sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Mais eu na Trama Virtual

O pessoal da Trama Virtual se entusiasmou com a versão que fizemos (eu e meus comparsas) para 'Eu quero envelhecer', do Watson, que recenetemente disponibilizei para download na minha página lá.

Eles incluíram a versão no podcast deles, que você ouve aqui, e se animaram a fazer um 'Impressão Digital' comigo (aquelas perguntas tipo bate-bola da Marília Gabriela). Esse vocês conferem aqui.

Legal esse pessoal da Trama. Só não vou comentar o fato de um deles (mais um!!!!) ter achado que 'Eu quero envelhecer' é minha melhor música. Maldição!!!!!!

:-)

A dor e o prazer de viver

A palavra-poema que ilustra a capa, permitindo a leitura de "sou nós", dá a pista: em sua estréia solo, Marcelo Camelo fala de solidão e individualismo. E, ao mesmo tempo, de encontros.
Em 'Sou', o cantor e compositor parece seguir uma jornada de volta ao prazer de viver.

O começo é sombrio, lento. A primeira faixa, 'Téo e a gaivota', é introduzida por pausas longas, quase jazzísticas, para que a voz grave e noturna de Camelo anuncie: "Toda a dor repousa na vontade / todo amor encontra sempre a solidão". Nessa e nas próximas duas músicas, ele cantará o sofrimento que vem do desejo, da ausência (afinal, "tudo passa") e da solidão, que às vezes parece maior que tudo — "Lá vai Deus sem sequer saber de nós / saibamos pois / estamos sós" ('Saudade').

Como que cansado da escuridão, o artista percebe, em 'Doce solidão', que pode até estar só, mas é de todo mundo. A canção antecipa a singela e emocionante 'Janta'. O fim faz parte da vida e o "não dá" é um dos riscos do amor. Fazer o quê? Viver. "Eu ando em frente pra sentir saudade."

Depois da epifania de 'Janta', que tem participação de Mallu Magalhães, tudo ganha mais sol e alegria. Enquanto descobre o encanto de moças ('Menina bordada') e o bom papo dos velhinhos ('Copacabana'), Camelo passeia por cirandas, sambas, marchas de carnaval e batuques regionais. E lança festividade naquilo que começou introspectivo.

A produção é esmerada ('Santa chuva', já gravada por Maria Rita, aparece bela com arranjo de violão e cordas), os músicos (que incluem a banda indie Hurtmold e Dominguinhos) trazem riqueza aos arranjos e Camelo se consolida como um dos grandes compositores da música jovem brasileira. Uma obra tão boa quanto a vida.

*Publicado originalmente no jornal Correio Braziliense, 25/9/2008.

domingo, 14 de setembro de 2008

Deu também na...

Leiam a resenha sobre o disco 'Dias mais tranqüilos' publicada na seção Guia da edição de setembro, assinada por Rodrigo Arijon. Cotação: 3 estrelas.

Poeta indie de Brasília segue desacelerando em segundo disco

Há alguns anos, Beto Só não era sozinho. Com Os Solitários Incríveis, foi destaque do folk rock brasiliense com hits como 'Isadora' e 'Poema Rejeitado'. Surgia então um possível sucessor do Legião Urbana. Em carreira solo, a perda da coletividade refletiu-se em uma pegada menos roqueira, focando em letras ainda mais intimistas. Neste seu segundo álbum, Beto segue a busca por versos simples e intensos sobre o coração e o cotidiano, com instrumental e melodias mais bem elaboaradas e precisas. De início, ilustra a carreira indie em 'Vida Boa Não É Vida Ganha' ("O caminho é longo / mas não tenho pressa"), irresistível vestígio da fase anterior. Delicadamente raivosa, 'Abre a janela' é 'Perfect Day' com segundas intenções. A tristeza do bardo do cerrado predomina, mas as guitarras surgem no decorrer do disco, que se encerra com a otimista 'Com Leite e Café'. Haverá previsão de sol para Beto Só?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Convite para domingo

Amigos, convido vocês a assistirem, no próximo domingo (14/9), o programa Cênicos, apresentado pelos jornalistas Sérgio Maggio e Daniela Paiva. Vai ser apresentada uma entrevista comigo. Rola também um bate-papo sobre o rock em Brasília, do qual participaram o diretor da Cultura FM, Marcos Pinheiro; o vocalista da Superquadra, Cláudio Bull; e a Fernanda Popsonic, do Lucy and the Popsonics.

Cênicos vai ao ar às 20h, no canal 11 da NET e no canal 48 da Mais TV.

Abraços.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Hay que endurecer... ou Watson cospe bonito

Dia desses ouvi de novo uma velha frase: “os ignorantes são mais felizes”. Na época em que eu achava que sabia demais, costumava concordar. Hoje, me parece que poucos poderiam dizer isso sem parecer arrogantes pra cacete. Fiquei incomodado e pensei por que quem diz isso está errado. Sem me dar conta de que iniciava um exercício de associação livre, lembrei de Che Guevara. Duvido que ele tenha ficado infeliz quando foi tomando consciência da realidade social da América Latina. Resolveu agir, pensei. Certamente, a utopia o encheu de vontade, preencheu sua existência. O pouco que sei sobre Che me fez ver que a infelicidade não repousa no conhecimento. Repousa na paralisia.

É triste quem fica parado, concluí, enquanto ia para o trabalho a bordo de meu velho Escort. A associação livre continuou e cheguei ao Watson e sua bacaníssima ‘Emitivi apresenta’, a música mais bem cuspida que vi surgir entre os independentes recentemente. E saquei: não é à toa que gosto tanto dessa canção.

É impressão minha ou estamos ficando muito domesticados? Será que o medo de ficarmos de fora dos poucos espaços que essas super-estruturas nos reservam – como uma espécie de cota para pobres coitados que sonham com a fama – faz a gente preferir não ter senso crítico? Ouvindo a música do Watson, que vocês baixam aqui, concluí que sim. Muito mais que ingênua, a canção é necessária e corajosa. Há que se lutar pelo rock. Pelo rock, o estilo musical? Não, pelo rock-postura-perante-as-coisas.

De que adianta ser independente, roqueiro, e ficar babando o ovo de quem não nos oferece nada que preste? Pra que correr atrás dessa babaquice Rio-de-Janeiro-posso chegar-na-Globo, se outro caminho está aí, se escancarando na nossa frente? Pra que puxar saco de galerinha de metrópole incapaz de olhar além de suas fronteiras?

“Rir de mentira pra empresário”? Palmas para o Watson, que lembrou que tem voz pra falar, dedo indicador pra apontar e botão de foda-se pra ligar. Valeu, Watson.

A letra:

Quando começa a cortejar
Rir de mentira pra empresário
Babar o ovo do Faustão
Sair em foto calendário

Você vai dar uma entrevista
E para o meu incrível choque
Já foi dizendo pra revista
"Eu semrpe lutei pelo rock"

Você não luta pelo rock
E é bom que disso se toque
Você não luta pelo rock

Quando começar a namorar
Filho da indústria musical
Chapar em casa de global
Pra onde foi sua moral?