O sujeito foi muito feliz e sintetizou o que provavelmente mais de 2/3 da população mundial (chutando, sem trocadilho, por baixo) pensavam sobre a era política que chegava ao fim com o encerramento do mandato de Bush. Ao lançar os sapatos contra o então homem mais poderoso do mundo, o jornalista lavou a alma de muita gente. Gesto preciso, conciso e feliz. Não à toa, a ação virou escultura, inaugurada ontem na cidade de Tikrit, a 130km de Bagdá.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
A sapatada eternizada
Dizem que uma obra de arte se torna grande quando consegue captar e condensar o espírito de uma época. Às vezes, é uma frase ou um gesto que consegue simbolizar, de forma instantânea, o que todos - ou muitos - estão pensando. E aí, parece que o gesto mais feliz desse fim de década foi a sapatada do jornalista iraquiano em George Bush.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
A criatura
Brasília é minha. É nossa, dos brasilienses – nascidos aqui ou não. Brasília é a minha história. Como já disse aqui antes, não existiria se não fosse Brasília. Por isso, pensar que ela poderia não ter sido criada me assusta profundamente.
Hoje, leio nos jornais que Oscar Niemeyer se diz surpreso com a polêmica em torno de seu projeto da Praça da Soberania, que, se construída, fará surgir no amplo gramado da Esplanada dos Ministérios um obelisco de mais de 100 metros de altura e um edifício para abrigar uma galeria dos presidentes da República.
Surpreso, estupefato até, fico eu ao reparar que o gênio não percebeu que, há algum tempo já, Brasília deixou de ser uma tela em branco (ou vermelha, como a terra que há aqui), para que o artista invente sem objeções. Suas invenções, por mais geniais que continuem sendo, hoje afeta pessoas, gente esquisita, única, singular – os tais brasilienses.
"Querem defender o monumento de seu próprio criador", alfineta o amigo de Niemeyer, Jayme Zettel, ex-presidente do Iphan, o órgão que, hoje sob nova direção, contesta a construção da praça. O monumento, senhor Zettel, essa criatura fascinante chamada Brasília, cresceu, ganhou vontade própria e, junto, o direito de espernear, brigar pelo que acredita ser o melhor para ela. E isso pode significar dizer não ao seu criador, sim.
A criatura ainda olha desconfiada para a imensa biblioteca vazia construída alguns anos atrás, capricho sem muita utilidade, pelo menos até agora. Mais um monumento na nossa paisagem? Pra quê? Será que queremos? Temos o direito de perguntar.
Brasília pode até decidir que quer a nova praça e daqui a alguns anos não conseguir se imaginar sem ela. Mas o que Brasília não pode, e que bom que não está fazendo isso, é aceitar que simplesmente a avisem que uma nova construção será erguida em seus gramados – sem discutir, sem entender bem do que se trata, sem opinar.
Brasília é minha, é nossa, dos brasilienses. Não é demais pedirmos para sermos ouvidos. Pois não é demais quando a criatura pede para exercer seu direito de seguir o próprio caminho, que pode ser diferente daquele imaginado por seu criador.
Niemeyer se diz em uma “trincheira”, apoiado por seus amigos. Deveria ansiar pelo apoio dos brasilienses, os únicos que podem dar legitimidade ao seu novo projeto.
Hoje, leio nos jornais que Oscar Niemeyer se diz surpreso com a polêmica em torno de seu projeto da Praça da Soberania, que, se construída, fará surgir no amplo gramado da Esplanada dos Ministérios um obelisco de mais de 100 metros de altura e um edifício para abrigar uma galeria dos presidentes da República.
Surpreso, estupefato até, fico eu ao reparar que o gênio não percebeu que, há algum tempo já, Brasília deixou de ser uma tela em branco (ou vermelha, como a terra que há aqui), para que o artista invente sem objeções. Suas invenções, por mais geniais que continuem sendo, hoje afeta pessoas, gente esquisita, única, singular – os tais brasilienses.
"Querem defender o monumento de seu próprio criador", alfineta o amigo de Niemeyer, Jayme Zettel, ex-presidente do Iphan, o órgão que, hoje sob nova direção, contesta a construção da praça. O monumento, senhor Zettel, essa criatura fascinante chamada Brasília, cresceu, ganhou vontade própria e, junto, o direito de espernear, brigar pelo que acredita ser o melhor para ela. E isso pode significar dizer não ao seu criador, sim.
A criatura ainda olha desconfiada para a imensa biblioteca vazia construída alguns anos atrás, capricho sem muita utilidade, pelo menos até agora. Mais um monumento na nossa paisagem? Pra quê? Será que queremos? Temos o direito de perguntar.
Brasília pode até decidir que quer a nova praça e daqui a alguns anos não conseguir se imaginar sem ela. Mas o que Brasília não pode, e que bom que não está fazendo isso, é aceitar que simplesmente a avisem que uma nova construção será erguida em seus gramados – sem discutir, sem entender bem do que se trata, sem opinar.
Brasília é minha, é nossa, dos brasilienses. Não é demais pedirmos para sermos ouvidos. Pois não é demais quando a criatura pede para exercer seu direito de seguir o próprio caminho, que pode ser diferente daquele imaginado por seu criador.
Niemeyer se diz em uma “trincheira”, apoiado por seus amigos. Deveria ansiar pelo apoio dos brasilienses, os únicos que podem dar legitimidade ao seu novo projeto.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Preconceito 2
E por falar em preconceito, parte do tema do post anterior, hoje li uma notícia de entortar a cabeça, na Folha Online: pesquisa da USP diz que 97% dos brasileiros não se consideram racistas, mas 98% conhecem alguém que é.
O que me faz questionar: os 3% que disseram ser racistas são pessoas que até merecem nossa admiração por reconhecerem que têm preconceito ou são só bossais que não estão nem aí? De que forma eu responderia a pesquisa se fosse entrevistado? Admitiria o preconceito aprendido durante anos e contra o qual luto ou me encaixaria nos 97%?
Isso me lembrou da época em que fui para a África do Sul, em 1994. Já contei aqui mesmo a aventura com o elefante num safári. Eu estava com antenas ligadas para manifestações racistas, guardando na memória conversas preconceituosas, quando participei da seguinte conversa, com uma estudante de 17 anos:
_ Eu vou viajar para a praia, eu disse.
_ Para qual?
_ Durban, respondi.
_ Ah, Durban é muito bonita. O único problema é que tem muitos pretos.
Chocados? Preparem-se para o detalhe: a estudante era brasileira, e também estava fazendo intercâmbio na África do Sul. O comentário mais racista que ouvi no país que instituiu o apartheid foi dito por uma brasileira. Pois é.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Música em espanhol: desaprendendo a não gostar com Sr. Chinarro
A idéia é falar aqui da nossa resistência à música cantada em espanhol. E vou mesmo fazer isso um pouco mais adiante. Mas não resisti a começar o texto com uma pequena história, dessas que fazem vocês rirem de mim um pouco (um dia ainda escrevo sobre essa minha irresistível tendência de me autosacanear).
Trata-se de uma conversa curtinha, que tive com um crítico musical durante o show da banda Sr. Chinarro, da Espanha, que rolou no Festival El Mapa de Todos, no fim do ano passado. Eu tinha tocado no evento dois dias antes e estava ansioso para conhecer a banda liderada por Antonio Luque. Lá pela segunda música, o jornalista se dirige a mim:
_ Esperava mais. Tô achando meio 'aburrido' isso.
_ Eu tô gostando, respondi inocentemente.
_ Eu imaginei mesmo que você estivesse gostando, soltou o crítico, também inocentemente espero, sem se dar conta da crítica à minha música que escapava ali.
Pensei que daquele lado não viriam grandes elogios ao meu show nem ao do Sr. Chinarro. Mas não importava. Sei que não agradarei a todos (talvez à maioria...) e, independentemente da opinião do jornalista, aqueles espanhóis se transformaram na trilha sonora dos meus meses pós-El Mapa.
Eu e Carol compramos os dois discos mais recentes da banda, que foram importados para meu I-Pod. Hoje mesmo, passei o dia todo dirigindo e ouvindo as músicas de Luque e me dei conta de que é a primeira vez que um artista que canta em espanhol se torna um dos meus favoritos.
Ter participado do El Mapa de Todos (pra quem não sabe, o festival reuniu em Brasília bandas do Chile, Uruguai, Argentina, Espanha, Peru, Portugal e Brasil) abriu minha mente. A língua espanhola deixou de ser algo impossível de ser combinado com música pop e passou a soar bem aos meus ouvidos preconceituosos.
A apreciação artística é uma questão de aprendizado. E nunca foi tão imperativo para mim desaprender. Se há uma real barreira para o Brasil fazer parte da integração musical ibero-americana, me parece que é o preconceito à sonoridade do espanhol. Aprendemos a ouvir música em português e inglês. Precisamos desaprender a lição de que só nessas duas línguas o rock soa bem.
As melodias e os arranjos de Sr. Chinarro foram o que me motivaram a ouvir seus discos sem parar. E com o tempo passei a admirar a pronúncia de certas palavras, que se encaixam de forma tão singular nas canções. Palavras como "refrigerador" ou "autobus", ou versos como "una pared desnuda y blanca", cantadas de um jeito tão charmoso (isso, claro, se nos abrirmos o suficiente para nos encantarmos com algo que a princípio pode soar estranho).
Foi ouvindo a canção 'Anacronismo', do álbum 'Ronroneando', que percebi que ouvir música em espanhol traz a possibilidade de uma nova experiência poética/estética pra mim. Ou de que outra forma ouviria os versos abaixo?
"Ay, ay, ay, ¿por qué no estamos juntos?
Ay, ¿por qué me enamoré en el día de difuntos?"
Ouça: 'El gran poder'
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Show nesta sexta
Amigos, na próxima sexta-feira (dia 16) tem Beto Só, Superguidis e The Pro, no Gate´s Pub (403 sul).
A partir das 23h, R$ 12.
Vamos comemorar o fato do nosso disco, 'Dias mais tranqüilos' (com trema!), ter sido eleito o melhor independente pelo Correio Braziliense. Éééééé!
Abraços e até lá!
A partir das 23h, R$ 12.
Vamos comemorar o fato do nosso disco, 'Dias mais tranqüilos' (com trema!), ter sido eleito o melhor independente pelo Correio Braziliense. Éééééé!
Abraços e até lá!
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