quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Feliz!

Neste fim de ano eu queria desejar feliz natal a todos vocês, meus amigos, e um ano novo com muito rock. E se eu pudesse escolher os mensageiros, certamente seriam os dois aí de baixo. A primeira menininha parece perfeita para entregar carinhosas mensagens natalinas (and she also reminds me of someone I really love...). Já o segundo garotinho parece trazer o rock na veia!

Beijos!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Não somos gênios

A primeira música minha que tomou forma, isso é, que eu mostrei para uma banda que fez um arranjo e a transformou em uma canção pronta para ser tocada em um show, chamava-se ‘Merda’. Era uma composição do Ju, meu irmão, com letra minha. Eu tinha, então, 16 anos de idade.

‘Merda’ era uma canção ingênua, mas que merecia crédito, afinal conseguia expressar raiva e desencanto de uma maneira juvenil sincera. Dizia tudo o que eu precisava dizer naquele momento.

A letra falava basicamente que não havia mais nada a ser criado, que estávamos condenados a nunca mais fazer algo inovador, depois de Shakespeare, Fellini, Mozart ou tantos outros gênios. Também lançava uma profunda descrença sobre a minha geração, lembrando que nunca mais surgiu um outro Che Guevara.

Como podem notar, desde cedo eu era pessimista e consciente das minhas limitações. A letra:

Merda

Tudo que você cria já foi criado
Seu Da Vinci de merda
Tudo que você pinta já foi pintado
Seu Van Gogh de merda
Tudo que você filma já foi filmado
Seu Fellini de merda

Seu Mozart de merda!

Tudo que você escreve já foi escrito
Seu Shakespeare de merda
Sua revolução falhou
Seu Guevara de merda
E seu jardim morreu

Seu Mozart de merda!

PS: Notem que eu demonstrava uma preocupação poética, terminando a segunda estrofe com um jardim morto... :-)

É curioso pensar em ‘Merda’ hoje e ver como aquela música já trazia elementos que caracterizariam toda a minha produção musical. O primeiro, mais óbvio, é a forma de compor em parceria com meu irmão, como ainda acontece.

Depois, a forma de me expressar, que rendeu e rende até hoje a acusação de ser pretensioso. Muitos colegas de segundo grau achavam uma pretensão imperdoável eu citar Fellini numa música de rock (e acho que o fato de repetir a letra depois do solo trocando Fellini por Griffith e Van Gogh por Caravaggio deixava meus detratores ainda mais irritados).

O que leva a um terceiro ponto, que também continua até hoje, que é a sensação de que sou incompreendido. Afinal, a música falava que no fundo eu e toda a minha geração éramos medíocres. Porém, me acusavam exatamente do contrário, de ser metido, por citar Fellini. Na época eu sentia algo parecido com o que sinto quando me chamam, no meio independente, de extremamente pop, sem perceberem que minhas músicas não são assim de degustação tão fácil. ‘Merda’ já dizia muito sobre mim. E foi bom perceber isso agora.

De onde vem a lembrança?

Eu lembrei de ‘Merda’ por causa de dois textos. O primeiro foi uma discussão a respeito das artes plásticas, em que Luciano Trigo cita em seu blog a análise de Ferreira Gullar sobre instalações de duas artistas plásticas contemporâneas: “Prefiro ficar em casa lendo Hamlet”, ele disse.

O outro texto está no site Música Folk e é sobre uma banda chamada Lestics. O Flávio Campos, autor do site, destacava a letra de Gênio, uma das composições do duo paulistano. Reparem o que eles dizem em ‘Gênio’, que vocês podem ouvir aqui:

Gênio

Shakespeare e os gregos
já disseram tudo antes
E você não quer viver
à sombra de gigantes

Três ou quatro genes
te separam da grandeza
Mas culpar seus pais
não é da sua natureza

Você tem a alma
atormentada de um gênio
Pena que te falte
uma pitada de talento

Só a solidão do topo
iria te acalmar
Todo mundo te entende
e isso te parece tão vulgar

Você tem a alma
atormentada de um gênio
Mas te falta
o talento

Achei a letra muito boa e me pareceu uma espécie de ‘Merda’ requintada, feita não por um adolescente invocado, mas por um grande letrista. Depois descobri que o Lestics é formado por Olavo Rocha e Umberto Serpieri, membros da ótima Gianoukas Papoulas, certamente uma das cinco bandas com as melhores letras do Brasil (ao lado de Proto, Superguidis, Mundo Livre SA e alguma outra que a gente deixa em branco para não cometer injustiças), o que explicou a qualidade de ‘Gênio’.

Por isso, além de relembrar ‘Merda’, também queria recomendar os caras e o blog do Luciano Trigo, o Máquina de Escrever. Pra ir no blog (indicação do Lourenço!), basta clicar aqui. Já ali embaixo, vocês podem ouvir uma música bem bacana do Gianoukas, chamada ‘Dois Perdidos’, cuja letra considero muito, mas muito boa mesmo. O disco todo deles vocês baixam aqui.

Beijos!

Dois Perdidos (Miranda/Rocha)

Parada no meio da sala
ela tem um quarto na mão
um outro quarto entre os dentes
e dois perdidos no chão

Achados dois quartos tangentes
aos tacos tortos do chão
os outros dois onde estão?
Um na mão e um entre os dentes

Dessas coisas não se abusa
dois quartos são suficientes
Ela guarda os do chão e usa
o da mão e o que estava entre os dentes

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

'A vida dos outros'

Amigos, assistam ao belo filme 'A vida dos outros'. Assisti ontem e, confesso, chorei emocionado com o final do filme, que se resolve tão bem depois de dosar na medida certa suspense, ternura e uma reflexão sobre o papel do artista e da arte nas nossas vidas.

O filme, do alemão Florian Henckel von Donnersmarck, se passa na Berlim oriental, antes da queda do muro, e me fez pensar sobre a nossa necessidade de refletir, hoje, sobre tempos de opressão de um passado recente, sejam as ditaduras da América do Sul, sejam os regimes totalitários da Europa. Não acho que se trate apenas de uma espécie de alerta às novas gerações. Quando um filme se propõe a isso apenas, acaba sendo fraquinho.

Acho que sentimos a necessidade de voltarmos ao tema porque percebemos que ainda vivemos tempos opressores. A opressão mudou de forma, mas temos que lutar todos os dias para não acabarmos rendidos ao conformismo, à inércia, ao modelo estéril de uma vida medíocre, consumista e sem graça, que nos é mostrada cada vez mais como a única possibilidade para os que têm juízo.

Filmes como 'A vida dos outros', que nos transportam para um tempo em que a opressão era mais facilmente identificada, servem como uma metáfora de nossa condição atual. Qualquer artista contemporâneo com o mínimo de sensibilidade irá se identificar com as questões que aqueles escritores, dramaturgos e atores da alemanha oriental enfrentavam há duas décadas.

Um filme encorajador, que mostra, brilhantemente, que a rendição é o suicídio do artista. E que novos tempos sempre chegam.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Os homens e o futebol

Antes de mais nada, devo dizer que acho legal jogar futebol e não tenho nada contra assistir a uma partida pela televisão. Copa do Mundo me empolga e ainda fico feliz quando o Flamengo ganha. Mas ver nos noticiários de domingo aqueles corintianos chorando me fez concluir que essa relação dos homens com o futebol é patética.

O futebol consegue transformar qualquer marmanjo numa versão piorada das fãs do Menudo nos anos 80. Pense bem: aquelas meninas, ingênuas que eram, davam a vida por uma banda que, de tão genuína, substituía os integrantes assim que eles completavam 16 anos. Alguma semelhança com os times de futebol? Toda.

Nos clubes, o troca-troca é intenso, deixando qualquer boy band, ou banda de chicos, no chinelo. O cara sai do Vasco direto pro Flamengo, do São Paulo pro Corinthians, do Corinthians pra time argentino!, tudo na maior. E o torcedor? Fica lá no estádio, histérico como uma garotinha, chorando e rezando pelo time de coração. Tem gente que até morre, vai entender.

Mas isso não é o pior. Ruim mesmo é o efeito Zorra Total que o futebol produz. Pros bem blindados, explico que o Zorra Total é o pior programa da televisão brasileira (se bem que ainda não assisti ao Conexão Xuxa...). Tem uns quadros que deveriam fazer você rir e, além de não conseguir, repetem sempre a mesma piada. Resume-se a um “Não espera eu molhar o bico” ou algo do tipo seguido de risadas pré-gravadas. Um tédio.

Pois toda segunda-feira, depois de um fim-de-semana movimentado nos gramados, qualquer escritório de trabalho vira uma espécie de Zorra Total:

_ Que chocolate ontem, hein? Esse seu time só me dá alegria!

_ E em 92, quando a gente ganhou de vocês, lá?

_ Ih, quem vive de passado é museu.

Os caras reproduzem diálogos desse tipo toda semana como se fossem algo inédito. E você, sentado na sua mesa, tem que ouvir aquilo com um sorriso amarelo no rosto.

Por fim, não bastasse torcer que nem fã do Menudo e agir como comediante de televisão brasileira, os homens querem mais. Querem algo muito pior. Querem ser jogadores de futebol! Aí não dá pra agüentar. Por mais legal que seja bater uma bolinha, é preciso muita paciência para comparecer a essas peladas de sábado à tarde.

Oswald de Souza, o matemático imortalizado pelo Fantástico, deve confirmar: é impossível reunir 12 homens gente-fina de uma só vez. Daí, qualquer pelada tem pelos menos uns quatro ou cinco imbecis completos, que usam a desculpa da competitividade para agirem como trogloditas.

São aqueles que reclamam como tias velhas porque você não passa a bola pra eles, metem a trava da chuteira na sua canela assim que têm a chance e acham que te empurrar pelas costas contra o alambrado é só jogo de corpo. Esses caras acreditam que são “esquentados” só dentro de campo e que depois do jogo todo mundo volta a ser amigo. Ser seu amigo, ô mau caráter? Acho que não.

Fora que quando entra em campo todo homem se transforma num bobalhão. Por culpa do avanço das transmissões de futebol, que captam os menores detalhes, as peladas se transformaram num teatro ridículo. É um tal de imitar os trejeitos dos jogadores, levando a mão à testa quando erra o passe, puxando a camisa um do outro na hora do escanteio, que sinceramente não dá.

Por isso, parei de ir às peladas há um bom tempo e assim sou mais feliz. E nunca mais tive de engessar nenhuma parte do meu corpo. É, porque, não bastasse isso tudo, jogar futebol é uma tentativa constante de se quebrar inteiro. Simplesmente incompreensível. No último domingo, na hora dos jogos decisivos (ooohhh!) fiz coisa melhor e fui assisitr ‘I´m not there’, o filme “sobre” o Bob Dylan. Falo dele aqui daqui uns dias. Amanhã mesmo de repente.