quinta-feira, 24 de julho de 2008

Críticas de 'Dias mais tranqüilos'

Saíram algumas críticas legais sobre o disco novo. Abaixo, a do Tiago Faria, no Correio Braziliense. Mais abaixo, os links para vocês lerem as outras.

Depois do temporal
Tiago Faria (Correio Braziliense)
Logo no título, ele promete dias tranqüilos. Mas, três anos depois de expurgar tristes canções de amor em ótima estréia (Lançando sinais), Beto Só retorna com um álbum que sugere melancolia mesmo quando força o sorriso. "Sombras e nuvens, nunca mais", ele avisa, em Com café e leite. Que ninguém leve ao pé da letra o elogio à serenidade. Como um primo brasiliense de 4, do Los Hermanos, este é um disco de frágil placidez – um desconfiado suspiro de alívio depois de um longo temporal.
"Sou todo medo, mas metade sou coragem", admite, em Vida boa não é vida ganha. O auto-retrato, esse sim, soa sincero e preciso. Em Lançando sinais, Beto impressionava como um autor de melodias maduras para versos inseguros – um pop introspectivo, de forte carga confessional. Sem o efeito-surpresa provocado pelo trabalho anterior, Dias mais tranqüilos prefere a conquista lenta, sutil. O discurso faz o possível para evitar a agonia juvenil de Isadora e Meus olhos, mas não descamba em marasmo.
Em um texto de blog, Beto elegeu O vencedor "a canção mais importante dos anos 2000". O hit do Los Hermanos funciona como um guia eficiente para Dias mais tranqüilos. "Levo a vida devagar pra não faltar amor", cantava Marcelo Camelo. A filosofia parece mover este renovado Beto Só, que a reforça com um cauteloso grito de guerra em Vida boa não é vida ganha: "O caminho é longo, mas não tenho pressa".
Para um álbum que abre e fecha em clima otimista, o velho desespero escorre em canções como Meu velho Escort e Abre a janela. "Mais um falso início, e só vento em minhas mãos", lamenta Beto em O espaço de nada, uma das recaídas cruéis do disco. Como narrador de tragédias amorosas, ele continua afinado. Mas é nos trechos menos sombrios que se arrisca de verdade. Aí, não falta coragem. A gentileza de Todos logo ali, Os dias mais tranqüilos e Com café e leite parece até homenagem ao Renato Russo ensolarado de O descobrimento do Brasil (1993). "Vamos sair pra ver o sol", conclama.
Para reforçar as nuances do letrista, os teclados de Tiago Ianuck e o violoncelo de Ataíde Mattos acrescentam uma gama de detalhes a baladas levadas em guitarra, violão e piano, tratadas sem grandiosidade pela produção de Philippe Seabra (o piano delicado de Desatento, à Elliott Smith, é ponto alto). Até a capa do álbum, reprodução de obra de Cecília Mori, colabora para a atmosfera de um período de estiagem, com céu colorido e árvores secas. "E se chover, pode deixar. Deixa cair se é pra limpar", conclui Beto. Cada vez mais solitário no entardecer da capital do rock, ele segue em frente.
Outras críticas
> Jornal do Estado (PR) // "Um episódio brilhante da música alternativa brasileira." Ler
> Site Alto Falante // "Um disco com uma ternura e inconformismo que soam verdadeiros." Ler
> Blog Coisa Pop // "Com 'Dias Mais Tranquilos', Beto Só, além de consolidar sua carreira com um bonito trabalho, faz um disco que alimenta não o coração, mas a alma." Ler
> Blog De Inverno // "Um disco pra se curtir do começo ao fim, e que mostra que, longe dos hypes vazios e das figurinhas carimbadas de sempre, existe sim vida inteligente e música de primeira categoria feita por gente de verdade nesse Braziú!" Ler

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Carinho

Porra, os meus amigos são foda! Texto do Rinalds que ele manteve mocosado e que só hoje descobri, graças ao Google...

Beijo, Rinaldo.

domingo, 13 de julho de 2008

Renato Russo e Picasso (sem trocadilhos)

Não é pouca gente que tem uma análise, teoria ou crítica sobre Renato Russo. Mas dias desses comecei a pensar em uma tese que me pareceu um pouquinho original, a ponto de arriscar dividi-la com vocês. Antes, porém, devo explicar que aqui em Brasília parece haver três tipos de roqueiro (com ou sem banda) — os que desprezam totalmente o Renato; os que acham o começo da Legião legal, mas a partir do quarto ou quinto disco a coisa foi ficando ruim; e, por fim, os que acham o cara tão foda que não conseguem sair da sombra dele.
Calma. Se você não se sentiu representado por nenhuma das categorias, digo que eu também não me sinto. Eu gosto pacas de Legião. E continuei gostando mesmo nos discos finais. ‘Meninos e Meninas’, ‘Teatro dos Vampiros’, ‘Vinte e nove’ figuram entre minhas músicas prediletas da banda, ao lado ‘Geração Coca-Cola’ e ‘Tempo Perdido’. Mas devo dizer que sempre me senti um estranho na minha turma, formada por caras que ou não dão muita bola pra Legião ou só curtem o começo.
Minha teoria parte da idéia de que o Renato não seria tão popular se ele não tivesse dado a guinada que deu a partir do ‘Quatro Estações’. Tudo bem, ele já tinha feito ‘Eduardo e Mônica’. Mas nos quarto, quinto e sexto discos ele arrisca uma poesia tão cotidiana que assustou de montão os roqueiros. Falo de versos como "Me empresta um par de meias e a gente faz uma feijoada", ou "Deixo a onda me acertar", ou "Acho que gosto de São Paulo e gosto de São João", ou ainda "Ela me disse que trabalha nos Correios e que namora um menino eletricista". Não me esqueço do dia em que, depois de ouvir o ‘V’ e ter achado ‘Vento no litoral’ meio brega, abri a janela e vi o rapaz que lavava os carros lá de casa todo feliz cantado a tal canção, que tocava na rádio que ele costumava ouvir (também brega para mim).
Bruno Golemvsky, ator que encarnou Renato na peça teatral sobre a vida dele, disse uma vez que o líder da Legião podia ser um artista cult, mas quis ser popular. Ele mandou bem demais quando falou isso. Porque o lado popular de Renato foi mesmo uma opção. Ele já tinha demonstrado erudição e capacidade de compor versos complexos, mas decidiu mudar. Nenhum outro roqueiro brasileiro foi tão ousado como Renato, nem tão bem sucedido ao promover uma guinada na forma de compor.
Mas só pode fazer isso quem já acumulou muita bagagem. Renato leu, consumiu muita música, era íntimo da obra de grandes autores. Por mais que ousasse, não corria o risco de regredir e escrever algo de má qualidade. Um equívoco aqui outro ali, é claro, podiam acontecer. Mas ele havia estabelecido uma capacidade tamanha de escrever letras de canções que conseguiu produzir versos simples, mas nada simplistas.
Quando ouço as músicas da fase final da Legião, além de me inspirar a escrever de forma cada vez mais cotidiana, lembro daqueles vários esboços, complexos pacas, que Picasso fez de um touro até chegar à forma final, composta de cinco linhas. No final, Renato parecia compor assim. Economizando nos traços, mas não no significado de suas canções.
PS: Pros desafetos que pensaram que me encaixo no terceiro tipo de roqueiro brasiliense, que não conseguiu sair da sombra de RR, só tenho uma coisa a dizer: vocês estão enganados.