
É triste quem fica parado, concluí, enquanto ia para o trabalho a bordo de meu velho Escort. A associação livre continuou e cheguei ao Watson e sua bacaníssima ‘Emitivi apresenta’, a música mais bem cuspida que vi surgir entre os independentes recentemente. E saquei: não é à toa que gosto tanto dessa canção.
É impressão minha ou estamos ficando muito domesticados? Será que o medo de ficarmos de fora dos poucos espaços que essas super-estruturas nos reservam – como uma espécie de cota para pobres coitados que sonham com a fama – faz a gente preferir não ter senso crítico? Ouvindo a música do Watson, que vocês baixam aqui, concluí que sim. Muito mais que ingênua, a canção é necessária e corajosa. Há que se lutar pelo rock. Pelo rock, o estilo musical? Não, pelo rock-postura-perante-as-coisas.
De que adianta ser independente, roqueiro, e ficar babando o ovo de quem não nos oferece nada que preste? Pra que correr atrás dessa babaquice Rio-de-Janeiro-posso chegar-na-Globo, se outro caminho está aí, se escancarando na nossa frente? Pra que puxar saco de galerinha de metrópole incapaz de olhar além de suas fronteiras?
“Rir de mentira pra empresário”? Palmas para o Watson, que lembrou que tem voz pra falar, dedo indicador pra apontar e botão de foda-se pra ligar. Valeu, Watson.
A letra:
Quando começa a cortejar
Rir de mentira pra empresário
Babar o ovo do Faustão
Sair em foto calendário
Você vai dar uma entrevista
E para o meu incrível choque
Já foi dizendo pra revista
"Eu semrpe lutei pelo rock"
Você não luta pelo rock
E é bom que disso se toque
Você não luta pelo rock
Quando começar a namorar
Filho da indústria musical
Chapar em casa de global
Pra onde foi sua moral?