terça-feira, 31 de julho de 2007

Na rádio espanhola

Dia desses estava conversando com um músico que iniciou sua carreira algumas décadas atrás e o ouvi dizer que sentia saudades da época em que as músicas tinham chance de circular por aí, capturando a emoção do público. Os ouvintes podiam ligar para as rádios, dando um retorno real sobre o que achavam das novidades e assim ajudar na contrução da programação, muitas vezes impulsionada por DJs com real preocupação em mostrar coisas novas e legais aos seus ouvintes.

Naquela época, me parece, o artista tinha ainda a chance de se surpreender com sua música sendo tocada no rádio e isso significar, realmente, que havia tocado os corações das pessoas. Hoje, lamentava esse músico, a música toca repetidas vezes até o público se acostumar, se assim for negociado entre emissoras e gravadoras. Um sucesso é mais uma imposição que uma conquista do artista. Tristes tempos...

Mas daí surgem as novas tecnologias e começam a mudar as coisas para melhor (pelo menos em termos de divulgação das músicas). Esta semana, por exemplo, fiquei sabendo que meu mais recente single, 'O tempo contra nós', tocou em um programa da Espanha. É o Plastico Elastico, que vai ao ar todos os dias na Rádio Onda Madrid.

O apresentador mantém no Myspace a lista das músicas que tocou em todos os programas, com links para as páginas onde nós podemos baixá-las. Ao mesmo tempo em que a prática de cartas marcadas se consolida nas rádios, surgem programas como esse, feito por gente que consegue garimpar novidades independentes na rede e disponibilizar ao público.

Vira e mexe, chega uma notícia desse tipo. Já soube que rádios de norte a sul (literalmente, pois sei de rádios de Porto Alegre e de Rio Branco) que incluíram alguma música do meu repertório nas suas programações. E é isso que me faz adorar ser independente, poder ter a felicidade de saber que uma música minha, que não conta com jabás nem verba publicitária para ser "trabalhada", acaba sendo tocada em lugares tão distantes. :-)

segunda-feira, 30 de julho de 2007

E você sempre vê apartamentos acesos

"Quando morri, um dia abri os olhos e era Brasília. Eu estava sozinha no mundo. Havia um táxi parado. Sem chofer". (Clarice Lispector)

Ontem tive um medo pior que o de morrer. Senti medo de não ter existido. Foi lendo o livro que reúne as entrevistas que Clarice Lispector fez com personalidades brasileiras para a revista Manchete, entre maio de 1968 e outubro de 1969, e para a revista Fatos e Fotos: Gente, entre dezembro de 1976 e outubro de 1977. Já escritora reconhecida e admirada, as entrevistas serviam à Clarice como forma de complementar a renda. E por ser quem era, ela conseguia arrancar intimidades de gente como Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Chico Buarque, Millor Fernandes, Vinícius de Moraes e tantos outros.

O método de entrevistas de Clarice era fantástico. Pediu a Nelson Rodrigues, por exemplo, a verdade, e ouviu confissões tocantes do gênio, como quando ele fala que sua amizade por Otto Lara Rezende não era correspondida: "O Otto nunca me me deu um telefonema. Estou dizendo isso com a maior, a mais honrada, a mais inconsolável amargura".

É de Nelson, aliás, uma das mais saborosas entrevistas. "Do ponto de vista amoroso encontrei a Lúcia. E é preciso especificar: a grande, a perfeita solidão exige uma companhia ideal", fala o escritor em determinado momento. Ao que Clarice responde: "Ah, Nelson, isso é tão verdadeiro".

Pela relação que tinha com seus entrevistados podia, por exemplo, propor aos poetas e compositores que criassem ali, de improviso, alguns versos. Na entrevista com Chico Buarque, por exemplo, escreveu:

_ Você quer fazer um versinho agora mesmo? Para você se sentir não vigiado, esperarei na copa até você me chamar.

Chico riu, eu saí, esperei uns minutos até ele me chamar e ambos lemos sorrindo:

Como Clarice pedisse
Um versinho que eu não disse
Me dei mal
Ficou lá dentro esperando
Mas deixou seu olho olhando
Com cara de juízo final

A leitura de 'Entrevistas' (Rocco) seguia fácil e estimulante na madrugada de domingo até que cheguei à conversa com Oscar Niemeyer. E foi lendo aquelas páginas que caiu a ficha: Brasília quase não existiu. Antes de ser contruída, era uma idéia absurda para muitos. E mesmo depois de inaugurada, a cidade que me formou e me faz existir quase foi extinta, numa luta de forças políticas que queriam manter a capital no Rio. Brasília era ainda uma criança quando Clarice entrevistou Niemeyer e, para a escritora, era um grande vazio, um símbolo da morte.

A entrevista de Clarice é corajosa. Ela pergunta seguidas vezes ao criador o que ele pensa sobre suas impressões a respeito da nova capital. Uma hora ela provoca: "Por que você acha que escrevi: Quando morri, um dia abri os olhos e era Brasília. Eu estava sozinha no mundo. Havia um táxi parado. Sem chofer". E Niemeyer diz: "Por que Brasília lhe parece uma cidade sem vida. Quando Le Corbusier comentou que Brasília estava ameaçada de abandono pelo governo de Castelo Branco, ele respondeu: 'É uma pena! Mas que belas ruínas teremos.'".

Que visão assustadora, angustiante, imaginar Brasília uma ruína brasileira, como diz Caetano em 'Fora da Ordem' - "Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína". Imaginei-me, primeiro, personagem de um filme insólito, solitário andando pelas ruínas monumentais de Brasília. Depois, percebi que sem a cidade não seria o que sou, mesmo se tivesse nascido em outro lugar.

E daí veio uma súbita consciência da responsabilidade que nós, brasilienses, por nascença ou opção, temos. A de dar vida a uma cidade. A de fazê-la pulsar, criar, falar e fazer sentido para o resto do mundo. Em nenhum outro lugar faz tanto sentido ser artista como em Brasília, um esqueleto que nasceu sem carne, órgãos vitais e coração. Uma cidade que nasceu antes de viver, sem povo. E povo se faz com identidade, com cultura.

E de repente, assim, numa madrugada fria tão característica de Brasília, entendi porque sempre me emociono quando ouço Renato Russo cantar "E você passa de noite e sempre vê apartamentos acesos". Sempre achei que esse verso era a cara de Brasília. Que bom, por que as luzes acesas rompendo a escuridão nas superquadras é sinal de vida.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Bailarinas

Demos uma pausa nas gravações do segundo disco para que o Philippe, nosso querido produtor, fosse curtir sua lua de mel. Ainda não falei muito desse disco, mas adianto que eu busquei fazer algo diferente do primeiro, em termos de letras e sons. É claro que muita coisa vai remeter ao primeiro disco. Existem baladas e canções de amor nesse também. Mas o ‘Lançando sinais’ tinha realmente um tema único, que impôs uma sonoridade intimista muito particular.

No próximo, a banda buscou arranjos mais variados e algumas músicas estão mais “pra cima”. A entrada do Bruno Sres na guitarra também trouxe novas possibilidades de timbres e algumas músicas estão ficando bem diferentes. Uma das mais queridas pra mim é ‘Minha doce bailarina’, que compus depois de assistir, em dias muito próximos, a dois espetáculo de dança: ‘Brasília, cidade em plano’, do grupo Anti Status Quo, e 'Água e sal', do Basirah (na foto, com a querida Lívia Bennet). Além da música, também escrevi algumas impressões sobre 'Brasília, cidade em plano', que enviei ao grupo na época e que transcrevo ali embaixo, no próximo post.

Para o disco, que vejo como a narrativa de uma pequena jornada até “os dias mais tranqüilos”, essa música tem um significado especial. Pra mim, é sobre a arte e seu poder de nos levar à reflexão e, assim, nos transformar. Abaixo, deixo uma versão que gravamos num ensaio, como uma prévia. Foi ao vivo e tem uns errinhos. Portanto, perdoem os nossos deslizes...

Abraços!

Minha doce bailarina
(Beto Só)

Me dá de presente duas novas piruetas
Me faz me sentir o mais covarde dos caretas
Me faz pensar no que seu gesto quer dizer
Me faz lembrar da vida que eu tenho pra viver

Me faz criar coragem
Me faz sentir vontade
Me deixa só no canto
Mas não me olhe
Não me olhe enquanto dança

Me dá a luz azul pra que eu possa chorar
Me dá o amarelo se pretende me motivar
Me instiga com movimentos impossíveis de imitar
Me leva para um mundo que eu não posso controlar

Minha doce bailarina

Me dá de presente duas novas piruetas
Me faz me sentir o mais covarde dos caretas
Me faz pensar no que seu gesto quer dizer
Me faz lembrar da vida que eu tenho pra viver

Me faz esquecer do tempo
Me faz lembrar do belo
Me deixa arrepiado
Me faz soltar o verbo
Mas não me olhe enquanto dança

Minha doce bailarina

Me deixa curioso sobre seu pés
Me deixa fascinado por seu corpo de mulher
Me deixa admirado com todo seu suor
Me lembra como é saber o que é o bom e o melhor

Fosse Brasília uma bailarina

Sou muito racional. Talvez por isso, quando mais novo, sentia dificuldades em ver espetáculos de dança. O que eles querem dizer quando entortam o corpo desse jeito? Era o que eu mais me perguntava. Recentemente, passei a freqüentar um pouco mais apresentações de dança em Brasília. E me surpreendi ao ver que amo dança contemporânea. É perfeita para uma mente racional como a minha. Faz a gente pensar. Muito.

Das apresentações que vi, uma me marcou em especial. ‘Brasília – cidade em plano’ é o espetáculo que a Companhia Anti Status Quo (ASQ) apresentou no Núcleo de Dança de Brasília. Devo avisar que vou falar como leigo. Aliás, por não entender nada de dança, posso ser considerado um exemplar real e sincero do que chamamos de “público em geral”. E esse exemplar de público achou o espetáculo um “retratão” de Brasília, cidade que amo profundamente, sem deixar de enxergar os defeitos. Soubesse eu amar as pessoas como amo minha cidade, seria mais feliz.

Quando entramos na sala onde ocorre a apresentação, devemos nos sentar sob a luz azul. Seguiremos a luz azul o espetáculo inteiro. Ela anda, a gente anda atrás. Como se estivéssemos no céu azul da cidade, olhando a capital lá de cima. Do nosso pequeno céu particular, avistamos, no lado oposto da sala, quatro bailarinas nuas, deitadas em linha, em frente ao contorno dos prédios de Brasília. Uma cidade projetada no fundo branco, uma antecipação do que será daqui a 46 anos. Sim, porque agora Brasília nasce. Nua, tal qual as dançarinas. Estas se movimentam de forma tensa, parecem sentir dificuldades para realizar aqueles movimentos. Nascer é difícil e se nasce de pernas para o ar, como as quatro passam, em dado instante, a se mover. Belo.

Então o espetáculo volta ao chão. As quatro dançarinas rolam em nossa direção. Vêm e vão, alternadamente, chegando mais perto, retrocedendo. Um fluxo descasado, com idas e vindas, mas cada vez mais perto de nós. A cidade avança. Do chão preto de linóleo, é erguido, pelas mãos das dançarinas, o mesmo contorno da cidade projetado na parede branca. A cidade brota do chão. Nasce para vestir o corpo nu das meninas, que vestem-se da cidade que representarão para nós a partir daquele instante. Cada uma, uma faceta de Brasília. Uma cidade metamorfoseada em corpos de bailarina.

Essas diferentes facetas da capital somos convidados a conhecer mais de perto, quando, ao sermos libertados da demarcação da luz azul, podemos caminhar livremente pela sala. Descemos do céu e somos lançados nas entranhas da cidade. Uma cidade que pode parecer meio louca, sedutora ou tranqüila. Depende por onde se caminha, onde você se posta na sala. “Vamos sair daqui porque ta muito pesado. Parece que estamos no Conic. Vamos passear no Parkshopping”, digo apontando para o outro lado da sala, onde duas dançarinas parecem realizar movimentos mais suaves.

Minha reação é espontânea, brincalhona. Mas me pega de surpresa. Medos, preconceitos, exclusão social. O quanto disso tudo existe nessa tola brincadeira? A dança faz a gente pensar. Nunca pensei tanto sobre minha cidade como quando assisti a ‘Brasília – cidade em plano’. E aí enxergo um mérito e tanto da coreografia.

Meu pensamento é mais claramente direcionado quando o grupo lança mão de cartões postais, dispondo as fotos em diferentes partes dos corpos de quem dança. Fosse a cidade uma pessoa, teria os ombros e pés formados pelos candangos, os seios por sua sensual catedral (uma provocação apenas?), e a cobrir os olhos, cegando-a ou impedindo os outros de vê-la tal como é, o Congresso Nacional. Essa pessoa, infelizmente, pisaria sobre a Justiça, cotovelos apoiados no joelho, queixo repousando sobre o punho fechado.

Essa cidade, como diz Clarice Lispector, merece uma análise bem menos simplista do que dizer apenas se é bonita ou não. Brasília, resolveu bem Lispector, é como o nosso sonho. Nasceu para ser assim. Meu sonho de Brasília conversou o tempo inteiro com o retrato que o ASQ me ofereceu aquela noite. Em alguns momentos se encaixava, noutros causava até uma certa impaciência (“Ah, Brasília não é assim”, eu pensava), e em outros ainda só deixava a velha pergunta que sempre me acompanhou: “Mas o que elas querem dizer com isso?”

Mas me emocionou chegar ao final do espetáculo com a sensação de que nossos sonhos (o meu e o da companhia) se encaixavam. A visão de uma Brasília que é épica e digna de orgulho, com a pose altiva de quem olha pra frente, ao longe, como que se orgulhando do passado, sem perceber logo ali o excluído e esmagado. Eis minha visão de Brasília e minha visão da cena final. Belo. E intenso.

Brasília, julho de 2006.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

O papel do artista quando jovem

Atualmente estou gravando meu segundo disco. Devemos terminá-lo em agosto. Pretensioso que sou - essa é uma das críticas negativas que mais gosto de ouvir em relação ao meu trabalho -, me pergunto se estou conseguindo fazer um disco que importe, que faça sentido e possa acrescentar algo na experiência das pessoas que o escutem.

Recentemente, me deparei com duas sugestões direcionadas aos jovens artistas e que divido com vocês. A primeira é do escritor e diretor de teatro Fernando Bonassi (foto), que recentemente estreou em São Paulo a peça 'O Incrível menino da fotografia'. Em um programa da Globo News, ele afirmou que a única saída hoje para o artista é causar incômodo no público.

A frase foi dita dentro de uma reflexão sobre a função da arte nesses dias atuais, em que artistas e sociedade parecem anestesiados, sem saber o que pode ser feito para mudar o atual estado das coisas. Bonassi disse que quando alguns mais aflitos (e vira e mexe eu sou um desses aflitos) lhe questionam sobre o que devem fazer, ele sugere: "não façam". Não façam o que estão todos fazendo, não sigam o fluxo dos acomodados. Parem e se recusem a ir com os outros.

Dessa forma, Bonassi nos convida a lançarmos um olhar desconfiado à essa normalidade instalada que nos faz levar a vida assim, meio sem gosto e rumo ao caos - caos ambiental, intelecutal, cultural, social... Dentro desse contexto, ao artista resta, portanto, não levantar bandeiras ou indicar o caminho certo (como era possível e imperativo na década de 60), mas causar o desconforto que leva ao questionamento e nos ajuda a despertar da letargia. Ao defender essa postura, Bonassi parece aproximar o papel do artista ao do intelectual, que segundo o geógrafo Nilton Santos era o de "mostrar que as coisas podem ser diferentes".

A outra dica veio de um dos meus mestres, meu professor e hoje - com muito orgulho - colega Severino Francisco. Em um artigo que escreveu para o jornal da faculdade onde dá aulas, Francisco diz:

"Em um país invadido e submetido pela cultura estrangeira, como é o caso do Brasil, restam [ao artista] seis alternativas: 1) escrever uma carta em tupi-guarani reclamando para o presidente da República, como faz o personagem Policarpo Quaresma, de Lima Barreto; 2) entronizar a cafonice e proclamar "sou brega, mas sou feliz", como fizeram Xuxa, Hebe Camargo e as duplas sertanejas; 3) compor e cantar em inglês, como optaram alguns grupos de rock; 4) adotar um universalismo abstrato e ignorar qualquer circunstância local, regional ou nacional; 5) imitar a última novidade de Nova York, Paris ou Londres e fazer uma vanguarda requentada, de terceira mão; 6) assumir a condição brasileira terceiro mundista, com toda a sua potência e contradições, de uma maneira crítica e criadora, sem se fechar aos influxos da cultura internacional".

Mais adiante, ele continua:

"Embora esteja em baixa na pasmaceira pós-moderna conformista na qual estamos mergulhados, esta última me parece a atitude mais fértil se examinarmos a história da cultura brasileira."

Arrisco dizer, que em termos de música pop, estão no meio independente aqueles que têm potencial para seguir esse caminho, a começar pela teimosia de sobreviver à margem do pastiche de sonho americano vendido pelas majors, que entopem, às custas de jabá, a programação das rádios com lixo cultural. Minha pretensão me faz querer ir além da sobrevivência no mundo independente, produzindo arte incômoda e brasileira (que não precisa, como diz meu amigo Cláudio Bull, ter necessariamente elementos nordestinos ou regionalizados). Espero que eu consiga. Se não neste próximo disco, nos outros que virão - por teimosia e prazer.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Crítica - 'Dias mais tranqüilos'

Blog De Inverno - 09/04/2008

Mais um grande disco de um ano que tem nos brindando com grandes discos até aqui. To falando de "Dias mais tranquilos", do Beto Só, de Brasília, que tá saindo essa semana com exclusividade em formato virtual pelo My Space Brasil, e em seguida, em CD pelo Senhor F Discos. Já sou fã do trabalho do Beto Só desde o primeiro disco, Lançando Sinais, que é um dos mais rodados na vitrolinha aqui de casa. Gosto do jeito dele cantar, das letras singelas, dos arranjos bem resolvidos, das melodias melancólicas e ternas. Em meu mundo ideal, é o tipo de som que tocaria nas FMs e embalaria o casalzinho adolescente da novela das sete. Mas enfim, isso não vem ao caso. O fato é que o novo disco do cara tá ainda melhor, canções fudidamente belas, arranjos perfeitos, capitaneados pelo Ju, guitarrista e irmão do Beto, que conheci quando ele veio pra cá a primeira vez tocar com o Phonopop, em um show que produzimos ali no finado Vintage, com abertura do Sofia. Deve ter sido lá por 2001/2002 isso, não sei exatamente. Mas enfim. O Beto Só faz música daquele jeito que eu gosto, ou seja, absolutamente despreocupado se o que tá rolando é newelectropósgrimesheetandfucking sei lá o que. Simplesmente boas canções, boas melodias, boas letras. Parece meio óbvio, mas é que isso me parece cada vez tão mais raro que quando se encontra é motivo de celebração. Além disso, é um disco que não deve nada em termos de qualidade de produção a qualquer disco de banda gringa ou do mainstream. E não é a toa, afinal foi gravado no estúdio do Philipe Seabra (Plebe Rude), mixado e masterizado pelos irmãos Dreher. Enfim, só fera. Tem uma resolução sonora impressionante, com guitarras e cordas te envolvendo de uma forma absolutamente irresistível.

Desde ontem, quando soube que tava saindo, não consigo parar de ouvir. Gosto em especial das baladas, a começar por "Desatento", "Abre a janela", a faixa título "Os dias mais tranquilos".

E to viciado em "Todos logo ali", onde ele fala

"Pára de ranger os dentes
De frear a própria vida
Entra e fica em paz
Com a gente"



To ouvindo de novo aqui "Abre a janela" e pensando que é um daqueles discos que me causa uma "inveja branca", do tipo "queria ter feito essa música". Maravilhoso. Mas um dia a gente chega lá (eheh). Por hora me contento em ouvir e me deliciar em coisas como "Com leite e café", desde já uma das melhores do ano, e um clássico, com seu arranjo que começa acústico minimalista e vai num crescendo incrível. Fora a letra, de uma singeleza acachapante:

Com leite e café
(Beto Só e Ju)

Dorme agora
Esquece, me ouve:
a vida de antes ficou pra trás
Ontem e hoje, nunca mais

Espera amanhã
Tão logo, bem cedo
Vamos sair pra ver o sol
Sombras e nuvens, nunca mais



Vamos brindar com leite e café
Comemorar
Sentar ao balcão com gente de fé
Depois trabalhar

E se chover
Pode deixar
Deixa cair
Se é pra limpar

Enfim, um disco pra se curtir do começo ao fim, e que mostra mais uma vez que longe dos hypes vazios e das figurinhas carimbadas de sempre, existe sim vida inteligente e música de primeira categoria feita por gente de verdade nesse Braziú!

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Crítica - 'Dias mais tranqüilos'

Por Adriano Mello
Blog Coisa Pop

“O caminho é longo, mas não tenho pressa...” Com essa frase o brasiliense Beto Só começa a música “Vida Boa Não é Vida Ganha”, que abre seu segundo disco “Dias Mais Tranquillos”, lançado esse ano pelo selo Senhor F. O nome do novo trabalho do cantor e compositor combina muito bem com o que temos pela frente. Em dias cada vez mais corridos, nada melhor do que onze canções para nos fazer parar um pouco.

“Dias Mais Tranquilos” foi gravado no estúdio Daybreak em Brasília, sobre a batuta da dupla Gustavo e Thomas Dreher e produzido pelo grande Philippe Seabra. A (boa) banda que gravou com o músico é formada por Ju (guitarra), Bruno Sres (guitarra), Beto Cavani (bateria), Felipe Portillo (piano), Tiago Lanuck (teclado) e o mesmo Seabra comandando o baixo.

As canções continuam passando pelo folk rock tendo os violões como condutores nas maiorias das vezes, estando bem mais elaboradas que na estréia. As letras são outro ponto forte do trabalho, versando sobre cotidiano, amores e o tempo, além de alguma espécie de redenção como na faixa “Tão Tarde” que abre com os versos: “Eu voltei depois de enfrentar todos os monstros do mundo...”

Destaque maior para a belíssima “O Tempo Contra Nós”, já conhecida desde o ano passado, onde Beto versa: “Corre o tempo contra nós, quase que perco você, um mundo tão veloz, tenta nos separar, deixa ele tentar...”. Uma das canções de 2008, sem dúvida alguma. “Meu Velho Escort”, “Minha Doce Bailarina” e “O Espaço de Nada” são outras que merecem um pouco mais de relevância.

Com “Dias Mais Tranquilos”, Beto Só além de consolidar sua carreira com um bonito trabalho, faz um disco que com suas melodias e arranjos, alimenta não o coração, mas a alma, levando o ouvinte a pensar um pouco na vida e na correria a que se sujeita no seu cotidiano. Como diz a faixa titulo: “Que sejam longos os dias mais tranqüilos, meu dias mais felizes...”. Amém.

sábado, 14 de julho de 2007

Lucas Pocamacha, um superstar para ser amado

A primeira vez que vi um show do Superguidis foi num Gate´s Pub longe de estar cheio. Devia ter umas 70 pessoas lá dentro. A atração principal eram eles, mas como ainda não tinham disco o público de Brasília não quis arriscar. O legal, no entanto, é que quem pagou pra ver saiu de lá muito, mas muito feliz. Showzaço. “Eles são que nem os Beatles”, falei pro Fernando Rosa, dono do selo Senhor F Discos, depois da apresentação, buscando uma definição imediata.

Fernando estava com a master do primeiro disco deles e planejava lançá-lo. Combinou tudo ali mesmo, depois do show, e ‘Superguidis’, o disco, saiu em 2006 para roubar a cena. Apareceu em todas as listas como um dos melhores discos independentes do ano e os garotos começaram a ser amados por todos nós, amantes do novo rock brasileiro. E confirmou minha sensação de que a banda era mesmo que nem os Beatles.

Os quatro guris de Guaíba (RS) são foda porque não têm só música boa pra mostrar. Quando você vai a um show deles, fica logo querendo ser amigo dos caras. Fica óbvio que são meninos legais e tudo que você consegue pensar é que eles merecem que coisas boas, como o sucesso, aconteçam para eles. Carisma pouco é bobagem e parece mesmo que estamos vendo os Beatles novinhos, cantando com aquela felicidade do início da carreira.

Daí você nota que cada um dos quatro parece saber exatamente sua função na banda e que parece estar muito satisfeito com ela. O Diogo fica lá, jeitão mais sério, com charme, tocando um baixo sólido e essencial. Marcos é um baterista que gosta de arranjos simples, como a banda pede, tem cara de bom moço e uma beleza capaz de transformá-lo no preferido das garotas que vão aos shows.

E daí tem Lucas e Andrio, a dupla de compositores que faz a banda ser fantástica como poucas, dona de um repertório forte e assoviável, longe do banal. Lucas sabe que não precisa cantar para aparecer um pouco mais. Deixa seus versos para serem berrados pelo amigo. Aí a dupla de frente fica sendo Andrio, um frontman com a melhor voz hoje no rock nacional, que dosa um ar contido com empolgação sob medida, e Lucas, o guitarrista que chacoalha os cabelos de um jeito juvenil adorável, para nos intervalos das músicas fazer comentários tão desengonçados quanto simpáticos.

Andrio e Lucas completam a fórmula mágica dos Guidis no melhor estilo Lennon e McCartney, capazes de compor músicas que se encaixam perfeitamente na banda, mas com estilos muito particulares. São capazes de gerar aquelas discussões saborosas sobre quem é o melhor compositor. E a gente sabe que, mesmo que defenda que um é melhor que o outro, pode mudar de opinião na próxima audição do disco.

E aí chegamos à explicação do porquê do título deste texto, que é minha forma de correr esse risco de ter de mudar de opinião amanhã ou daqui a algumas horas. Mas o fato é que depois de ouvir 'A amarga sinfonia do superstar', o segundo disco dos guris, não pude deixar de sentir uma profunda admiração por Lucas Pocamacha, que compôs quatro das 11 canções oficiais (sem contar a faixa escondida) do CD.

Em tempos de "amor líquido", quando as relações são encontros com um curto prazo de validade e nas quais nos esforçamos pra não nos mostrarmos frágeis ou dependentes demais, Lucas é um artista que ousa desnudar toda sua fragilidade e crença no amor. Suas canções são tocantes ao expor uma busca interior para conseguir se encaixar no mundo - e assim não ser um solitário -, mas sem abrir mão de sua personalidade - o que o empurra de volta para a solidão dos incompreendidos.

É dele os versos de 'Por entre as mãos', que abre o disco numa melodia maluca e emocionante:

"O teu dom de se esconder de mim
Só é menor do que o meu de não te achar
Odeio não me irritar com as coisas que, eu sei
Me irritam em você"

E também de 'Cheiro de óleo':

"Todo mundo cai, todo mundo escorrega
E todo mundo sabe que isso é normal
Menos eu e você"

Ouça:

Como um Charlie Brown (aquele criado por Charles Schulz) do rock contemporâneo, Lucas parece perseguir a felicidade, mas sabe que não abrirá mão dos seus valores para consegui-la de forma imediata. Se transforma num questionador, de si mesmo e do mundo - "sou vítima ou culpado?", parece se perguntar. E, assim, nos oferece em forma de canções toda a angústia daqueles que ousam desejar uma felicidade não superficial como a que o mundo parece nos impor para consumo imediato. Torna-se uma pessoa em dúvida, em conflito constante, o inadequado que consegue ver o mundo de uma forma única e poética, como poucos, mas sofre por isso.

tocando um baixo s com um certoamos vendo os Betles novinhos, cantando com muita felicidadeeçaram a ser amados por Suas músicas são resultado da inteligência emocional que provêm dos que não têm certeza de nada e assim nos ajudam a alcançarmos um entendimento sobre nós mesmos através da emoção. Trazem o complexo dos que não se sentem bonitos ou cool o bastante e, justamente por isso, tocam a todos nós, que parecemos condenados a não nos sentirmos nunca bonitos ou cool o bastante. Artistas especiais como Lucas sempre terão refúgio no rock e são aqueles que fazem com que este não morra. E por isso é meu compositor predileto dos Superguidis. Mesmo que eu venha a mudar de idéia daqui a pouco, depois de ouvir 'A amarga sinfonia do superstar' mais uma vez.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Crítica - 'Dias mais tranqüilos'

Por Adriane Perin

Desde que um email trouxe a notícia de que estava disponível, só pra audição no My Space, o novo disco do brasiliense Beto Só que não consigo parar de ouvi-lo – agora já com as 11 canções devidamente baixadas da mesma página do grupo no site, onde o download gratuito é possível até dia 20/04. Quem preferir o disco “físico”, basta esperar o lançamento pelo selo Senhor F Discos.

Essa audição compulsiva não é fruto da falta de opção, mas provocada por mais um episódio brilhante da música alternativa brasileira. Sinais de Fumaça, o álbum anterior do songwriter Beto Só – nome artístico do jornalista Humberto Rezende - já dizia a que o rapaz veio. Para pôr ternura e delicadeza nesse mundo musical que tantas vezes é tão cheio de pose quanto qualquer outro. O songwriter tem companhia de ilustres companheiros para transformar o que sente e pensa em música apurada que combina sofisticação a um viés pop.

Dias mais Tranqüilos, o disco, é resultado da contribuição de outras mãos e ouvidos muito bem sintonizados. O “rude plebeu” Philipe Seabra mostra mais uma vez que tem mesmo uma sintonia fina e faro aguçado para detectar coisas boas nesse mar de bandas que o circuito independente se tornou. Assina a produção.

Nos créditos deste que é o décimo lançamento do selo independente Senhor F constam também os irmãos Dreher, Thomas e Gustavo, a dupla gaúcha que onde mete o bedelho deixa um marca não só de competência (que ela sozinha não é suficiente), mas especialmente de sensibilidade pra timbres e para evidenciar o melhor daqueles com quem trabalham. É só prestar atenção nos detalhes, no som de cada instrumento para notar que esse disco é resultado de uma entrega cuidadosa em todas as etapas de feitura.

E firma, definitivamente, a marca, o ritmo, a pulsação de Beto Só. Um canto que puxa a gente, desarma primeiro, para depois derrubar, enquanto vai soltando relatos de coração machucado; diário de uma vida que se sublima em canção (“Pára de ranger os dentes/ de frear a própria vida/ entra e fica em paz/ com a gente”). Um debulhar de sentimentos; jorros de amores - perdido, desgastado, renovado, não desejado, inescapável e, por fim, irremediável (“Não me deixa/ não me esquece/ não me larga/ não me mata/ (...) vê se me esquece, vê se não liga, vê se não volta/ vê se morre”).

Tudo começa com as letras, arrebatadoras, que (não) escondem emoções intensas em baladas que entregam um coração carregado de uma busca que não acaba nunca (“Quero estar desatento pra você chegar”). Aconchego de abraços afáveis (“O pior já passou/ você me faz ver/ eu era mesmo merecedor de dias mais felizes/ de tempos menos nublados/vem aqui me iluminar com seus olhos pequenos/ me faz rir/ e me ensina aproveitar os dias mais tranquilos”). Dias tão corriqueiros quanto preciosos (“...sentar ao balcão com gente de fé/ depois trabalhar/ ... deixa cair se é pra limpar”) Serenidade, ternura, arrebatamento, inconformismo em forma de baladas que traduzem instantes da procura incessante por algo que de tão perto, às vezes, embaça tudo (“... quero estar desatento pra você chegar”).

Dias mais tranqüilos foi gravado no Estúdio Daybreak, em Brasília, mixagem de Gustavo e masterização de Thomas. Os responsáveis pelos belos detalhes instrumentais - que nunca cansam os ouvidos - são Beto Cavani (bateria), Ju e Bruno Sres (guitarras), Philippe Seabra (baixo) e Felipe Portilho (teclados). A capa terá imagem de Cecília Mori, artista plástica brasiliense. O lançamento oficial está previsto pra maio. Até lá, só no my space.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Carta gentil

Abaixo a última 'carta gentil' publicada no antigo site. Curiosamente, recebi e-mails e algumas pessoas comentaram comigo nesses dias sobre ela, mesmo ela tendo sido escrita já faz um tempo...

Sobre a preguiça, chás de cadeira e o futuro

A pergunta voltou esta semana, nas páginas do caderno Brasília, que circula semanalmente no jornal Hoje em Dia: Por que nunca mais uma banda da capital estourou nacionalmente? Achei que a pergunta estava ficando ultrapassada, que deixaria de ouvi-la. Mas a repórter resolveu fazê-la de novo a bandas, jornalistas, produtores.

Algumas respostas foram muito próximas do que eu penso. A do meu amigo Fernando Rosa, a melhor: pelo mesmo motivo que nenhuma banda em nenhuma cidade estoura mais. Reforço o que ele disse. Vemos, cada vez mais, as (ainda, por quanto tempo?) grandes gravadoras se esforçando para manter os mesmos cinco ou seis artistas no topo das paradas.

Basta ver que a lista de melhores de um ano continua igual a do ano anterior. E, surpresa!, será igual a do ano seguinte. Refiro-me às listas dos “grandes” veículos é claro. Esses que estão no mesmo barco furado que as gravadoras. Que nem náufrago abraçado em bóia de navio, ficam se agarrando no seu esqueminha de jabá pra ver o que ainda podem pilhar do navio que vai por água abaixo. Pobres coitados, onde vão se esconder quando o dia raiar?

As bandas do meio independente que pensaram entrar no mundo cor-de-rosa das majors nos últimos dois anos se lascaram. Clipe, jabá em rádio, alguma exposição e pra onde foram L., L., MT.? Sumiram na névoa da falta de grana pra sustentar esse mercado falido e pulverizado, com um público jovem que sabe muito bem onde achar de graça a música de que realmente gosta. Rock, minha gente, é coisa de jovem urbano ou dos eternos jovens urbanos. Ouvir rádio, ficar esperando clipe bom passar na televisão e pagar por música pra essa galera é concessão cada vez mais rara.

Os brasilienses têm todo direito de desejar algo do que se orgulhar novamente. Mesmo que seja pra suprir essa necessidade besta de ouvir na praia, durante as férias, uma frase como “Você é de Brasília? Eu adoro Legião!”. Mas sonhar com uma nova Legião é o sonho errado. Os tempos são outros. E digo mais: são tempos melhores.

Sim, são tempos melhores mesmo que não produzam o novo Renato Russo. Estes são tempos melhores porque podem produzir o Renato Russo particular de cada um de nós. Aquele cara que você e mais alguns milhares ou centenas gostem de ouvir pacas e nunca vire um ídolo nacional como foi Russo. Mas que fale diretamente a você. As novas tecnologias nos condenam à liberdade de ouvirmos o que quisermos, independente do jabá. E isso não tem preço.

Então, nada contra a pergunta feita pela repórter. É uma boa linha de investigação. O que me deixa de cabelo em pé mesmo são as declarações de alguns entrevistados na matéria que insistem em comparar as bandas atuais com a dos anos 80. Alguns acham as bandas atuais preguiçosas. Que as bandas dos anos 80 eram trabalhadoras e por isso chegaram lá. Ahahaha!

Nunca, mas nunca mesmo, o lema “faça você mesmo” foi tão levado a sério. Festivais, selos, zines, turnês e sites são organizados e ganham espaço e fazem novos discos serem lançados a cada ano porque as bandas trabalham. Bandas duram cinco, dez anos sem apoio nenhum de gravadora. Por quê? Porque trabalham, bancam os custos de ensaio, gravação e prensagem de disco, carregam os equipamentos pra tocar, distribuem panfletos e cartazes, mantêm sites.

Outros, na reportagem do Hoje em Dia, chegaram a culpar a Internet pela acomodação das bandas. Uahahauahauahauahauahaua! (pros desinformados como o sujeito que disse isso no jornal, isso é uma gargalhada histérica na linguagem de Internet). Como recomendação para escapar da acomodação gerada pelo mundo virtual, ficou a dica para as bandas se mudarem para São Paulo e “tomar chá de cadeira nas rádios”. Uau!, acho que contratarei o autor dessa frase como consultor para minha carreira.

A Internet é simplesmente a responsável pela maior transformação que o mundo da música irá sofrer / está sofrendo. Ignorá-la é passar atestado de neolítico. O que as bandas de hoje sabem é que a Internet é um poderoso meio de comunicação que possibilita (e isso só vai ampliar enormemente a cada dia) você atingir diretamente seu público. Coisa que você nunca conseguirá fazendo o ridículo papel de pedinte de esmola em rádio comandada por DJs que só tocam o que está na folha de pagamento.

Estudiosos já prevêem a falência das rádios, por justamente terem ignorado o público mais jovem. Eles acreditam que as rádios não mais conseguirão atrair a geração que está crescendo ouvindo rádio por satélite e descobrindo música na Internet. Ao mesmo tempo, os especialistas apontam que o velho conceito de vender música já era. O que importa agora é você chamar a atenção em vez de se preocupar em vender. "Atenção é dinheiro", avisam. Cative seu público que o dinheiro vem. Essa é a nova ordem, que os indepentendes, esses “preguiçosos”, perceberam (talvez por que têm tempo de sobra, quem sabe?) melhor do que ninguém.

Viva o futuro!

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> Data e valor do depósito (se quiser anexe o comprovante de depósito)
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Discos

Dias mais tranqüilos
(Senhor F Discos - 2008)

Faixas: 1.Vida boa não é vida ganha 2.Desatento 3.O tempo contra nós 4.Tão tarde 5.Meu velho Escort 6.Minha doce bailarina 7.Abre a janela 8.O espaço de nada 9.Os dias mais tranqüilos 10.Todos logo ali 11.Abre a janela

Ouça:
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MySpace

Ficha técnica: Banda: Beto Só (voz e violão), Ju (guitarra), Bruno Sres (guitarra), Philippe Seabra (baixo), Beto Cavani (bateria), Felipe Portilho (pianos) Produzido e gravado por Philippe Seabra (estúdio Daybreak) Mixado por Gustavo Dreher Masterizado por Thomas Dreher Violoncelo por Ataíde Matos Teclado por Tiago Ianuck Arte por André Ramos, a partir de obra, sem título de Cecília Mori


Lançando sinais
(Senhor F Discos - 2005)

Faixas: 1.Meus olhos 2.Meu amor quem foi? 3.Isadora 4.Olha 5.Me faz feliz 6.Lançando sinais 7.Fica tudo bem 8.Espera inútil 9.Guirlanda de flores 10.Amor em silêncio 11.Eu digo sim

Ouça:

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Trama Virtual

Para ouvir e baixar algumas faixas:
MySpace

Ficha técnica: Banda: Beto Só (voz e violão), Ju (guitarra), Tiago Ianuck (teclado), Mateus Baeta (baixo), Beto Cavani (bateria) Produzido e gravado por Philippe Seabra (estúdio Daybreak) Mixado por Gustavo Dreher Masterizado por Thomas Dreher Violoncelo por Guto Guerra Arte por André Ramos Ilustrações por Mário Barata

terça-feira, 10 de julho de 2007

Agenda


Shows agendados

16 de julho - Brasília (Balaio Café, 201 Norte)
27 de agosto - Curitiba
28 de agosto - Porto Alegre
 
Shows passados
2010

27 de agosto - com Charme Chulo - Velvet Pub (Brasília)
 2009
25 de setembro - Centro Cultural Itaú - com Frank Jorge - São Paulo
24 de julho - Festival Rock de Inverno 7 - Curitiba (PR)
5 de julho - Projeto Oi Expressões (Brasília)
2 de julho - Projeto Solitários Incríveis - com Frank Jorge - Gate´s Pub (Brasília)
29 de abril - Jogo de Cena - Teatro da Caixa (Brasília)
16 de janeiro - com Superguidis e The Pro - Gate´s Pub (Brasília)

2008
4 de dezembro - com Carolina Diz - A Obra (Belo Horizonte)
27 de novembro - com Marcelo Camelo, Azevedo Silva e Danteinferno - Festival El Mapa de Todos (Brasília)
29 de maio - com Vanguart - Espaço BarsilTelecom (Brasília)
10 de abril - Rayuella Bistrô (Brasília)
13 de fevereiro - com Phonopop - UK Brasil Pub (Brasília)

Crítica de 'Dias mais tranqüilos'

Por Lafaiete Junior

A vida moderna pode ser mais fácil do que imaginamos, porém as obrigações e correrias do cada vez mais curto dia-a-dia não nos deixam perceber que as complicações, na maioria das vezes, são frutos de nossas mentes absortas. Mas o brasiliense Beto Só se apropria dos nossos questionamentos e incertezas e amores e raivas e trabalhos e cria deliciosas canções em seu segundo álbum, “Dias Mais Tranqüilos”. O disco apresenta uma seqüência de músicas que nos obrigam a fechar os olhos em meio a melodias tão singelas e afáveis, um carinho no peito.

Nesses dias cada vez mais curtos, as pessoas, além da procura por dinheiro, também buscam a felicidade. E Beto Só parece encontrar sua felicidade em canções sensíveis sobre dias poeticamente mais tranqüilos do que os dias daqueles que não conseguem encontrar em detalhes e até mesmo em incertezas cotidianas, alguns dos bons ensinamentos para vida. E essa feliz obra de Beto também pode ser creditada à feliz parceria com Philippe Seabra (produção e baixo), com a dupla dinâmica Gustavo Dreher (mixagem) e Thomas Dreher (masterização) e com os músicos Beto Cavani (bateria), Ju e Bruno Sres (guitarras) e Felipe Portilho (teclados), além do lançamento do álbum pelo selo Senhor F Discos.

Trabalhando com esse time de peso do cenário independente a seu favor, Beto Só tem uma base sólida para criar canções intimistas que parecem terem sido feitas sob medida para corações que anseiam por uma sensibilidade alheia pela qual se identifiquem. Talvez por isso a presença marcante de violões, que deixam tudo com um ar de enorme proximidade com o ouvinte, em canções com pegada pop que transcendem as barreiras musicais (se é que elas existem) do indie rock. Além dos violões, estão lá bons arranjos, belos efeitos de guitarra e melodias peculiares. Tudo servindo de suporte a letras com uma poesia afetiva e singela.

As letras de “Dias Mais Tranqüilos” funcionam como um baú empoeirado de sentimentos guardados. Sentimentos que se tornam saudáveis a partir do momento em que são musicados, transformados em canções embebidas pela atemporalidade do mundo da música, na qual os mais velhos e mais novos possam se identificar. Seja na pegajosa “Vida Boa Não é Vida Ganha” (um caminho é longo / mas não tenho pressa / nem tenho certeza / ... / até que eu encontre não me importo de errar / difícil é andar sobre o fio da navalha) ou na densa “O Tempo Contra Nós” (corre o tempo contra nós / quase que perco você / um mundo tão veloz / tenta nos separar / deixa ele tentar). Na quase on the road “Meu Velho Escort” (olho as horas passam lentas / bocejo um choro sem dor / sem alma não há dor não / ... / saio nas ruas e estou só / dirijo meu velho escort / pra mim quanto mais longe melhor) ou na sensual e crescente “Minha Doce Bailarina” (me faz lembrar da vida que eu tenho pra viver / me faz criar coragem / me faz sentir vontade).

A sensibilidade poética de Beto ainda permanece perceptível tanto na direta “Abre a Janela” (vê se me esquece / vê se não liga / vê se não volta / vê se morre) quanto na faixa título (vem aqui me iluminar / com seus olhos pequenos / me faz rir / e me ensina aproveitar os dias mais tranqüilos). Além de “Todos Logo Ali” (pára de ranger os dentes / de frear a própria vida / entra e fica em paz / com a gente) e de “Com Leite e Café” (vamos brindar / com leite e café comemorar / sentar ao balcão com gente de fé / depois trabalhar / e se chover / pode deixar / deixa cair se é pra limpar).

Em “Dias Mais Tranqüilos”, Beto Só expõe suas memórias e sentimentos de uma maneira espontânea e até mesmo bonita, tornando-se um quase baú do fundo do peito aberto em praça pública - ou pelo menos diante de amigos que estão dispostos a escutarem suas recordações e experiências de outrora. Transformando-o em um disco intimista sem soar chato e chorão. Um disco com uma ternura e inconformismo que soam verdadeiros. Bem como a consciência de que dias mais tranqüilos ainda virão.

Clipe de 'Meus olhos'

Ficha técnica:
Direção: Sérgio Raposo e Marcelo Barbosa
Produção e figurinos: Maíra Carvalho
Direção de Arte: Yana Tamayo
Maquinistas: Dico e Jeander
Maquiagem: Diego Reboredo
Elenco:
Solitário - Beto Só
Cantor - João Paulo Oliveira
Casal 1 - Larissa Salgado e João Carlos Fontoura
Casal que briga - Lívia Bennet e Iberê Carvalho
Meninas (da esquerda para direita) - Joana Maria Chaves, Michelle Coelho e Janaína Carvalho
Banda - Bruno Sres (violão), Ju (guitarra), Beto Cavani (bateria), Mateus Baeta (baixo), Cecília Mori (violoncelo), Tiago Ianuck (teclado)

Release de 'Lançando sinais'


CURRICULUM VITAE
Beto Só
Cantor e compositor brasiliense, Beto Só é considerado hoje um dos maiores expoentes da nova música jovem produzida na capital federal. Tem dois discos lançados, sendo que o mais recente, ‘Dias mais tranqüilos’, de 2008, foi considerado o melhor lançamento independente nacional pelos jornais Correio Braziliense (DF) e Estado de Minas (MG). O CD mereceu também elogios de veículos como Rolling Stone, Trama Virtual, Jornal do Estado (PR), além de ser lançado, com destaque, no site MySpace.

Seu disco de estreia, ‘Lançando sinais’, de 2005, também foi muito bem acolhido pela crítica especializada, entrando na lista de melhores do ano de veículos como Correio Braziliense, Tribuna Catarinense (SC) e Diário do Pará (PA). A faixa ‘Meu amor quem foi?’, de autoria de Beto Só e Ju, integrou a trilha sonora da série de tevê ‘Avassaladoras’ (Fox/Record).

Beto Só integra o elenco de artistas do selo Senhor F Discos, criado pelo músico Philippe Seabra (Plebe Rude) e pelo jornalista Fernando Rosa (Senhor F). Seus dois discos tiveram produção de Philippe Seabra.

É colunista do site Senhor F (www.senhorf.com.br), onde escreve sobre música pop e a relação dos artistas independentes com o mercado atual, além de discutir as novas possibilidades de divulgação musical abertas pelas novas tecnologias.

Antes de seguir carreira solo, Beto Só participou ativamente da cena musical de Brasília, tendo integrado bandas como Adeus, Meninos e o projeto Beto Só & os Solitários Incríveis, com as quais lançou CDs demos e participou de festivais como o Goiânia Noise (GO), Porão do Rock (DF) e Super Noites Senhor F (DF).