Para preparar o novo disco (com lançamento previsto pro começo de 2011), eu e o Ju chamamos o Ataide Mattos, brilhante violoncelista, e elaboramos, em diversos ensaios, os arranjos para violão, guitarra e violoncelo de todas as canções. Só depois desse trabalho pronto, convidamos o Txotxa e o Tharsis Campos para pensarem arranjos de bateria e baixo, respectivamente. Eu selecionei dois trechos de um desses ensaios iniciais com o Ataide para postar na minha página no YouTube. Neles, vocês conferem a gente tocando as músicas 'Boas intenções' e 'Passado melhor', que posto também aí embaixo, com a letra.
Abraços.
Passado melhor
(Beto Só e Ju)
De tanto penar
Já não sei o que esperar
Veja só, me deixei carregar
De tanto girar
O mundo afastou meus amigos
E não sei onde estou
Tenho medo da situação
Não é segredo:
Nossa juventude, nosso heroísmo
São agora recordação
E pela primeira vez
O passado me parece melhor
Então estufo o peito
E enfrento esse tempo pior
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Vaga ideia
As músicas dos vídeos postados abaixo podem dar uma vaga ideia de como será meu próximo disco. Ou elas influenciaram diretamente alguma composição ou serviram de referência na hora de elaborarmos os arranjos. É também uma boa mostra do que mais gosto de ouvir e por isso resolvi dividi-las com vocês. Espero que gostem. Bem, quanto ao novo CD, estamos na fase de mixagem e ele deve sair lá por março/abril. Estou torcendo muito pra que dê pra lançar um single na internet ainda este ano. Vamos ver... Ah! Também dá pra ter uma pequena ideia de como será a arte da capa. As ilustrações estão sendo feitas pelo Fernando Lopes, cujo trabalho dá pra apreciar aqui. Abraços!
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
sábado, 11 de dezembro de 2010
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Pílulas - pequenos fatos dignos de nota
Meu amigo Daniel Spot me contou esta: uma colega de trabalho dele quis ouvir meu CD depois de receber por e-mail o texto que escrevi sobre meu voto para a Dilma. Legal. Só espero que os eleitores do Serra não tenham me colocado na lista de artistas a não serem ouvidos...
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
'Boas intenções' no twitcam
Amigos, comecei alguns testes no twitcam. A ideia é fazer um ensaio aberto com Ju (guitarra) e Ataide (violoncelo) quando lançarmos o primeiro single do disco, no mês que vem. As duas músicas que iremos lançar ainda estão sendo decididas, mas abaixo posto um vídeo-teste que fiz com 'Boas intenções', a canção que abrirá o CD. Abraços!
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
E por falar em bandas-irmãs
O tempo passou e deixar de recomendar outro lançamento superbacana, supercuritibano, supereu. O Hotel Avenida, do Ruffato, Ivan e amigos, lançou um DVD do show que eles fizeram no Rock de Inverno do ano passado, na capital paranaense. Foi o festival mais bacana do qual já participei (foi mal, Fernando, o El Mapa de Todos foi foda também!). Vocês podem ver todas as músicas no Youtube, aqui. Abaixo, 'Só o amor pode partir seus joelhos'.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
'Aos abutres', obra impecável do Lestics
Bandas que encaram o lema "faça você mesmo" existem muitas por aí. Agora, que fazem tão bem como o Lestics, sei não. Já vai mais de mês que recebi o disco novo dos caras em casa, privilégio dos maiores, e ainda não consegui parar de ouvir. 'Aos abutres' é um dos melhores lançamentos deste ano com certeza, todo bolado, composto, arranjado e produzido pelos caras. Onze canções que mantêm a qualidade autoral de 'Hoje', o disco anterior do quinteto.
O melhor de ouvir Lestics é que eles sabem fazer músicas boas, agradáveis, que dão vontade de cantar junto, e ao mesmo tempo muito bem cuidadas. Os arranjos são impecáveis, com detalhes bacanas a todo momento que complementam as melodias da voz ou fazem o troço ficar tenso e explodir na hora certa. As soluções harmônicas também sempre trazem uma surpresinha que faz toda a diferença. E, claro, tem as letras. Quem gosta de ouvir músicas com letras boas tem a obrigação de conferir o trabalho da banda paulista mais legal que já ouvi até hoje.
Em 'Aos abutres', toda a riqueza sonora que descrevi aí em cima vem acompanhada de palavras esculpidas com cuidado por Olavo Rocha, o melhor letrista do rock brasileiro na atualidade (na minha modesta e convicta opinião). Rimas elegantes e nada óbvias te levam por um turbilhão de imagens e reflexões sobre a vida, com profundidade rara que só poetas observadores da gente sabem fazer.
Olavo é um poeta. Às vezes, me lembra Julio Cortázar e seu manual de instruções em 'Histórias de cronópios e famas', descrevendo passo a passo uma cena do cotidiano. Ele já havia feito isso em 'Dois perdidos', canção da época dos Gianoukas Papoulas, e em uma das estrofes de 'Plano de fuga', do 'Hoje'. Neste novo álbum, em 'Elevação', ele nos faz enxergar todos os instantes de uma pessoa pegando o elevador e indo a um difícil encontro. Tomo a liberdade de dividir os versos com vocês:
Aperta o botão. Espera.
Abre a porta, olha o degrau
da caixa vermelha e fatal
como a boca de uma fera
Escolhe o número tal
do andar do apartamento
do prédio espetado no centro
da sua cidade natal
Faz silêncio e fica atento
ao barulho da polia
ao cabo que se desfia
e assovia como o vento
Recita a Ave-Maria
que esse elevador antigo
não calculou o perigo
de chegar onde queria
Era o seu último abrigo
Atravessa o corredor
tira do bolso o rancor
fecha a porta e vem comigo
Como em 'Elevação', Olavo aponta seu olhar para o drama moderno que é a perda de autonomia nas nossas vidas. Como heróis trágicos e urbanos, jogamos fora nossa vida "tentando agradar quem não se importa e dando a quem se importa muito pouco". Somos esse sujeito que "dorme e acorda cansado de esperar pelos dias de glória", que está à mercê de um destino que pode nos fazer "dormir como um homem de bem e acordar como fora-da-lei" e vive numa terra de cegos, "onde quem tem um olho é solitário". Vivemos um tempo 'Vazio': "Quase tudo faz sentido, mas não tem importância".
A salvação, ou os momentos de prazer pelo menos, parece residir na traquinagem infantil ('Dorme que passa': "Mordida de urso dói / Fumar dinamite dói / Brincar bem bonzinho não dói, mas também não tem graça") e no encontro amoroso descrito, mais uma vez com rimas elegantes, em 'Parto normal': "As flores no espelho / Os quadros no chão / Os livros embaixo da cama / O Zé Colméia na televisão / O calor do seu colo / O barulho da rua / A última cena de um sonho / A minha boca colada na sua / O dia nasceu de parto normal / E não importa a cara que ele vai ter / A gente vai gostar dele igual".
E como os caras levam a sério o lema "faça, e faça bem, você mesmo", eles nos presenteiam com um site bonito e superprático, onde precisamos clicar apenas uma vez nas capas dos discos (já são quatro!) para os recebermos inteirinhos e de graça nos nossos computadores, e clipes made for YouTube que comprovam o talento e a criatividade de Olavo, Lirinha, Marcelo Patu, Umberto Serpieri e Xuxa. Como esse aí embaixo, de 'Travessia', que abre o disco.
O melhor de ouvir Lestics é que eles sabem fazer músicas boas, agradáveis, que dão vontade de cantar junto, e ao mesmo tempo muito bem cuidadas. Os arranjos são impecáveis, com detalhes bacanas a todo momento que complementam as melodias da voz ou fazem o troço ficar tenso e explodir na hora certa. As soluções harmônicas também sempre trazem uma surpresinha que faz toda a diferença. E, claro, tem as letras. Quem gosta de ouvir músicas com letras boas tem a obrigação de conferir o trabalho da banda paulista mais legal que já ouvi até hoje.
Em 'Aos abutres', toda a riqueza sonora que descrevi aí em cima vem acompanhada de palavras esculpidas com cuidado por Olavo Rocha, o melhor letrista do rock brasileiro na atualidade (na minha modesta e convicta opinião). Rimas elegantes e nada óbvias te levam por um turbilhão de imagens e reflexões sobre a vida, com profundidade rara que só poetas observadores da gente sabem fazer.
Olavo é um poeta. Às vezes, me lembra Julio Cortázar e seu manual de instruções em 'Histórias de cronópios e famas', descrevendo passo a passo uma cena do cotidiano. Ele já havia feito isso em 'Dois perdidos', canção da época dos Gianoukas Papoulas, e em uma das estrofes de 'Plano de fuga', do 'Hoje'. Neste novo álbum, em 'Elevação', ele nos faz enxergar todos os instantes de uma pessoa pegando o elevador e indo a um difícil encontro. Tomo a liberdade de dividir os versos com vocês:
Aperta o botão. Espera.
Abre a porta, olha o degrau
da caixa vermelha e fatal
como a boca de uma fera
Escolhe o número tal
do andar do apartamento
do prédio espetado no centro
da sua cidade natal
Faz silêncio e fica atento
ao barulho da polia
ao cabo que se desfia
e assovia como o vento
Recita a Ave-Maria
que esse elevador antigo
não calculou o perigo
de chegar onde queria
Era o seu último abrigo
Atravessa o corredor
tira do bolso o rancor
fecha a porta e vem comigo
Como em 'Elevação', Olavo aponta seu olhar para o drama moderno que é a perda de autonomia nas nossas vidas. Como heróis trágicos e urbanos, jogamos fora nossa vida "tentando agradar quem não se importa e dando a quem se importa muito pouco". Somos esse sujeito que "dorme e acorda cansado de esperar pelos dias de glória", que está à mercê de um destino que pode nos fazer "dormir como um homem de bem e acordar como fora-da-lei" e vive numa terra de cegos, "onde quem tem um olho é solitário". Vivemos um tempo 'Vazio': "Quase tudo faz sentido, mas não tem importância".
A salvação, ou os momentos de prazer pelo menos, parece residir na traquinagem infantil ('Dorme que passa': "Mordida de urso dói / Fumar dinamite dói / Brincar bem bonzinho não dói, mas também não tem graça") e no encontro amoroso descrito, mais uma vez com rimas elegantes, em 'Parto normal': "As flores no espelho / Os quadros no chão / Os livros embaixo da cama / O Zé Colméia na televisão / O calor do seu colo / O barulho da rua / A última cena de um sonho / A minha boca colada na sua / O dia nasceu de parto normal / E não importa a cara que ele vai ter / A gente vai gostar dele igual".
E como os caras levam a sério o lema "faça, e faça bem, você mesmo", eles nos presenteiam com um site bonito e superprático, onde precisamos clicar apenas uma vez nas capas dos discos (já são quatro!) para os recebermos inteirinhos e de graça nos nossos computadores, e clipes made for YouTube que comprovam o talento e a criatividade de Olavo, Lirinha, Marcelo Patu, Umberto Serpieri e Xuxa. Como esse aí embaixo, de 'Travessia', que abre o disco.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Alguns amigos me perguntaram por que voto na Dilma. Eu respondo
Se eu ainda frequentasse divãs e fosse ter um papo solitário com meu analista, certamente chegaria à conclusão de que voto na Dilma por puro egoísmo. E este texto é para explicar por quê. Eu cresci com uma culpa muito grande. Quando era criança, com sete ou oito anos, meu pai me levou pra conhecer a pobreza. Pediu para que o técnico do time de futebol que ele apoiava, fornecendo uniformes, chuteiras e bolas, colocasse eu e meu irmão para jogar. Passei a conviver com garotos bastante humildes das cidades-satélites de Brasília, muitos deles subnutridos e desdentados, que a princípio pareciam assustadores, mas depois, percebi, eram apenas pobres. Como se estivessem me acuando (estavam sendo apenas curiosos), alguns me enchiam de perguntas. Queriam saber como era minha casa, se era verdade que ela tinha piscina, como era andar num carro tão chique como o do meu pai. Eu não conseguia deixar de me sentir constrangido e de pensar que eu tinha muita sorte de ter nascido na família em que eu tinha nascido. Todo sábado de manhã, quando meu pai nos levava até os jogos, ia sofrendo por saber que encontraria mais uma vez aquele tipo de vida difícil, que poderia ter sido a minha, caso eu tivesse nascido em outra casa.
Continuei jogando bola ali até uns 12 anos, quando comecei a perceber que, muitas vezes, era escalado só por ser filho de quem eu era. Certa manhã, cheguei atrasado, e todas as camisas já tinham sido distribuídas. Ao me ver, o técnico pediu para que um dos garotos, o menorzinho do grupo, tirasse a dele e a entregasse para mim. Ele obedeceu segurando o choro e agarrou com profunda tristeza a nota de alguns cruzeiros que o técnico deu a ele para que ele comprasse um picolé. Era uma recompensa por estar sendo tirado do time para que eu jogasse em seu lugar. Eu já era velho o bastante para entender a injustiça que estava acontecendo ali, mas novo demais para recusar a camisa. Eu a vesti com profunda vergonha e joguei querendo que aquele dia acabasse logo. Decidi não voltar mais ao time. Não era um bom jogador. E só era escalado por ser o filho do dono da bola.
Eu cresci acostumado a achar que a miséria e a pobreza eram coisas sobre as quais não podíamos fazer nada. Pobres aos montes sempre existiriam, e eu tinha apenas dado sorte de ter nascido no lado dos ricos, num país que seria eternamente injusto. Talvez uma revolução armada, pensei na época de adolescência, quando, mesmo sendo totalmente despolitizado, flertei com o movimento estudantil. Mas eu, no fundo, sabia que eu não seria capaz de pegar em armas para fazer à força a distribuição de renda no país. Penso que apenas buscava uma maneira de me livrar da culpa, de me convencer de que era comprometido com a mudança. Mas era um menino bem intencionado apenas, desinformado, sem conhecimento da história de meu país.
Eu ainda era esse menino ingênuo quando apoiei Lula para presidente em 1989. Tinha, então, como muita gente certamente tinha, uma visão superficial e maniqueísta de todo o processo político. Havia os bons, da esquerda, e os maus, da direita. Os primeiros eram honestos, os segundos, bandidos. Os “mocinhos” perderam e eu chorei. Não seria daquela vez que eu deixaria de carregar a culpa de ser rico num país de miseráveis.
Cresci, tornei-me jornalista. Busquei fazer matérias que melhorassem as vidas das pessoas. Escrevi sobre educação, saúde, direitos humanos, infância. Continuei votando em Lula, mas passei a achar que o governo Fernando Henrique talvez fosse o melhor que poderíamos ter. Não tínhamos mais inflação, isso era bom. E todas as crianças estavam na escola. Isso era bom.
Fui trabalhar para aquele governo. Secretaria Executiva da Comunidade Solidária. Um dia, em uma palestra a que assisti no trabalho, aprendi que o número de miseráveis não caía de forma expressiva e que, em um certo período, o índice de Gini, que mede a desigualdade social, permaneceu inalterado, sem melhora alguma (de fato, olhando os dados da FGV hoje, entre 1994 e 2002, o índice de miseráveis no país caiu de 28,79% para 26,72%). O fim da inflação parecia bom, mas o país parecia condenado à eterna injustiça. Chegou 2002 e votei em Lula mais uma vez. Continuava despolitizado e ingênuo. Vibrei com a vitória do PT porque teríamos um governo infalível, incorruptível. Não acreditava muito que o Brasil deixaria de ser desigual, mas pelo menos não roubariam o dinheiro público, seriam honestos, não fariam maracutaias com a velha elite eternizada no poder.
Daí veio o chamado escândalo do mensalão. E as pessoas como eu (a classe média que, no fundo, só quer saber que o imposto que gentilmente deixou de sonegar não foi parar na mão de político corrupto) ficaram indignadas. Eu fiquei indignado e achei que o Brasil não tinha mesmo jeito. Se até o Lula corria o risco de sofrer um impeachment, o país estava condenado. Mas aí, algo novo aconteceu em minha vida. Comecei a conversar com pessoas (e meu irmão e o Lourenço foram os primeiros) que buscavam me mostrar o que estava em jogo se o governo Lula fosse interrompido ali.
O momento não era o de jogar a toalha e de lavar as mãos. De achar que todo mundo é igual, logo tanto faz quem comanda. O momento era de, finalmente, amadurecermos politicamente. Vermos que projetos políticos são uma coisa, erros e crimes cometidos por pessoas que estão no governo são outra. Era momento de vermos que há todo um sistema pelo qual se deve jogar para chegar a um objetivo. E que, talvez, e até muito provavelmente, avanços serão alcançados com a ajuda de quem não gostaríamos de ver mais no poder.
Não se trata de perdoar. De dizer, simplesmente, que os fins justificam os meios. Mas de reconhecer que não há puros e que decepções podem aparecer a qualquer instante. Tive decepções ao longo do governo Lula. Posso ter outras e, nesse caso, que os culpados sejam punidos. Que a imprensa fique de olho, agindo com ética e honestidade, por favor. Mas quem não teve decepções nos governos anteriores não deve ter prestado muita atenção aos fatos. E quem acha que não teria decepções num hipotético governo de Marina Silva deve continuar com a ingenuidade que eu tinha em 1989.
É possível anular o voto. Sim, claro. Mas aí é como dizer que tanto faz quem ganhar. E não é assim. Para mim, é hora de, desta vez sem ingenuidade, optar por um projeto político que melhore o país. E, sinceramente, não vejo como não votar em Dilma e escolher a continuidade do governo Lula. Porque nos últimos anos eu passei a me encher de confiança de que meu filho não precisará sentir tanta culpa como eu senti quando era pequeno. Nos últimos oito anos, mais de 20 milhões de pessoas saíram da miséria no país. 32 milhões chegaram à classe média. A taxa de miseráveis despencou para 15,54% no ano passado e continua caindo. Pra mim, é emocionante ficar sabendo de histórias de pessoas que conseguiram estudar, arrumar um emprego melhor. Ver gente da nova classe média passeando no mesmo shopping-center que eu e tendo condições de comprar. É emocionante, de me fazer chorar, poder conversar com um senhor que conheci no aeroporto e me disse, todo feliz, que só precisou viajar duas horas pra ver a filha. Era a primeira vez que ele andava de avião.
Eu, egoisticamente, voto na Dilma porque seu principal compromisso de campanha é retirar da miséria os 21 milhões de brasileiros que ainda continuam lá. Isso pra mim basta. Quero, desesperadamente, viver num país onde eu não tenha de sentir culpa. Culpa de ter tido sorte ao nascer. E não adianta vir outro e me dizer que assume o mesmo compromisso. Porque quem me provou que combater a miséria é possível foi o governo que aí está. E que por isso deve continuar.
PS: Isso tudo sem falar em tantas outras melhoras que este governo conseguiu em comparação ao governo anterior, como mostra o quadro abaixo.
Veja o panfleto num tamanho maior! Via @IlustreBOB
Continuei jogando bola ali até uns 12 anos, quando comecei a perceber que, muitas vezes, era escalado só por ser filho de quem eu era. Certa manhã, cheguei atrasado, e todas as camisas já tinham sido distribuídas. Ao me ver, o técnico pediu para que um dos garotos, o menorzinho do grupo, tirasse a dele e a entregasse para mim. Ele obedeceu segurando o choro e agarrou com profunda tristeza a nota de alguns cruzeiros que o técnico deu a ele para que ele comprasse um picolé. Era uma recompensa por estar sendo tirado do time para que eu jogasse em seu lugar. Eu já era velho o bastante para entender a injustiça que estava acontecendo ali, mas novo demais para recusar a camisa. Eu a vesti com profunda vergonha e joguei querendo que aquele dia acabasse logo. Decidi não voltar mais ao time. Não era um bom jogador. E só era escalado por ser o filho do dono da bola.
Eu cresci acostumado a achar que a miséria e a pobreza eram coisas sobre as quais não podíamos fazer nada. Pobres aos montes sempre existiriam, e eu tinha apenas dado sorte de ter nascido no lado dos ricos, num país que seria eternamente injusto. Talvez uma revolução armada, pensei na época de adolescência, quando, mesmo sendo totalmente despolitizado, flertei com o movimento estudantil. Mas eu, no fundo, sabia que eu não seria capaz de pegar em armas para fazer à força a distribuição de renda no país. Penso que apenas buscava uma maneira de me livrar da culpa, de me convencer de que era comprometido com a mudança. Mas era um menino bem intencionado apenas, desinformado, sem conhecimento da história de meu país.
Eu ainda era esse menino ingênuo quando apoiei Lula para presidente em 1989. Tinha, então, como muita gente certamente tinha, uma visão superficial e maniqueísta de todo o processo político. Havia os bons, da esquerda, e os maus, da direita. Os primeiros eram honestos, os segundos, bandidos. Os “mocinhos” perderam e eu chorei. Não seria daquela vez que eu deixaria de carregar a culpa de ser rico num país de miseráveis.
Cresci, tornei-me jornalista. Busquei fazer matérias que melhorassem as vidas das pessoas. Escrevi sobre educação, saúde, direitos humanos, infância. Continuei votando em Lula, mas passei a achar que o governo Fernando Henrique talvez fosse o melhor que poderíamos ter. Não tínhamos mais inflação, isso era bom. E todas as crianças estavam na escola. Isso era bom.
Fui trabalhar para aquele governo. Secretaria Executiva da Comunidade Solidária. Um dia, em uma palestra a que assisti no trabalho, aprendi que o número de miseráveis não caía de forma expressiva e que, em um certo período, o índice de Gini, que mede a desigualdade social, permaneceu inalterado, sem melhora alguma (de fato, olhando os dados da FGV hoje, entre 1994 e 2002, o índice de miseráveis no país caiu de 28,79% para 26,72%). O fim da inflação parecia bom, mas o país parecia condenado à eterna injustiça. Chegou 2002 e votei em Lula mais uma vez. Continuava despolitizado e ingênuo. Vibrei com a vitória do PT porque teríamos um governo infalível, incorruptível. Não acreditava muito que o Brasil deixaria de ser desigual, mas pelo menos não roubariam o dinheiro público, seriam honestos, não fariam maracutaias com a velha elite eternizada no poder.
Daí veio o chamado escândalo do mensalão. E as pessoas como eu (a classe média que, no fundo, só quer saber que o imposto que gentilmente deixou de sonegar não foi parar na mão de político corrupto) ficaram indignadas. Eu fiquei indignado e achei que o Brasil não tinha mesmo jeito. Se até o Lula corria o risco de sofrer um impeachment, o país estava condenado. Mas aí, algo novo aconteceu em minha vida. Comecei a conversar com pessoas (e meu irmão e o Lourenço foram os primeiros) que buscavam me mostrar o que estava em jogo se o governo Lula fosse interrompido ali.
O momento não era o de jogar a toalha e de lavar as mãos. De achar que todo mundo é igual, logo tanto faz quem comanda. O momento era de, finalmente, amadurecermos politicamente. Vermos que projetos políticos são uma coisa, erros e crimes cometidos por pessoas que estão no governo são outra. Era momento de vermos que há todo um sistema pelo qual se deve jogar para chegar a um objetivo. E que, talvez, e até muito provavelmente, avanços serão alcançados com a ajuda de quem não gostaríamos de ver mais no poder.
Não se trata de perdoar. De dizer, simplesmente, que os fins justificam os meios. Mas de reconhecer que não há puros e que decepções podem aparecer a qualquer instante. Tive decepções ao longo do governo Lula. Posso ter outras e, nesse caso, que os culpados sejam punidos. Que a imprensa fique de olho, agindo com ética e honestidade, por favor. Mas quem não teve decepções nos governos anteriores não deve ter prestado muita atenção aos fatos. E quem acha que não teria decepções num hipotético governo de Marina Silva deve continuar com a ingenuidade que eu tinha em 1989.
É possível anular o voto. Sim, claro. Mas aí é como dizer que tanto faz quem ganhar. E não é assim. Para mim, é hora de, desta vez sem ingenuidade, optar por um projeto político que melhore o país. E, sinceramente, não vejo como não votar em Dilma e escolher a continuidade do governo Lula. Porque nos últimos anos eu passei a me encher de confiança de que meu filho não precisará sentir tanta culpa como eu senti quando era pequeno. Nos últimos oito anos, mais de 20 milhões de pessoas saíram da miséria no país. 32 milhões chegaram à classe média. A taxa de miseráveis despencou para 15,54% no ano passado e continua caindo. Pra mim, é emocionante ficar sabendo de histórias de pessoas que conseguiram estudar, arrumar um emprego melhor. Ver gente da nova classe média passeando no mesmo shopping-center que eu e tendo condições de comprar. É emocionante, de me fazer chorar, poder conversar com um senhor que conheci no aeroporto e me disse, todo feliz, que só precisou viajar duas horas pra ver a filha. Era a primeira vez que ele andava de avião.
Eu, egoisticamente, voto na Dilma porque seu principal compromisso de campanha é retirar da miséria os 21 milhões de brasileiros que ainda continuam lá. Isso pra mim basta. Quero, desesperadamente, viver num país onde eu não tenha de sentir culpa. Culpa de ter tido sorte ao nascer. E não adianta vir outro e me dizer que assume o mesmo compromisso. Porque quem me provou que combater a miséria é possível foi o governo que aí está. E que por isso deve continuar.
PS: Isso tudo sem falar em tantas outras melhoras que este governo conseguiu em comparação ao governo anterior, como mostra o quadro abaixo.
Veja o panfleto num tamanho maior! Via @IlustreBOB
terça-feira, 7 de setembro de 2010
XO, de Elliott Smith
Texto escrito especialmente para a coluna 'Aquele disco', do site VeiaPop.
Eu já gostei e ainda gosto de ouvir muita coisa. Mas a partir da adolescência, sempre houve um artista que ocupou o topo da minha preferência e lá ficou até eu descobrir algo novo que o superava. Assim, se tiver de contar da maneira mais abreviada possível a história de meus ídolos musicais, seria, começando aos 14 anos: The Cure, que foi sucedido por Legião Urbana, que foi sucedido por The Doors, que foi sucedido por The Smiths, que foi sucedido por Pixies, que foi sucedido por Radiohead, que foi sucedido por Elliott Smith, que aparentemente nunca será sucedido por ninguém. Desde 2000, quando descobri o cantor e compositor norte-americano morto há seis anos, nunca achei outro artista que me parecesse melhor que ele.
Então, quando o VeiaPop me convidou pra escrever sobre um só disco que marcou minha vida, achei que não seria muito difícil escolher. Pensei: “Vou pegar o melhor disco do Elliott Smith, o que tem o maior número de canções mais fodonas, e pronto”. Sabia que tinha de ser o ‘Either/Or’ ou o ‘XO’. Mas, putz, qual? O primeiro tem ‘Alameda’, ‘Beetween the bars’ e ‘Angeles’, três das minhas preferidas. Seria tão bom escolhê-lo só para falar da metáfora amorosa mais brilhante de que já tive notícia em uma música pop – a de ‘Beetween the bars’. Quando ele canta “I’ll kiss you again, between the bars”, o cara consegue não só descrever a situação do casal andando pela noite e enchendo a cara como mostrar que, de alguma forma, aquele amor é uma prisão, de um beijo entre as barras (ou grades). Brilhante!
Mas ‘XO’, o quarto disco de Elliott e que sucedeu o ‘Either/Or’, tem um conjunto de músicas muito matadoras: ‘Waltz #2’, ‘Pitseleh’, ‘Waltz #1’, ‘Oh well, okay’, ‘Everybody cares, everybody understands’, ‘I didn’t undestand’. Todas obras-primas de melodias encantadoras e letras destruidoras, dessas que te derrubam primeiro e depois fazem você renascer. Que poder é esse que as belas baladas que apresentam a solidão da forma mais crua têm de oferecer alento a quem as ouve?
Morrissey disse certa vez que fazia aquelas letras tristes que recheavam os álbuns dos Smiths para que as pessoas soubessem que não estavam sozinhas, que havia outros que se sentiam como elas. Não acredito que Elliott Smith dissesse algo do tipo. Ele parecia ser muito modesto sobre seu processo criativo e sobre a importância que sua música podia ter. No entanto, essas seis canções que destaquei de ‘XO’ têm a incrível capacidade de me fazer companhia, de me fazer sentir, de alguma forma, conectado com a humanidade. E, estranhamente, mesmo que apresentem um estado de melancolia que reconheço em mim mesmo, têm o poder de me deixar mais feliz.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Mais sobre o show do Velvet
A Alê dos Santos publicou um simpático post sobre o show que fizemos no Velvet Pub, durante a Noite Senhor F, na semana passada. Para ler, é só ir até o blog dela, o My favorite way, cheio de notícias sobre música independente. Ela também disponibilizou umas fotos legais no flickr.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Fotos do show no Velvet Pub
Amigos, muito obrigado a todos que foram à Noite Senhor F no Velvet Pub na sexta-feira passada. Eu e todos da banda (Ju, Fernando, Txotxa e Rinaldo) ficamos muito felizes. Espero que tenham gostado. Abraço grande ao pessoal do Charme Chulo, que fez a noite ficar ainda melhor. No fotoblog, vocês podem ver mais fotos da nossa apresentação, como essa aí de cima, cortesia da Paola. Beijos!
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Crônica
37 anos e menos estúpido (um sincero pedido de desculpas)
37 anos não parece uma idade grandes coisas. Não tem a mitologia que envolve os 30 e os 40 nem é uma das idades múltiplas de cinco, que, por alguma razão irracional, parecem ter mais importância que as demais. Mas aí um e-mail de uma colega com antigas fotos do tempo de escola me jogou a real: faz 20 anos que saí do segundo grau. Fazer 37 anos significa completar duas décadas longe do colégio. Já passou tanto tempo que nem se fala mais segundo grau. Aos jovens leitores, explico que era assim que chamávamos o ensino médio na minha época. E pensar que eu achava estranhíssimo quando minha mãe falava de sua época de colegial e isso fazia ela parecer muito velha.
Mas, antes que alguém pense que estou mal, aviso logo que muito pelo contrário. Rever antigos companheiros de segundo grau nessas fotos não me trouxe dor, desespero, depressão, nada disso. Nenhuma saudade daquele tempo. Saudade sinto de pessoas com quem -- pude perceber olhando as imagens -- realmente construí uma relação afetuosa. Não as vi todas nos instantâneos, mas me lembrei com carinho de Fabiana, Roueida, Ernesto, Karine, Fabiano, Rodrigo e tantos outros. Pessoas com quem perdi o contato, mas imagino que estejam bem. Gosto de pensar assim.
Não me sinto velho, mas sei que estou envelhecendo porque consigo rir agora de coisas que pareciam ser muito importantes. Fiquei admirado ao perceber que os bonitos não eram de fato mais bonitos que os feios. E os feios eram bem bonitos, graciosos. Mas de tanto acreditar que estava no grupo dos feios, me esforcei ao máximo para ser bem esquisito. Mecanismo de defesa, que me fazia ser muito chato, injusto e agressivo às vezes. Só isso pode explicar os estilos que eu adotava. Em 1989, ano em que as fotografias foram tiradas, eu deixava meu cabelo crescer livremente. A rebeldia, porém, só me dava um aspecto de uma garota desprovida de qualquer senso estético.
Coincidentemente, o dia ao qual gostaria de voltar para agir de forma diferente foi quando uma amiga docemente preparou uma festinha de aniversário surpresa pra mim. Comprou um bolo, colocou velas sobre ele e, na hora do recreio, entrou na sala convidando todos para cantar 'Parabéns pra você'. Reagi com revolta, me dizendo contra aquelas "convenções capitalistas" (ou qualquer outra expressão boba do tipo) e que não queria nada daquilo. Certamente a magoei naquele dia, mas era muito infantil para reconhecer minha burrice e pedir desculpas de forma apropriada.
No meu processo de envelhecimento, passados 20 anos, sei o quanto a imagem que tentava construir para mim mesmo era tola, sem importância. E ao mesmo tempo sei o quanto os gestos de carinho com aqueles de quem gostamos são importantes. Por isso, muito obrigado, Karine, por comprar o bolo naquele 9 de agosto. Fosse seu amigo hoje, eu ficaria emocionado, te daria um beijo, um abraço e sentiria meu coração batendo feliz. Desculpa. Eu era um adolescente tolo e estúpido.
E obrigado, Tamara, pelas fotos. Um belíssimo presente de aniversário.
37 anos não parece uma idade grandes coisas. Não tem a mitologia que envolve os 30 e os 40 nem é uma das idades múltiplas de cinco, que, por alguma razão irracional, parecem ter mais importância que as demais. Mas aí um e-mail de uma colega com antigas fotos do tempo de escola me jogou a real: faz 20 anos que saí do segundo grau. Fazer 37 anos significa completar duas décadas longe do colégio. Já passou tanto tempo que nem se fala mais segundo grau. Aos jovens leitores, explico que era assim que chamávamos o ensino médio na minha época. E pensar que eu achava estranhíssimo quando minha mãe falava de sua época de colegial e isso fazia ela parecer muito velha.
Mas, antes que alguém pense que estou mal, aviso logo que muito pelo contrário. Rever antigos companheiros de segundo grau nessas fotos não me trouxe dor, desespero, depressão, nada disso. Nenhuma saudade daquele tempo. Saudade sinto de pessoas com quem -- pude perceber olhando as imagens -- realmente construí uma relação afetuosa. Não as vi todas nos instantâneos, mas me lembrei com carinho de Fabiana, Roueida, Ernesto, Karine, Fabiano, Rodrigo e tantos outros. Pessoas com quem perdi o contato, mas imagino que estejam bem. Gosto de pensar assim.
Não me sinto velho, mas sei que estou envelhecendo porque consigo rir agora de coisas que pareciam ser muito importantes. Fiquei admirado ao perceber que os bonitos não eram de fato mais bonitos que os feios. E os feios eram bem bonitos, graciosos. Mas de tanto acreditar que estava no grupo dos feios, me esforcei ao máximo para ser bem esquisito. Mecanismo de defesa, que me fazia ser muito chato, injusto e agressivo às vezes. Só isso pode explicar os estilos que eu adotava. Em 1989, ano em que as fotografias foram tiradas, eu deixava meu cabelo crescer livremente. A rebeldia, porém, só me dava um aspecto de uma garota desprovida de qualquer senso estético.
Coincidentemente, o dia ao qual gostaria de voltar para agir de forma diferente foi quando uma amiga docemente preparou uma festinha de aniversário surpresa pra mim. Comprou um bolo, colocou velas sobre ele e, na hora do recreio, entrou na sala convidando todos para cantar 'Parabéns pra você'. Reagi com revolta, me dizendo contra aquelas "convenções capitalistas" (ou qualquer outra expressão boba do tipo) e que não queria nada daquilo. Certamente a magoei naquele dia, mas era muito infantil para reconhecer minha burrice e pedir desculpas de forma apropriada.
No meu processo de envelhecimento, passados 20 anos, sei o quanto a imagem que tentava construir para mim mesmo era tola, sem importância. E ao mesmo tempo sei o quanto os gestos de carinho com aqueles de quem gostamos são importantes. Por isso, muito obrigado, Karine, por comprar o bolo naquele 9 de agosto. Fosse seu amigo hoje, eu ficaria emocionado, te daria um beijo, um abraço e sentiria meu coração batendo feliz. Desculpa. Eu era um adolescente tolo e estúpido.
E obrigado, Tamara, pelas fotos. Um belíssimo presente de aniversário.
Não é menina. Eu sou o de óculos, jaqueta preta e camiseta branca, ajoelhado à esquerda (você pode clicar para ampliar a foto) |
terça-feira, 17 de agosto de 2010
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
DJ Só
Amigos, nesta quinta-feira, 12/8, participo do programa Senhor F na Cultura FM de Brasília. É só sintonizar na 100,9 ou ouvir pela internet, neste link aqui. Bolei seis blocos temáticos que devem dar umas 25 músicas mais ou menos, dependendo do quanto rolar de bate-papo com o Pedro Brant. Pra vocês se animarem (ou não), adianto que teremos blocos como o "memória musical" (The Cure, Doors, Smiths), "trilhas de cinema" ('Underground', 'Paris, Texas'), "baladas matadoras" (Neil Young, Nick Drake) e outras coisas mais, como bandas independentes de Brasília e do resto do país.
Então: Quinta, 12/8, 22h, na 100,9 FM ou pela internet.
Espero que curtam!
Então: Quinta, 12/8, 22h, na 100,9 FM ou pela internet.
Espero que curtam!
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Novas imagens da gravação
Mais fotos da gravação do terceiro disco no fotolog (menu à direita). Acima, o Txotxa gravando as baterias de 'Tempo cruel', uma das 10 faixas do CD. Abraços!
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Crônica desta* semana
Um dia nos correios
Conflitos e desentendimentos estão sempre à espreita, prontos para pular sobre você. A ida aos correios para enviar o material de inscrição em um concurso cultural começou divertida, não havendo nada que mostrasse que eu poderia me chatear ali. O fato de a máquina de distribuição das senhas estar estragada era um indício de que as coisas poderiam se complicar, mas eu ignorei esse sinal, divertindo-me com o curioso diálogo entre uma mulher e o funcionário encarregado de organizar a fila de clientes.
– Depois dele, sou eu né?
– Não, a senhora é depois dele – disse o funcionário, apontando para um homem vestido com o inconfundível uniforme amarelo usado pelos carteiros.
– Mas ele é carteiro. Ele também vai ser atendido?
– Sim – respondeu sem conseguir conter o riso o organizador da fila. – Os carteiros também usam os correios.
Um carteiro na fila dos correios é realmente uma cena dessas que, apesar de não poderem ser chamadas de absurdas, te deixam meio confuso. Você espera que o carteiro esteja ali para trabalhar, não para enviar uma carta. Eu me solidarizei com a mulher e passei a me divertir sozinho imaginando frentistas vestidos com seus macacões parando para abastecer seus carros ou pessoas vestidas de garçons sentadas em mesas de restaurantes. Foi quando o problema aconteceu.
Para que vocês possam entender, preciso voltar a alguns minutos antes do divertido diálogo entre a mulher e o funcionário. A agência à qual fui possui duas fileiras de cadeiras, com cerca de seis lugares cada uma, para que aguardemos a nossa vez. Quando cheguei, vi dois rapazes sentados na fileira de trás. Tentei retirar minha senha e fui avisado por um deles que a maquininha não estava funcionando. Logo atrás de mim chegou um senhor, que também tentou em vão retirar sua senha e foi avisado pelo mesmo rapaz sobre o problema técnico.
Foi nesse momento que apareceu o funcionário. Perguntou se eu era o primeiro na ordem de chegada, mas, educadamente, disse que os dois jovens já estavam lá quando eu cheguei. O funcionário disse então que eles eram os primeiros, eu o segundo e...
– Não, o segundo sou eu – interveio, do canto do balcão de atendimento, um sujeito de óculos e cabelo comportado portando uma grande caixa de Sedex. – Eu cheguei depois deles dois – disse. Ninguém o questionou. O guardinha então pediu para que nos sentássemos todos na primeira fila de cadeiras e em ordem de atendimento. Os dois rapazes, o sujeito de óculos, eu e o senhor.
Todos obedecemos, menos o sujeito de óculos, que decidiu ir até um outro balcão para fazer não sei o quê, talvez procurar o CEP, ou terminar de preencher o endereço em seu pacote. O fato é que ficou um lugar vago entre mim e os dois rapazes, que logo foram atendidos, pois estavam juntos.
Chegaram então o carteiro e, depois, a mulher que estranhou o fato de ele estar na fila. Entretido com minhas fantasias sobre frentistas abastecendo seus carros e garçons indo jantar fora, ouvi a palavra “próximo” ser gritada por uma das atendentes. Completamente esquecido do sujeito de óculos que havia se ausentado da fila, levantei-me e fui até o balcão.
– Queria mandar esse material...
– Você tá furando fila! – disse um agora nervoso sujeito de óculos.
– Ah, me desculpe, eu achei que fosse minha vez – eu disse, ainda calmo.
– Não, você sabia que era a minha vez – bradou, o sujeito.
Pronto, eu tava puto. Mas que safado, filho de uma égua, me chamando de fura-fila assim na frente de todo mundo e não aceitando minhas explicações. Aí, acho que eu já tava falando meio exaltado. Tentei dizer que como havíamos feito uma fila e ele se retirou, acabei me distraindo e que havia me ENGANADO e não furado fila, mas ele não deixou eu terminar minha frase. Disse, nervosinho (eu tava puto, mas ele tava nervosinho), que ele havia avisado que era o segundo da fila. Filho da puta. Continuava sem me ouvir.
– O senhor não precisa ficar nervoso – eu disse, provavelmente muito irritado. Sim, eu sei, é difícil não ser meio patético quando entramos numa discussão dessas.
– O assunto já está resolvido, amigo – ele retrucou.
Foi a gota d’água. Larguei meus papéis e dei um soco na orelha esquerda do cara, fazendo seus óculos voarem e acertarem a testa da pobre atendente. Sem dar chances para ele reagir, torci seu braço para trás, como aprendi nas aulas de luta, e o fiz, contorcendo o rosto como um bebezinho prestes a chorar, ajoelhar-se. Camalmente, então, disse:
– Eu havia esquecido do senhor. Foi uma distração. Não foi má fé. O senhor entendeu? – perguntei enquanto dobrava um pouco mais seu braço, como meu professor me ensinou fazer. Gemendo, ele balançou a cabeça afirmativamente. O soltei, peguei meus papéis e fui a outra agência.
Quem me conhece sabe que o fim não foi assim. Mas estava entalado com esse negócio de ser chamado de furador de fila quando havia apenas me distraído, e gostei de imaginar essa cena. Na verdade, até entendo que o cara tenha achado que eu havia agido de má fé, pois muita gente age assim em filas. Mas juro que foi distração e queria que a conversa tivesse sido mais amigável. Tomara que seja da próxima vez.
*Ninguém garante que semana que vem haverá outra crônica
terça-feira, 13 de julho de 2010
Agora, as guitarras
Retomamos hoje as gravações do disco. O Ju concluiu duas músicas. Assim, a coisa fica bem encaminhada. Depois das guitarras, vão faltar só as vozes e umas coisinhas adicionais de violão e violoncelo. Também devemos usar trompetes em uma música e talvez alguns pianos pra deixar tudo mais bonito. Não vou aqui arriscar uma data pro lançamento porque cronograma de independente é essa coisa solta mesmo... ;-). Abaixo, o Ju testa o som de sua tele (e não strato como eu tinha dito e o Pedro me alertou). Na case, ao lado dele, a semiacústica Gibson gentilmente cedida por Fernando Brasil, parceiro de uma das músicas que estamos gravando.
Abraços!
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Crônica desta* semana
Paul, o polvo; pajelanças e a expansão do Universo
Vocês provavelmente viram as notícias sobre o polvo vidente de um zoológico alemão. O bichinho que acertou quem ia ganhar os jogos que a seleção de seu país fez na Copa. Todo dia de partida, davam comida para Paul (é o nome do bicho) dentro de duas caixinhas, uma com a bandeira da Alemanha estampada e outra com as cores da nação adversária. O molusco espertalhão acertou todas. Abriu a caixinha com a bandeira de seu país nos dias de vitória e preferiu as dos adversários nos dias em que os germânicos acabaram derrotados.
Vocês provavelmente viram as notícias sobre o polvo vidente de um zoológico alemão. O bichinho que acertou quem ia ganhar os jogos que a seleção de seu país fez na Copa. Todo dia de partida, davam comida para Paul (é o nome do bicho) dentro de duas caixinhas, uma com a bandeira da Alemanha estampada e outra com as cores da nação adversária. O molusco espertalhão acertou todas. Abriu a caixinha com a bandeira de seu país nos dias de vitória e preferiu as dos adversários nos dias em que os germânicos acabaram derrotados.
Não sei vocês, mas eu acho isso incrível. Como é que pode o polvo sempre acertar? Eu confesso que sou fascinado por esses acontecimentos para os quais a única explicação lógica é uma baita coincidência. Mas coincidência de com força, sabe? Daquelas que fazem você exclamar: “Mas é muita coincidência, não pode ser!”
Sou tão fascinado por essas coisas que nunca me esqueci da notícia mais incrível que li até hoje. Não recordava muito bem o ano e o local, mas o Google me ajudou. Foi em 1998, em Roraima. O fogo consumia havia dias um pedação de floresta, e os bombeiros não conseguiam apagar as chamas. O tempo não ajudava, e o governo – acho que o federal mesmo – chamou dois pajés caiapós para fazerem uma pajelança chamando a chuva. Se não me engano, até ofereceram uma graninha se o trabalho desse resultados. Os dois foram lá, fizeram seus rituais e pronto. No dia seguinte choveu. Choveu! De verdade. Não é zoação. Não é muita coincidência? Tanta que acho que os pajés realmente devem ter sido responsáveis pela chuva.
Sou agnóstico. Não sei se acredito ou não em Deus, pelo simples fato de não ver motivos nem pra ter certeza de que ele existe nem pra ter certeza de que ele não existe. Mas tendo a acreditar que há mais coisas entre o céu e a terra do que blábláblá. E há duas coisas me fazem sempre voltar a pensar nessas coisas a mais que existem entre o céu e a terra: as baitas coincidências e o espaço sideral.
Uma lua cheia bem grande e amarela sobrevoando a cidade é o tipo de coisa que me faz continuar agnóstico e não aderir de vez ao ateísmo. Olho pra ela e me pergunto: “Como é que pode?” Nessa, não consigo descartar a possibilidade de Deus existir. Agora, li recentemente outra notícia intrigante. Cientistas estão construindo um telescópio pra estudar a tal da energia escura. É o seguinte: até uns 10 anos atrás, os físicos diziam que o Universo foi criado com uma explosão e passou a se expandir. Mas, como há muita matéria no Universo, logo há muita gravidade, que, obviamente, deve frear essa expansão. Eis que, então, eles descobrem que não, que o Universo está se expandindo cada vez mais rápido. Espantados, alguns chegaram à conclusão de que isso só pode ser possível se houver uma forma de energia desconhecida dando uma forcinha pro Universo. Seria a tal da energia escura. Não é bizarro? O Universo se expandindo cada vez mais rápido, up up and away? Como é que pode?
* Nada garante que na próxima semana haverá outra crônica
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Pílulas: pequenos fatos dignos de nota
Um colega de trabalho descobriu dia desses que eu cantava e que 'O tempo contra nós', que ele ouviu tantas vezes na Cultura FM, é minha. "Sempre achei que a música tinha algo de ingenuidade e de inteligência ao mesmo tempo", descreveu. Achei massa o comentário.
Crônica desta* semana
Retões e horizonte
Não há motivos pra se apressar no trânsito de Brasília. Costurar perigosamente, dar farol alto pra que saiam da frente, colar na traseira do alheio, tudo bobagem. Em Brasília é uma delícia guiar. Retões e horizonte. E tudo perto. Se está atrasado, relaxe. Serão só mais cinco minutos de atraso por causa do trânsito lento, vai por mim. Vivo atrasado, já fiz vários testes.
Desacelero meu 1.0 e me entrego a divagações que seriam um perigo em outras capitais, mas não aqui, no Eixão, no Monumental, na Epia. Nenhuma curva fechada adiante que exija minha total concentração. Por isso, gosto de lembrar das coisas legais que já vivi aqui. E esse troço dos espaços serem abertos ajuda pacas. Do Eixão Sul, indo pra Rodoviária, consigo enxergar a 209. Foi pro Giraffa´s de lá que fui com a Carol na noite em que a conheci. Nosso primeiro programa. Dividimos uma batatinha frita e duas cocas zero depois de um show meu em que quase ninguém foi. Mas ela foi, e só precisava dela mesmo. Minha vida ficou melhor naquela noite, no Gate's, na 402.
Às vezes saio do CCBB ou da Academia de Tênis (se bem que com o cinema fechado faço isso menos) e pego o Setor de Clubes Norte. Minha época de UnB, os tempos em que fazia natação na Apcef. A L2 é da 415 Norte, onde morava minha primeira namorada. Como eu era moleque e tolo. Vejo o Olhos d’Água. Lembro do dia em que fui parado por uma moradora da quadra, pedindo pra que eu aderisse a um abaixo-assinado pra transformar o matão abandonado em parque. Assinei, metido a hippie que eu era. Obrigado, gentil cidadã. O parque que você sugeriu e me fez apoiar ficou lindo.
Qualquer caminho traz lembranças. Até a Ponte JK já tem histórias. Foi por ela que passei pra acompanhar o Senhor F nas Escolas em São Sebastião. No centro de ensino de lá, uma surpresa bacana: banda Orgasmo tocando música autoral. A W3 lembra minha primeira infância, na 711 Norte. Época boa em que gangue era a Galera da 12. A gente tinha muito medo, mas eles não matavam, só roubavam nossos tacos de bete. O começo do Eixinho Norte traz de volta as idas de ônibus até o Conjunto Nacional pra comprar vinis na 2001, que fechou em 2008, e os primeiros VHS alugados na Privê da 102. Como vibrei quando achei na prateleira Comando Delta, com Chuck Norris!
* Nada garante que semana que vem haverá outra crônica.
terça-feira, 15 de junho de 2010
Mais uma etapa
No fim de semana passado, terminamos as gravações de baixo do terceiro disco. Agora, vamos para as guitarras. Eu estou muito empolgado com o que temos até agora. Mais do que estava nessa fase durante as gravações do segundo CD. Vamos ver como fica!
Na foto acima, Ju (E) acompanha o Tharsis, que elaborou belíssimas linhas e fez um trabalho de muito bom gosto. O cara já tocou no Prot(o) e hoje é do Phonopop, minhas duas bandas prediletas de Brasília. Mais fotos no fotolog, no menu à direita.
Beijos!
Na foto acima, Ju (E) acompanha o Tharsis, que elaborou belíssimas linhas e fez um trabalho de muito bom gosto. O cara já tocou no Prot(o) e hoje é do Phonopop, minhas duas bandas prediletas de Brasília. Mais fotos no fotolog, no menu à direita.
Beijos!
sábado, 5 de junho de 2010
Downloads: o que Harvard me ensinou
Há duas semanas mais ou menos (sim, eu demoro para escrever aqui), fui a um debate sobre música e internet, aqui em Brasília. Falaram o tecladista do Skank, Henrique Portugal, e o jornalista especializado em música clássica Irineu Franco Perpétuo. Foi interessante acompanhar uma conversa entre um músico contratado por uma gravadora e bastante antenado nas novas possibilidades tecnológicas e um entusiasta da derrocada do atual modelo de indústria fonográfica.
Mas o que mais apreciei no encontro foi a dica deixada por Perpétuo de que a relação entre produção artística e downloads livres vem sendo estudada por cientistas de Harvard. Fui investigar o que dizem os trabalhos que andam sendo produzidos por uma das mais respeitadas universidades do mundo. Uma dessas pesquisas, feita no ano passado, citada pelo palestrante, traz algumas conclusões bastante interessantes. A principal delas é a de que o advento das tecnologias de trocas de arquivo, ao contrário do que alguns poderiam pensar, não desestimulou a produção cultural. Em outras palavras, não é porque a proteção dos direitos autorais tornou-se mais frágil que passou-se a produzir menos. Logo, a troca de arquivos não representa um prejuízo para a sociedade, que continuou sendo abastecida de novos e mais produtos culturais.
Os autores, Felix Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf, fazem uma importante ressalva. Eles dizem que a intenção deles é avaliar se a troca de arquivos fará mal à sociedade, não se fará mal às companhias ou aos artistas. E eles dizem que se interessam apenas no bem social porque foi para preservá-lo que surgiram as leis de direito autoral. Em um momento da história, a garantia de direitos sobre uma obra era necessária para que os artistas e as companhias continuassem produzindo e lançando, garantindo assim a oferta cultural às pessoas. Por isso, a preocupação deles é responder se a flexibilização dos direitos autorais diminui ou não o lançamento de bens culturais.
Produção cresceu
O interessante é que a resposta parece ser não. E os pesquisadores mostram dados. Entre 2002 e 2007, o número de novos livros publicados subiu 66%. Desde 2000, a produção de novas músicas dobra a cada ano. E, desde 2003, o lançamento de novos filmes cresceu 30% (a íntegra do estudo e mais dados você acha aqui, em inglês). Vale lembrar que o Napster (programa pioneiro da troca de arquivos) surgiu em 1999.
Em outras palavras, mesmo que as ferramentas de download diminuam os lucros das empresas (gravadoras, editoras, estúdios), não necessariamente os artistas se sentirão menos estimulados a criar. Para isso, Oberholzer-Gee e Strumpf apontam dois motivos principais: (1) como os artistas gostam do que fazem, provavelmente continuarão criando mesmo que a remuneração financeira diminua, e é preciso enfatizar o "financeira", já que artistas têm outros tipos de remuneração tão importantes quanto o dinheiro, como o reconhecimento e o prazer de expor sua arte; e (2) a disseminação das obras de arte pode gerar novas possibilidades para os artistas (mais shows; mais palestras, no caso dos escritores; convites para produzir para a tevê, no caso dos cineastas etc). Sobre esse possível efeito gerado pelos downloads livres, os pesquisadores citam o escritor Cory Doctorow, que disse: "Não me parece que meu problema seja a pirataria. É o obscurantismo". E, de fato, você já viu algum artista bem conhecido que esteja com problemas para ganhar dinheiro? Pode vender menos CDs que os famosos dos anos 80, mas não está passando fome.
Uma tabela, por sinal, mostra a média de ganhos com shows que os 35 artistas mais badalados dos Estados Unidos tiveram em 2002. Naquele ano, gente como Eminem, The Who, Paul McCartney e Britney Spears ganhou, em média, US$ 12,7 milhões dando shows. Se esse fosse seu salário anual, você estaria mesmo preocupado se 100 mil cópias do seu CD deixaram de ser vendidas ou não porque um garoto inventou o Napster 11 anos atrás? Ou você estaria pensando que, por causa do Napster e de tudo que aconteceu depois dele, existe mais chance de pessoas conhecerem suas músicas e irem ao seu show, comprarem sua camiseta e acharem que você daria um bom garoto propaganda para uma campanha publicitária?
Tá, mas e em relação aos artistas novos, ainda não conhecidos? Sobre eles, eu me sinto em condições de falar, por ser um exemplar. A gente continua fazendo música porque gosta. E mais, os downloads grátis são um incentivo para que continuemos fazendo. Nos anos 90, eu pensei em parar de fazer música porque nenhuma grande gravadora se interessou por meu trabalho. Sem ser lançado por uma major, ninguém me ouviria. Pra que continuar fazendo música? Hoje, sou ouvido por algumas centenas de pessoas e saber disso faz a coisa ter sentido. Além disso, a fragmentação do poder de direcionamento do público aumenta consideravelmente a chance de um artista se tornar popular mesmo que um diretor de gravadora não se interesse por seu trabalho.
Vendas afetadas?
Por fim, a análise dos dois pesquisadores de Harvard afirma ainda que não existe nenhum estudo conclusivo sobre o efeito dos downloads sobre as vendas. Uma série de problemas faz com que eles não sejam 100% confiáveis. Além disso, junto com os programas de troca de arquivos, uma série de coisas aconteceu para que a venda de CDs diminuísse. Por exemplo, o fim da transição do vinil para o CD, que fez com que um bando de disco que todo mundo já tinha em casa fosse comprado de novo. (E não é que agora a gente tá comprando toda a coleção mais uma vez, retornando para o vinil?) Mas um dado me chamou muito a atenção: 64% das músicas baixadas por um grupo internautas estudado nunca haviam sido sequer ouvidas por eles. Tinham sido baixadas para um dia, talvez, serem conferidas. Ou seja, quando a indústria pega o número de downloads e diz que aquilo é o total de música que deixou de ser vendido, ela está exagerando um bocado.
Sobre essa questão, no mês passado, outro professor de Harvard, William Fisher, fez uma proposta interessante. Ele acha que a troca de arquivos musicais na internet deveria ficar definitivamente liberada a todos os usuários que pagassem uma pequena taxa mensal. Ele sugere R$ 10. O total iria para um fundo de arrecadação de direitos autorais e seria distribuído de acordo com o percentual de download alcançado por cada artista. "Esse regime seria mais barato do que os CDs e DVDs para o consumidor. Ao mesmo tempo, daria acesso ilimitado a ele e todo mundo iria ganhar", disse. Parece bom, não?
Mas o que mais apreciei no encontro foi a dica deixada por Perpétuo de que a relação entre produção artística e downloads livres vem sendo estudada por cientistas de Harvard. Fui investigar o que dizem os trabalhos que andam sendo produzidos por uma das mais respeitadas universidades do mundo. Uma dessas pesquisas, feita no ano passado, citada pelo palestrante, traz algumas conclusões bastante interessantes. A principal delas é a de que o advento das tecnologias de trocas de arquivo, ao contrário do que alguns poderiam pensar, não desestimulou a produção cultural. Em outras palavras, não é porque a proteção dos direitos autorais tornou-se mais frágil que passou-se a produzir menos. Logo, a troca de arquivos não representa um prejuízo para a sociedade, que continuou sendo abastecida de novos e mais produtos culturais.
Os autores, Felix Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf, fazem uma importante ressalva. Eles dizem que a intenção deles é avaliar se a troca de arquivos fará mal à sociedade, não se fará mal às companhias ou aos artistas. E eles dizem que se interessam apenas no bem social porque foi para preservá-lo que surgiram as leis de direito autoral. Em um momento da história, a garantia de direitos sobre uma obra era necessária para que os artistas e as companhias continuassem produzindo e lançando, garantindo assim a oferta cultural às pessoas. Por isso, a preocupação deles é responder se a flexibilização dos direitos autorais diminui ou não o lançamento de bens culturais.
Produção cresceu
O interessante é que a resposta parece ser não. E os pesquisadores mostram dados. Entre 2002 e 2007, o número de novos livros publicados subiu 66%. Desde 2000, a produção de novas músicas dobra a cada ano. E, desde 2003, o lançamento de novos filmes cresceu 30% (a íntegra do estudo e mais dados você acha aqui, em inglês). Vale lembrar que o Napster (programa pioneiro da troca de arquivos) surgiu em 1999.
Em outras palavras, mesmo que as ferramentas de download diminuam os lucros das empresas (gravadoras, editoras, estúdios), não necessariamente os artistas se sentirão menos estimulados a criar. Para isso, Oberholzer-Gee e Strumpf apontam dois motivos principais: (1) como os artistas gostam do que fazem, provavelmente continuarão criando mesmo que a remuneração financeira diminua, e é preciso enfatizar o "financeira", já que artistas têm outros tipos de remuneração tão importantes quanto o dinheiro, como o reconhecimento e o prazer de expor sua arte; e (2) a disseminação das obras de arte pode gerar novas possibilidades para os artistas (mais shows; mais palestras, no caso dos escritores; convites para produzir para a tevê, no caso dos cineastas etc). Sobre esse possível efeito gerado pelos downloads livres, os pesquisadores citam o escritor Cory Doctorow, que disse: "Não me parece que meu problema seja a pirataria. É o obscurantismo". E, de fato, você já viu algum artista bem conhecido que esteja com problemas para ganhar dinheiro? Pode vender menos CDs que os famosos dos anos 80, mas não está passando fome.
Uma tabela, por sinal, mostra a média de ganhos com shows que os 35 artistas mais badalados dos Estados Unidos tiveram em 2002. Naquele ano, gente como Eminem, The Who, Paul McCartney e Britney Spears ganhou, em média, US$ 12,7 milhões dando shows. Se esse fosse seu salário anual, você estaria mesmo preocupado se 100 mil cópias do seu CD deixaram de ser vendidas ou não porque um garoto inventou o Napster 11 anos atrás? Ou você estaria pensando que, por causa do Napster e de tudo que aconteceu depois dele, existe mais chance de pessoas conhecerem suas músicas e irem ao seu show, comprarem sua camiseta e acharem que você daria um bom garoto propaganda para uma campanha publicitária?
Tá, mas e em relação aos artistas novos, ainda não conhecidos? Sobre eles, eu me sinto em condições de falar, por ser um exemplar. A gente continua fazendo música porque gosta. E mais, os downloads grátis são um incentivo para que continuemos fazendo. Nos anos 90, eu pensei em parar de fazer música porque nenhuma grande gravadora se interessou por meu trabalho. Sem ser lançado por uma major, ninguém me ouviria. Pra que continuar fazendo música? Hoje, sou ouvido por algumas centenas de pessoas e saber disso faz a coisa ter sentido. Além disso, a fragmentação do poder de direcionamento do público aumenta consideravelmente a chance de um artista se tornar popular mesmo que um diretor de gravadora não se interesse por seu trabalho.
Vendas afetadas?
Por fim, a análise dos dois pesquisadores de Harvard afirma ainda que não existe nenhum estudo conclusivo sobre o efeito dos downloads sobre as vendas. Uma série de problemas faz com que eles não sejam 100% confiáveis. Além disso, junto com os programas de troca de arquivos, uma série de coisas aconteceu para que a venda de CDs diminuísse. Por exemplo, o fim da transição do vinil para o CD, que fez com que um bando de disco que todo mundo já tinha em casa fosse comprado de novo. (E não é que agora a gente tá comprando toda a coleção mais uma vez, retornando para o vinil?) Mas um dado me chamou muito a atenção: 64% das músicas baixadas por um grupo internautas estudado nunca haviam sido sequer ouvidas por eles. Tinham sido baixadas para um dia, talvez, serem conferidas. Ou seja, quando a indústria pega o número de downloads e diz que aquilo é o total de música que deixou de ser vendido, ela está exagerando um bocado.
Sobre essa questão, no mês passado, outro professor de Harvard, William Fisher, fez uma proposta interessante. Ele acha que a troca de arquivos musicais na internet deveria ficar definitivamente liberada a todos os usuários que pagassem uma pequena taxa mensal. Ele sugere R$ 10. O total iria para um fundo de arrecadação de direitos autorais e seria distribuído de acordo com o percentual de download alcançado por cada artista. "Esse regime seria mais barato do que os CDs e DVDs para o consumidor. Ao mesmo tempo, daria acesso ilimitado a ele e todo mundo iria ganhar", disse. Parece bom, não?
sexta-feira, 28 de maio de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
'Mormaço', uma grande canção
terça-feira, 11 de maio de 2010
Desabafo
"Viajo porque preciso, volto porque te amo." Quando li o título do novo filme de Karim Aïnouz (Madame Satã e O céu de Suely) e André Gomes (Cinema, aspirina e urubus) fiquei emocionado. Achei lindo, meio Roberto e Erasmo Carlos. E consegui (talvez) identificar o que vem me incomodando recentemente, que consigo agora chamar de afetação poética ("nomear é compreender", ensinou alguém, acho que Lacan).
O título do filme é poético, mas não é firulento. É direto, sem mistérios, sem joguinhos (desculpa a repetição) afetados de palavras. E foi isso que me emocionou. Me fez fantasiar com várias imagens, sentimentos, histórias, tudo sem ver o filme, só a partir do título.
Dia desses vi uns vídeos no Youtube, umas capas de disco e fui achando tudo meio falso, posado. Incomodado, escrevi no twitter que a capa do álbum branco dos Beatles nunca havia feito tanto sentido pra mim. Mas aí, ver esse título direto e simples me fez ver que a ausência não é necessária. O que busco é o preenchimento sem farsas sentimentais.
Ando meio de saco cheio de tudo que me parece (não consigo me desapegar desse termo) afetação poética. Gente que olha o pipoqueiro ou o doidinho da esquina e logo leva a mão ao peito e se diz maravilhada com a poesia do mundo. Acho um saco essa gente.
Por isso ando pensando e repensando em que título dar ao meu novo disco. Ainda não cheguei à conclusão se as metáforas estão me incomodando ou se elas ainda são aceitáveis. Mas não quero, de jeito nenhum, parecer um afetado poético. Quero ser direto (daí minha dúvida com relação às metáforas).
Agora, neste momento, está vencendo o título 'Boas intenções' para o meu terceiro CD. É tranquilo e tem a ver com o que quero que prestem atenção. Mas tem um outro, que não vou dizer aqui agora, que era o título certo até pouco tempo atrás, mas que começou a me parecer meio afetado. Até a hora de fazer a arte do disco eu resolvo.
E foi mal o desabafo. Talvez tenha sido um desabafo meio afetado...
O título do filme é poético, mas não é firulento. É direto, sem mistérios, sem joguinhos (desculpa a repetição) afetados de palavras. E foi isso que me emocionou. Me fez fantasiar com várias imagens, sentimentos, histórias, tudo sem ver o filme, só a partir do título.
Dia desses vi uns vídeos no Youtube, umas capas de disco e fui achando tudo meio falso, posado. Incomodado, escrevi no twitter que a capa do álbum branco dos Beatles nunca havia feito tanto sentido pra mim. Mas aí, ver esse título direto e simples me fez ver que a ausência não é necessária. O que busco é o preenchimento sem farsas sentimentais.
Ando meio de saco cheio de tudo que me parece (não consigo me desapegar desse termo) afetação poética. Gente que olha o pipoqueiro ou o doidinho da esquina e logo leva a mão ao peito e se diz maravilhada com a poesia do mundo. Acho um saco essa gente.
Por isso ando pensando e repensando em que título dar ao meu novo disco. Ainda não cheguei à conclusão se as metáforas estão me incomodando ou se elas ainda são aceitáveis. Mas não quero, de jeito nenhum, parecer um afetado poético. Quero ser direto (daí minha dúvida com relação às metáforas).
Agora, neste momento, está vencendo o título 'Boas intenções' para o meu terceiro CD. É tranquilo e tem a ver com o que quero que prestem atenção. Mas tem um outro, que não vou dizer aqui agora, que era o título certo até pouco tempo atrás, mas que começou a me parecer meio afetado. Até a hora de fazer a arte do disco eu resolvo.
E foi mal o desabafo. Talvez tenha sido um desabafo meio afetado...
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Três frases
"Podemos acreditar que o que mais vende é o melhor. Esse é um erro"
“Em muitos veículos a única coisa que importa é vender. Há editores que acham que vale mais uma boa publicidade a uma má crítica.”
“O jornalismo cultural deve estimular o novo, não atender modismos, mas os interesses dos leitores e manter a profundidade.”
Nuria Azancot, redatora-chefe do suplemento El Cultural, do jornal espanhol El Mundo, durante o II Congresso de Jornalismo Cultural.
terça-feira, 27 de abril de 2010
Aos que gostam de mim
Um disco triste vem aí. Talvez, com exceção de uma apenas, todas as músicas do meu terceiro CD podem ser classificadas como melancólicas. Mas não se preocupem. Continuo bem; firme e forte na melhor e mais serena fase de minha vida. Obrigado pela preocupação, que, sei, é apenas manifestação de carinho.
Não sei explicar, e minha mãe talvez seja quem mais me pergunte isso, por que escrevo letras que falam de medos, coisas não realizadas, incertezas, fraquezas, dor. Sei que tudo isso continua existindo dentro de mim, apesar de me sentir bem na maior parte do tempo, o que pode ser uma explicação. Mas por que não falar mais sobre o lado luminoso? Não sei...
Li recentemente 'Elliott Smith and the big nothing', biografia de meu herói morto há seis anos. Em determinado momento, o autor, Benjamin Nugent, cita uma frase de uma cantora cujo nome não me vem à memória, mas que dizia basicamente isto: "Se você quer ser um grande compositor, olhe para o lado obscuro da vida".
Nugent citava essa ideia como uma forma de tentar explicar o caminho autoral de Elliott Smith. Achei perfeito. Meus compositores preferidos nunca tiveram medo de olhar para seus monstros mais feios e temíveis. Acho que me influenciaram.
Fazer música não é uma forma de terapia. Pelo menos não pra mim. Música é arte. E para se tentar fazer arte, acredito que precisamos sentir necessidade de modificar o mundo. Ou, melhor, modificar a imagem que as pessoas têm do mundo. O artista é um pouco metido, achando que vale a pena declarar a forma como ele vê as coisas.
Por algum motivo, acho válido dizer às pessoas sobre como ando me sentindo a respeito da minha dificuldade de dizer não, ou da minha crença de que o amor é incerto sempre, apesar de grandioso. E isso pode soar triste.
Mas não sou uma pessoa triste. E, mais, não estou triste. Tanto que tive vontade de escrever a mais feliz de todas as canções que já compus. Justamente a que escolhi para encerrar o disquinho que vem aí. Chama-se 'Tempo cruel'. :-) O título, obviamente, é uma brincadeirinha.
De erro em erro
Li recentemente 'Elliott Smith and the big nothing', biografia de meu herói morto há seis anos. Em determinado momento, o autor, Benjamin Nugent, cita uma frase de uma cantora cujo nome não me vem à memória, mas que dizia basicamente isto: "Se você quer ser um grande compositor, olhe para o lado obscuro da vida".
Nugent citava essa ideia como uma forma de tentar explicar o caminho autoral de Elliott Smith. Achei perfeito. Meus compositores preferidos nunca tiveram medo de olhar para seus monstros mais feios e temíveis. Acho que me influenciaram.
Fazer música não é uma forma de terapia. Pelo menos não pra mim. Música é arte. E para se tentar fazer arte, acredito que precisamos sentir necessidade de modificar o mundo. Ou, melhor, modificar a imagem que as pessoas têm do mundo. O artista é um pouco metido, achando que vale a pena declarar a forma como ele vê as coisas.
Por algum motivo, acho válido dizer às pessoas sobre como ando me sentindo a respeito da minha dificuldade de dizer não, ou da minha crença de que o amor é incerto sempre, apesar de grandioso. E isso pode soar triste.
Mas não sou uma pessoa triste. E, mais, não estou triste. Tanto que tive vontade de escrever a mais feliz de todas as canções que já compus. Justamente a que escolhi para encerrar o disquinho que vem aí. Chama-se 'Tempo cruel'. :-) O título, obviamente, é uma brincadeirinha.
De erro em erro
Chego ao fim
Ao meu final feliz
Com você aqui
O tempo pode ser cruel
O tempo pode ser cruel
Pra quem nunca errou
Mas não pra mim
Que precisei de tanto tempo
Pra acertar
E aonde vou
E aonde vou
Ninguém pode chegar
É só pra mim
O meu lugar
sexta-feira, 12 de março de 2010
Três é bom demais
Nesta semana, começou oficialmente a gravação do meu (o "meu", é claro, inclui um bando de gente tão dona quanto eu) terceiro disco. Estou muito feliz. Ao longo do tempo, meus sonhos, fantasias, planos, tudo relacionado à música foi mudando. A vontade de ser um superstar megafamoso foi diminuindo, por conta da realidade mesmo e também por causa das opções de vida que fui fazendo. Depois de um tempo sem saber o que queria de fato, veio claro pra mim um desejo que me parecia possível de realizar: constituir uma obra. Um trabalho consistente, do qual me orgulhasse e que tivesse um tamanhinho considerável.
Pois chegar ao número três é um passo importantíssimo pra essa realização. Sei lá, pode ser viagem minha, mas três discos me parecem um número decente, razoável o bastante pra me fazer sentir que tenho "uma obra". E, se agente parar pra pensar, é coisa pacas mesmo. Tanta banda nem chegou ao segundo. No meio independente, então, é tão cheio de gente que parou no primeiro. Ou que nunca lançou algo além de demos.
Por isso, não consigo deixar de ser muito entusiasmado com tudo o que rola relacionado à música independente. Selos, produtoras, festivais, rádios, sites. Tudo possibilita a vários artistas exatamente isso que está me deixando tão feliz: a chance de lançar seus trabalhos dignamente e formar um pequeno público. Alguns anos atrás, esses músicos estariam condenados a não serem conhecidos por ninguém além de seus amigos.
Por essa realização que começa a se conretizar agora, devo muitos agradecimentos. Além de meus parceiros (principalmente meu irmão-parceiro-sócio, Ju) e músicos que tocam e tocaram comigo, sou muito grato ao selo Senhor F. É foda demais fazer parte de um projeto que pensa em proporcionar uma carreira aos seus artistas, investindo neles com paciência, sem pressão de "dar certo". Poder gravar num belo estúdio e ter a produção do Philippe Seabra e contar com o Fernando Rosa pra conversar sobre o que estamos fazendo, pensar os próximos passos, pedir conselhos é um privilégio e tanto. Ah, como eu sei disso.
Agora, é torcer pra que o disco saia bonito. E que as músicas sejam boas. E que a gente consiga lançá-lo ainda este ano. E que alguém goste. :-)
PS: A imagem desse post é uma homenagem ao Glauco. "Como te chamas? Miguelito! Te chamavas!"
Pois chegar ao número três é um passo importantíssimo pra essa realização. Sei lá, pode ser viagem minha, mas três discos me parecem um número decente, razoável o bastante pra me fazer sentir que tenho "uma obra". E, se agente parar pra pensar, é coisa pacas mesmo. Tanta banda nem chegou ao segundo. No meio independente, então, é tão cheio de gente que parou no primeiro. Ou que nunca lançou algo além de demos.
Por isso, não consigo deixar de ser muito entusiasmado com tudo o que rola relacionado à música independente. Selos, produtoras, festivais, rádios, sites. Tudo possibilita a vários artistas exatamente isso que está me deixando tão feliz: a chance de lançar seus trabalhos dignamente e formar um pequeno público. Alguns anos atrás, esses músicos estariam condenados a não serem conhecidos por ninguém além de seus amigos.
Por essa realização que começa a se conretizar agora, devo muitos agradecimentos. Além de meus parceiros (principalmente meu irmão-parceiro-sócio, Ju) e músicos que tocam e tocaram comigo, sou muito grato ao selo Senhor F. É foda demais fazer parte de um projeto que pensa em proporcionar uma carreira aos seus artistas, investindo neles com paciência, sem pressão de "dar certo". Poder gravar num belo estúdio e ter a produção do Philippe Seabra e contar com o Fernando Rosa pra conversar sobre o que estamos fazendo, pensar os próximos passos, pedir conselhos é um privilégio e tanto. Ah, como eu sei disso.
Agora, é torcer pra que o disco saia bonito. E que as músicas sejam boas. E que a gente consiga lançá-lo ainda este ano. E que alguém goste. :-)
PS: A imagem desse post é uma homenagem ao Glauco. "Como te chamas? Miguelito! Te chamavas!"
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Guided by Guidis
Este será o ano do Superguidis. Dito isso, explico que escrevo, principalmente, estimulado pela leitura de um texto de Carlos Pinduca, vocalista e compositor do Prot(o), a melhor banda de Brasília depois de Legião Urbana, na minha modesta e convicta opinião. Em ‘A encruzilhada dos Guidis’, publicado no blog do músico e na seção de colunas de Senhor F, Pinduca analisa o novo single da banda gaúcha e aponta três possíveis caminhos a serem seguidos pelos guris de Guaíba.
Peço desculpas se minha análise for superficial, mas o texto de Pinduca parece dizer, resumidamente, que resta à banda ou o fim, devido à falta de um reconhecimento mais amplo; ou uma adaptação estética para se inserir em um esquema maior e, assim, garantir o sustento da carreira; ou – e esta é uma possibilidade na qual o autor não parece acreditar muito – seguir um caminho lento, de consolidação da carreira por meio da força de sua obra.
Escrevo agora porque acredito que a terceira opção não só será aquela que os Guidis irão seguir como, acrescento, acho que eles já a realizaram. Daqui a alguns dias, poderemos todos ouvir o terceiro (terceiro!) disco de uma banda formada em 2003. Eu, por causa da posição privilegiada de integrante do selo Senhor F Discos, já tive a oportunidade de ouvir o CD e estou certo de uma coisa: 2010 vai consolidar o Superguidis como uma das bandas mais importantes do meio independente brasileiro.
O que quero dizer com isso? Na prática, que eles terão um público maior do que já possuem; darão uma razoável garantia aos produtores de shows e festivais de que, ao serem contratados, garantirão um público considerável; e, consequentemente, poderão cobrar um cachê legal para tocar Brasil afora. Ou seja, não digo que os Guidis se transformarão em uma banda do nível comercial de... sei lá, Pitty ou Skank. Mas acho que eles atingirão um patamar de nome de destaque na cena independente, o que não é pouco. Aliás, hoje em dia, é tudo.
E o melhor é que isso, no caso dos Guidis, tem tudo para ser o começo de uma fase brilhante e ascendente. Porque o garoto (ou garota) desavisado que for capturado pelas músicas do terceiro disco vai poder ir atrás e descobrir uma banda que já compôs obras assustadoramente sintonizadas – emocionalmente e socialmente – com a juventude brasileira do fim da primeira década do século 21.
Se estou errado, me diga qual banda compôs algo como ‘Mais um dia de cão’ (a realidade de um jovem de classe média baixa que sabe o peso de correr atrás da sobrevivência), ‘Spiral arco-íris’ (um momento terno e apaixonado, lindamente cotidiano, desse mesmo jovem ao presentear alguém de quem gosta com um simples presente de camelô), ‘Discos arranhados’ (cujo verso “Sem dinheiro é foda à beça, você e eu” já diz tudo) etc. etc. etc.?
Isso e muito mais está à espera do público que se apaixonar pela guitarra furiosa de ‘Não fosse o bom humor’ e pela combinação de grunge com a poesia cotidiana que remete ao Renato Russo de ‘O descobrimento do Brasil’ que é ‘Não saio desse lugar’. Sem falar do refrão grudento de ‘As camisetas’ (“Por que será que sempre chove toda vez que alguém te abandona?”), que deve garantir muitos novos fãs à banda.
Justamente por já ter mostrado consistência roqueira e poética em três discos, os Guidis vão firmar definitivamente seu espaço no independente brasileiro. E, a partir daí, mostrar, pra quem ainda não conhece e pra quem ainda não percebeu, o quanto são (desculpem o termo pouco elaborado) fodas. O que virá depois disso ninguém sabe. E é porque hoje em dia não dá mesmo pra saber como as coisas serão. Mas dá pra dizer que elas serão como o caminho que os Guidis vão trilhar. Seja qual for. Seremos Guided by Guidis. Essa é minha aposta.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Assinar:
Postagens (Atom)