman, o filósofo que percebeu que o mundo hoje é líquido, disse que as celebridades cumprem a função de ligar os vários grupos nesse mundo tão fragmentado nosso. É só sobre elas que nós conseguimos conversar com quem quer que seja, do cobrador do ônibus àquele machista imbecil que calhou de ter uma mesa ao lado da sua no escritório. Não que isso seja um ponto positivo para as celebridades. É sinal de que o mundo anda mesmo mal.

As celebridades têm também, me parece, a função de causar aquela sensação de "não sei se rio ou se choro" na gente. Melhor rir, claro. Recomendo, como experiência sociológica, uma visita à seção 'Celebridades' do UOL, que lista uma série de blogs de famosos brasileiros. Já imaginou o que te espera, né? Pois é pior. Logo na letra A, lemos o nome do Alexandre Frota. É um link para o site do moço.

A mensagem que ele deixou gravada para ouvirmos tão logo acessamos sua página inicial é algo simplesmente indescritível. Tive que clicar em "atualizar a página" para ouvir de novo. Vá você e confira... Depois, repare no fato de que não há, em nenhum lugar, nenhuma referência a nenhum de seus filmes pornôs ou ensaios para revistas... Na seção 'carreira', há espaço apenas para televisão e teatro. Quelôco!

A coisa é tão braba, que entre as chamadas de destaque da página de blogs, está o de Sônia Abrão. Olha que beleza o jeito como ela inicia seu último post: "Como não tenho nenhuma esperança de que Renam Calheiros vá ser tirado da presidência do Senado, já que a votação é secreta; como ta na cara que não ficaremos livres da CPMF e, pra variar, Lula está fora do País nos momentos cruciais, prefiro falar de novela". Não é ótimo? Que jeito sagaz de mostrar o quanto é antenada e bem-informada, mas que tudo bem, até pessoas inteligentes como ela se ocupam com novelas.

Isso me lembra um trecho do livro do Marcelo Mirisola, O homem da quitinete de marfim, que estou lendo porque fui com minha namorada à Feira do Livro ouvi-lo e acabei comprando para ajudar o cara. É bom dizer, não foi dinheiro jogado fora (foi mal Lourenço, decidi citar o Mirisola mesmo sabendo que você, um dos meus pouquíssimos leitores, não o suporta):

"Quero usar como epígrafe a questão levantada pelo autor de Adorável criatura Frankenstein, Ademir Assunção: 'O que se pode esperar de uma época em que pastores evangélicos, peruinhas siliconadas e pagodeiros xaropes se tornam grandes comunicadores, ocupando o espaço da circulação de idéias?' Nada, Ademir. Absolutamente nada".

Nada, tipo assim: "Oi, eu sou o Alexandre Frota... e carioca... rubronegro... e... amante da juventude e do esporte".