quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Feliz ano-novo com StereoScope
Não sei se é porque em Brasília ficamos num clima chuvoso e cinzeto ou porque minha culpa de burguês aparece de forma mais acentuada. O fato é que os feriados de fim de ano me deixam melancólico. Mesmo tendo passado ótimos Natal e reveillon, ando em câmera lenta, preguiçoso e contemplativo. A chegada do ano-novo não ajuda a mudar meu sentimento. Também não sei a razão, mas acho meio forçado aquele entusiasmo todo que as pessoas manifestam quando chega a meia-noite de 31 de dezembro. Sempre me senti esquisito porque não fico tão feliz quanto os outros parecem ficar e comecei a desconfiar que deve ser fingimento deles.
Faz alguns anos que, quando o fim de dezembro se aproxima, começo a lembrar mais das canções dos caras do StereoScope, belíssima banda de Belém. Isso ocorre principalmente porque a primeira música que ouvi deles era justamente uma que fala do Natal: 'Antigos carnavais (boas festas)', do primeiro disco, 'Rádio 2000', lançado em 2003. Acho que a ouvi naquele mesmo ano, quando a Senhor F a incluiu num e-mail de fim de ano.
"Não adianta dizer que vai ficar mal / Na noite de Natal, é sempre tudo bom", ouvi Jack Nilson cantar numa melodia ao mesmo tempo triste e acolhedora. Fiquei impressionado como aquela gravação lo-fi combinava perfeitamente com o sentimento (um misto de alegria e reflexão melancólica) que me domina todo fim de ano e fui atrás de outras coisas da banda.
'Antigos carnavais' acabou sendo apenas a minha porta de entrada para o mundo do StereoScope, conjunto capaz de combinar rimas ao mesmo tempo espertas e simples com uma profundidade existencial rara. Logo descobri outras belas músicas no disco de estréia, como 'Cherole' (que pra mim é uma espécie de 'She´s leaving home' brasileira), 'Felicidade Azul' e 'Eu envelheço' (uma das minhas músicas preferidas do rock nacional de todos os tempos).Tornei-me fã.
Talvez a grande vantagem da banda seja reunir três grandes compositores (além de Jack, Ricardo Maradei e Marcelo Nazareth) que, apesar de estilos próprios, fazem composições que interagem entre si e dão forma a um repertório consistente. E com uma sonoridade com toques sessentistas repleta de arranjos bem trabalhados, com detalhes saborosos adornando as músicas.
Prova disso é segundo CD dos caras, 'O grande passeio do SteroScope', obra quase conceitual que consegue trazer, ao longo de 15 faixas, reflexões, insights e retratos da nossa vida. Está tudo ali: a rotina que segue igual mesmo depois da morte de um jovem ('O grande passeio ou este lado da vida'), o eterno risco de sermos pegos de surpresa e vermos nossas certezas se desmanchando ('Anche se sia de notte', que tem o maravilhoso verso "De repente chega alguém que não conhece avião, mas sabe voar"); a sensação dos anos passando enquanto ainda somos jovens ('Novembro'); a luta necessária contra a solidão e a busca pela felicidade ('O que você tem'); a lembrança da primeira paixão ('Maria, doze anos') e muito mais.
O StereoScope é dessas bandas que exalam inteligência sem prejuízo algum para a emoção e a simplicidade. E por isso é capaz de oferecer músicas que nos fazem companhia e dão alento. A boa notícia é que o ano que se inicia hoje traz a promessa de lançamento do terceiro disco deles. Será uma dos momentos mais legais para mim deste 2010.
Feliz ano-novo, amigos.
PS: para ouvir os dois primeiros discos do StereoScope, basta clicar aqui.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Melhores dos anos 00
Dos apontados ali, meus favoritos: Superguidis, Prot(o), Suite Super Luxo, Phonopop, Gianoukas Papoulas, Los Hermanos e Frank Jorge. Que faltaram: Lestics (mas o Gianoukas representa bem o Olavo e Umberto e cia) e StereoScope. Por sinal, devo um texto sobre o StereoScope desde que iniciei este blog. Prometo escrever em breve.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Eu eu eu a OMB se deu mal
O Acórdão destaca, entre outros pontos, que "a Lei nº 3.857/60 não exige o registro na OMB de todo e qualquer músico para o exercício da profissão, mas apenas dos que estão sujeitos à formação acadêmica sob controle e fiscalização do Ministério da Educação". “De agora em diante os músicos do estado de São Paulo não podem mais ser fiscalizados pela OMB e nem tampouco ter a obrigatoriedade da inscrição na mesma”, disse Giannazi em seu pronunciamento na Assembléia Legislativa de São Paulo.
Giannazi fez também uma representação no Ministério Público Federal pedindo a suspensão de vários artigos da Lei 3857/60 - que criou a Ordem dos Músicos do Brasil. Depois de julgada pelo Supremo, a ação pode passar a valer em todo o território nacional, desobrigando músicos da inscrição na entidade. O Acórdão está disponível no site do Tribunal Regional Federal (www.trf3.jus. br). Para quem quiser consultar na íntegra, o número do processo é 2005.61.15.001047- 2.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
domingo, 15 de novembro de 2009
Dona Canô pede desculpas por Caetano
A família do cantor e compositor Caetano Veloso pediu desculpas públicas ao presidente Lula pela infeliz e preconceituosa declaração do músico. Em texto assinado pelo irmão Rodrigo Velloso, a família, e em especial Dona Canô, fez questão de esclarecer que nada tem a ver com a declaração do mano famoso. Na semana passada, Caetano referiu-se ao presidente Lula como analfabeto, ao mesmo tempo em que teceu elogios ao ex-presidente FHC. O texto abaixo foi publicado no jornal Correio da Bahia.
"Venho a público esclarecer que a recente declaração, feita pelo cantor e compositor Caetano Veloso sobre o Presidente Lula, não expressa, em nenhuma hipótese, a opinião da família Velloso. Sua matriarca, Dona Canô, por meu intermédio, deseja se dirigir ao Governador Jaques Wagner, a todos os brasileiros e, principalmente, ao Presidente da República, com um sincero pedido de desculpas".
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Um mantra: a música como fim
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Cover de Elliott Smith
Neste mês, a morte de Elliott Smith completa seis anos. O gênio morreu em 21 de outubro de 2003 e deixou muita saudade. Por isso, coloco abaixo um vídeo no qual apareço tocando ‘Cupid´s Trick’ com meus antigos companheiros, os Solitários Incríveis Ju, Capa e Txotxa. Foi gravado em 2002, no Festival Goiânia Noise.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Boas intenções
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Quer vender disco? Agrade de verdade seu público
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
sábado, 3 de outubro de 2009
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
São Paulo
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Em São Paulo (e na rede) com Frank Jorge
Além de fazer algumas músicas com o Frank, vamos ter o prazer de receber o Olavo e o Umberto do Lestics, que tocarão a linda 'Velho' com a gente.
Pra quem não estará em São Paulo, o site o Itaú Cultural vai transmitir o show ao vivo.
Pra quem pode ir, os detalhes:
Frank Jorge + Beto Só
Sexta, 25 de setembro, 20h
Entrada franca: distribuição de convites a partir das 19h30
Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô)
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Conselho
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
No Multishow
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Muito obrigado
Chego hoje a Brasília. Escrevo do Aeroporto de Congonhas, enquanto espero meu voo, marcado para daqui a duas horas. Na memória, além de bons e relaxantes dias em São Paulo e no Rio de Janeiro, o show de Curitiba, no último dia 24. As lembranças me fazem ter certerza de uma coisa: o mundo virtual é legal, mas a realidade é fantástica.
Cada vez mais tranquilo com meus status de músico independente, agradeço todos os dias à internet, pelo contato que ela me proporciona com ouvintes, às vezes fãs. A certeza de que sou ouvido chega por meio de textos descobertos via Google, números que aumentam pouco a pouco em MySpaces, YouTubes e Tramas da vida, e-mails e comentários neste blog que me deixam feliz da vida. Algumas dezenas, talvez centenas, de pessoas que retornam os sinais lançados via mundo virtual.
Mas ter a chance de olhar, de um palco, uma pequena porção dessas pessoas, identificar seus rostos e tocar para elas é fenomenal. Como se fosse a confirmação de algo no qual acreditava, mas ainda tinha dúvidas.
Nossa participação no Festival Rock de Inverno 7 não poderia ter sido mais legal. Bom, talvez se o frio não tivesse me deixado gripado e com a voz abalada, ou se eu não ficasse nervoso e tivesse acertado todos os acordes de 'Abre a janela' (uma espécie de bis na apresentação), teria sido melhor. Mas esses detalhes pouco importam. Ver minhas expectativas de tocar para quase ninguém, pelo fato de sermos a última banda do primeiro dia, serem desfeitas quando começamos o show foi muito recompensador.
O que resta, além das lembranças bacaníssimas, é a vontade de agradecer, com sinceridade, ao Ivan e a Adri, pelo convite, ao Luigi e equipe, pelo tratamento e som de primeira, aos músicos que me acompanharam nessa festa, às bandas que subiram para cantar 'Gloria' com a gente e a quem esperou, cantou junto e pediu pra ouvir essa ou aquela canção.
Eu andava bastante inseguro com shows desde que tocamos em Belo Horizonte, em um lugar cheio de gente, mas com a grande maioria dos presentes nos ignorando. Curitiba lavou minha alma. Aquele pequeno punhado de gente me fez achar que a coisa toda é de verdade e que vale muito à pena. Que venham outros. Mesmo que demorem, não há problema. Aprendi a esperar e a aproveitar esses bons momentos. Ainda bem.
Beijos.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Reflexões antes de partir para Curitiba
terça-feira, 14 de julho de 2009
Em Curitiba
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Questionário
Na semana passada, o Jornal de Brasília enviou algumas perguntas para mim e o Frank Jorge, por conta do início do projeto Solitários Incríveis. Como não couberam todas as respostas, coloco a íntegra da minha parte (isso é que é falta de inspiração para um novo post!).
O que é ser um “solitário incrível”?
Caramba, não estava preparado para essa pergunta. Mas acho que o ser humano é, por essência, um solitário incrível. Somos únicos e especiais, pelo menos eu acho.
O que ouve um “solitário incrível”?
Frank Jorge e Beto Só.
Existe uma ponte Porto Alegre – Brasília na música brasileira?
Deve ter. Algumas das coisas que mais gosto de ouvir atualmente vêm de Porto Alegre. O próprio Frank e o Superguidis, que é de Guaíba, na verdade. Me identifico muito com o Nei Lisboa também, que despertou em mim a vontade de ser um cantor e compositor solo.
O formato acústico é solitário por excelência? Ou não necessariamente?
O acústico radicalizado é um cara e seu violão, né? O acústico chama a atenção para a composição, para a canção, que na grande parte das vezes é criada de forma solitária. Mesmo quando componho em parceria, preciso de um momento sozinho.
Quem, nessa ponte Brasília-Porto Alegre, você admira musicalmente (pode citar de lá e cá)?
Já citei ali atrás minhas preferências no Sul. Em Brasília, cuja cena conheço mais, admiro muita gente. Disco Alto, Watson, Cine Hits e Phonopop são minhas bandas prediletas atualmente. Pra esse projeto, já convidamos o Carlos Pinduca, pra mostrar as canções que compôs quando estava no Maskavo Roots e no Prot(o). Gosto muito do Cláudio Bull (Superquadra) também.
Pampa e cerrado: o que sai desta união?
Difícil essa. Parece uma união complicada, algo que já tem uma tradição com algo que ainda busca sua identidade. Os gaúchos têm um orgulho de serem gaúchos que os brasilienses ainda não conhecem. Mas Brasília tem a chance de apontar para o novo. Por isso, acredito que seja uma troca saudável.
Diga 3 canções de amor perfeitas (pode justificar brevemente)
“Between the Bars” (Elliott Smith). Etílica e esperançosa. Linda!
“Far from me” (Nick Cave). Realista e emocionante. O amor do começo ao fim.
“Why can´t I be you” (The Cure). Feliz e divertida como a paixão correspondida.
Cite 3 canções de fossa perfeitas (pode justificar brevemente)
“De tanto amor” (Roberto e Erasmo Carlos). A minha preferida deles.
“For no one”. É Lennon e McCartney, né? Arrasadora.
“C’mon Billy” (PJ Harvey). Amor feminino, desesperado e intenso.
Como vai ser o mundo sem Michael Jackson daqui para frente?
Acho que igual. Não via ele como alguém que estava fazendo a diferença, inovando. O legado dele já foi deixado.
Qual a sua predileta do Michael Jackson?
Ben.
Como anda o mercado da música em sua cidade?
O mercado aqui é no máximo uma feirinha hippie.
Quais seus últimos projetos?
Esse show acústico já é a preparação do meu próximo CD, que quero gravar no ano que vem. Ele será gravado nesse formato e com esses músicos (Ataide Matos, no violoncelo, Ju, na guitarra, e eu, na voz e violão). Estamos preparando músicas novas que vão sendo incorporadas no repertório do show à medida que ficarem prontas até termos todas as canções do disco finalizadas.
O que você andou lendo que tenha influnciado sua música?
“Amor líquido”, do Zygmunt Bauman me marcou e resultou numa canção dessa safra nova, chamada “Rumo ao futuro”.
Como a temperatura e o clima de sua cidade influencia sua obra?
Quando tá frio, gosto de dirigir mais devagar, ouvindo músicas tristes. Acho que fico mais animado pra compor.
É mais fácil (melhor, pior) compor na secura ou na umidade?
No seco.
Se tivesse a chance de ser outra pessoa durante uma semana: quem seria?
Ficaria com medo disso e recusaria a oferta.
Qual a canção de outrém – se pudesse escolher para si – você gostaria de ter feito? Por quê?
Eu gostaria de compor “O Vencedor”, do Los Hermanos, que tem uma letra provocativa, fundamental pros dias de hoje. Também queria ter composto “Saturno”, música do Fernando Brasil e Carlos Pinduca, do novo disco do Phonopop. É linda demais. O irônico é que o Fernando me mandou a música para eu por a letra e não consegui. O Pinduca fez e mandou bem demais.
Cite um álbum que represente o seu “eu”.
É o meu primeiro mesmo, Lançando Sinais, de 2005. Tem umas letras tão confessionais que dá até vergonha hoje em dia.
Cite um filme que é o roteiro (ou quase) de sua vida.
“O mito do orgasmo masculino” (John Hamilton). Minha vida e angústias até os meus 30 anos mais ou menos.
Que episódio da múisca gostaria de ter vivenciado de pertinho?
Acho que nenhuma em especial. Gostei de acompanhar o rock brasileiro dos anos 80. Não sou tão tarado assim por ídolos das antigas, sonhando em vê-los tocar ao vivo. Lamento um pouco não ter visto Elliott Smith ou Smiths ao vivo, mas nada muito grave.
domingo, 5 de julho de 2009
sábado, 4 de julho de 2009
Show domingo
sexta-feira, 26 de junho de 2009
quarta-feira, 24 de junho de 2009
O marido da cabeleireira
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Pílulas: pequenos fatos dignos de nota
quarta-feira, 13 de maio de 2009
'O tempo contra nós': 5 mil downloads
sexta-feira, 8 de maio de 2009
'C_mpl_te', o segundo do Móveis
terça-feira, 5 de maio de 2009
Moretti + Cohen
O bom é que posso reparar minha falha anterior. O chato é que tenho de admitir que minha ignorância era imensa. A música é 'I´m your man', cantada por Leonard Cohen. E pelo jeito, é uma das mais conhecidas dele, pois virou título de filme. Mas poder lembrar a cena em que Nanni Moretti passeia de lambreta pelas ruas de Roma, em 'Caro Diário', compensa a vergonha diante de minha lacuna musical.
O filme do italiano é um dos que me inspiram mais carinho. Lembro até hoje da minha grata surpresa ao assisti-lo pela primeira vez no cinema da Cultura Inglesa. Um humor leve, crítico e ácido ao mesmo tempo, raro de encontrar. Poucos dias depois, levei meus melhores amigos ao cinema e o assisti de novo. Fiz isso com poucos filmes na vida.
Se você ainda não viu, veja uma palhinha abaixo. Se já, provavelmente vai gostar de rever. Cortesia do santo YouTube.
terça-feira, 28 de abril de 2009
Ataide, o revolucionário. Ou Beethoven encontra Nick Cave
Ataide gravou violoncelo em algumas músicas de 'Dias mais tranquilos', meu segundo disco. No começo do ano liguei para ele e pedi a indicação de algum aluno que pudesse participar desse novo show, em formato quase acústico. Pensava que talvez pudesse encontrar algum jovem violoncelista que gostasse de ouvir rock e quisesse fazer parte de um projeto assim. Para minha feliz surpresa, Ataide indicou ele mesmo. Aceitei, é claro. Mas morrendo de medo. Afinal, o que um "músico de verdade" (expressão que ele odeia, por sinal) pensaria das composições que crio em parceria com o Ju? O cara que conhece peças de Mozart, Beethoven, Bach e outros nomes dos quais nem ouvi falar não acharia tudo muito primário?
Passadas algumas horas de ensaio, entre uma história hilária e outra, veio uma confissão que eu nunca imaginaria ouvir. Ataide disse que estava nervoso de tocar com a gente, com medo de não conseguir. A música popular, do jeito que as bandas de rock estão acostumadas a fazer, com arranjos sendo criados coletivamente, muitas vezes na base do improviso, era um universo totalmente desconhecido para ele. Daí o receio de não dar conta. Confessado o medo que eu e o Ju também sentíamos, a conversa se tornou franca e muito esclarecedora.
Ele disse que estava em busca de uma nova relação com a música, na qual o artista não seja só um repetidor, mas um criador. Coisa que nós, roqueiros invocados, nos metemos a fazer assim que aprendemos os dois primeiros acordes no violão. Os ensaios com Ataide serviram, então, para aumentar, e muito, minha autoestima. Ele me fez ver que todos esses anos compondo e tocando em diversas bandas me ajudaram a desenvolver uma espécie de saber intuitivo, um domínio de uma forma de cultura popular bastante rica. É bizarro ouvi-lo comparar as linhas de violoncelo que criamos (o Ju bem mais que eu) com estruturas usadas por compositores clássicos. "Esse recurso melódico era muito usado por Beethoven", ele solta de vez em quando, para nosso espanto e constrangimento. "Estamos só tentando imitar o Nick Cave", respondemos.
O que mais admiro na postura de Ataide é a busca de uma nova forma de ensinar música para seus alunos. Ao topar fazer rock com a gente, ele está na verdade aprendendo como funciona a música popular para, depois, tornar o estudo do violoncelo algo mais atraente para seus jovens estudantes. Quantos músicos não desistiram das aulas tradicionais porque não aguentaram o saco de seguir métodos rígidos que insistem na repetição e não estimulam a criatividade? Não seria bom um professor que te ajudasse a ver a relação entre Beatles, Luiz Gonzaga e Mozart? É o que ele tem buscado fazer. E acaba enfrentando resistência de colegas que insistem em colocar o erudito em um nível superior ao popular. Nesses anos todos de rock, nunca encontrei alguém tão punk e revolucionário como Ataide. É uma honra tocar com ele.
No show de amanhã, faremos só três músicas. Mas a partir de maio faremos apresentações completas, que incluirão duas músicas inéditas, compostas recentemente. Espero ver vocês na plateia em alguma delas.
Abraços.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Adeus ao velho Escort
Agora me dei conta de que não tirei nenhuma foto do meu antigo carrinho... Então deixo aqui a música na qual o menciono, gravada no meu último disco. A partir de hoje, perambulo pela cidade num novo Ka. Menos charmoso, mas bem mais confiável.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Uma das (várias) lições dos Móveis
O lançamento do segundo disco dos caras, 'C_mpl_te', só tende a confirmar isso, quando eles dão um passo que parece ser do tamanho exato de suas pernas, lançando pela Trama. Mas é uma frase que li na crítica sobre o CD publicada no Correio Braziliense de hoje que eu queria destacar aqui. Lá pelas tantas em seu texto, o jornalista Tiago Faria diz: "Como eles conseguiram (um excelente disco)? Com naturalidade, sim, mas não dá para descontar o auxílio do (produtor) Carlos Eduardo Miranda. Um dos maiores equívocos do rock independente brasileiro é subestimar a importância de um bom produtor".
Na mosca, Tiago. Esse é um dos passos fundamentais que o meio independente brasileiro precisa dar. O caso dos Móveis é emblemático. No primeiro disco, conseguiram trabalhar com Rafael Ramos e, agora, com Miranda. Os dois produtores podem não ser ideal para sua banda ou para mim. Mas um bom produtor é essencial para 99% dos artistas -- e os independentes não são exceção. No caso dos Móveis funcionou e o principal do exemplo deles é a preocupação em buscar um bom produtor. Por outro lado, há vários exemplos emblemáticos extamente opostos. De discos que possuem um belo repertório, mas sofrem com uma produção pobre, que pode levar desde erros de timbragem (ou alguns ainda mais graves de execução mesmo) à falta de conceito, ou melhor, unidade.
Não me esqueço do dia em que ouvi pela primeira vez meu primeiro disco, 'Lançando sinais', gravado e produzido por Philippe Seabra. Meu primeiro comentário foi: "Está tão bom que não parece um disco meu". É claro, meus discos anteriores eram EPs e demos "produzidos" pelos donos dos estúdios que alugávamos para gravar. Nâo havia um cara de fora, com talento ou bom ouvido, para apontar coisas que não percebíamos, para fazer o controle de qualidade ficar num nível mais alto. Quando o Philippe fez isso por nós, o resultado foi surpreendente, mesmo para mim e para a banda que me acompanhava.
As novas tecnologias nos permitem gravar em casa, de forma rápida e fácil e cada vez mais barata. Mas o processo de dar forma a um álbum é muito mais complexo que simplesmente dominar softwares modernos. Claro, todos ainda estamos aprendendo. Um cara que hoje só grava uma banda pode se tornar daqui a pouco um belo produtor. Mas se quisermos fazer a diferença -- e certamente, do jeito que as coisas estão, o mundo precisa que façamos a diferença -- temos de ser exigentes. E não temos sido, em grande parte das vezes, no que diz respeito à produção.
sexta-feira, 27 de março de 2009
Um pouco sobre Milk e os gays
A matéria do Correio mostrava que, no domingo que passou, a resolução do Conselho Federal de Psicologia do Brasil que proíbe terapeutas de tratar a homossexualidade como doença, oferencendo "cura" aos pacientes, completou 10 anos. Ou seja, só a partir de março de 1999 passou a ser inaceitável que um psicólogo diga que pode fazer com que alguém deixe de ser gay. E, pasmem, a decisão foi pioneira no mundo, sendo seguida depois pelos conselhos de outros países.
Se até psicólogos podiam tentar "curar" os gays, o que esperar de pais que cresceram envoltos em medo e precoceito? Me dar conta disso fez com que a coragem de Milk de dizer a tantos gays que não havia nada de errado com eles e que Deus os amava se tornasse ainda mais admirável. Assim como a história do jovem roteirista, que sonhava em levar às telas a história do homem que deu a ele esperanças de poder viver uma vida normal e feliz, em paz com sua orientação sexual.
Pra mim, Dustin Lance foi muito feliz quando inseriu no filme o personagem de um jovem adolescente que liga para Milk dizendo que seus pais pretendem interná-lo por ser gay. Milk então diz ao garoto que fuja de casa, procure amigos que o aceitem e não deixe que seus pais o tratem como uma aberração. O garoto diz então que não pode fugir. A câmera se afasta e descobrimos que ele é cadeirante. Temos ali um símbolo de todos nós, que podemos nos paralisar frente ao medo de enfrentar um mundo que nos quer oprimir, seja por qual motivo for.
Muito provavelmente, Dustin se sentiu alguma vez na vida limitado como aquele personagem. Todos nós já nos sentimos assim. Mas, belamente, o adolescente aparece mais uma vez no filme para nos mostrar que essas barreiras -- externas e internas -- são superáveis. (Re)vejam o discurso de Dustin. Vale a pena.
Abraços.
sexta-feira, 20 de março de 2009
"O" show
Agonia e êxtase
Tiago Faria e
Daniela Paiva
Da equipe do Correio
Nas entrelinhas de cada um dos álbuns do Radiohead, uma mensagem subliminar alerta os fãs: espere pelo imprevisível. O talento para se reinventar é a força vital de uma das bandas de rock mais inventivas — e surpreendentes — de que se tem notícia. Por isso mesmo, que ninguém se apresse a especular sobre o formato do show que os ingleses apresentam este fim de semana no Brasil — hoje à noite no Rio de Janeiro e domingo em São Paulo. No México, há uma semana, o quinteto deu provas de simpatia e bom humor ao resgatar hits como Creep e My iron lung. Em entrevista ao Fantástico, o guitarrista Ed O’Brien listou semelhanças entre a obra-prima Ok computer, de 1997, e a poesia melancólica da bossa nova de João Gilberto. Alguma coisa está fora da ordem?
Felizmente, não. Desde o início dos anos 1990, as guinadas criativas da banda de Oxford foram recebidas com misto de espanto e excitação. Se a estreia Pablo honey (1993) soava como uma resposta inglesa para a catarse do grunge de Seattle, The bends (1995) desfiava versos ainda mais doloridos, espelhos para as tensões do fim do milênio. Mas a grande virada chegaria dois anos depois, com o cultuado Ok computer. A segurança conquistada por sucessos como High and dry e Fake plastic trees permitiu uma ousada fusão de elementos de rock e eletrônica, que seria aprofundada no minimalista Kid A (2000). Entre o jazz e o pop, e depois de Amnesiac (2001) e Hail to the thief (2003), o Radiohead encontraria o calor da sensualidade no recente In rainbows, de 2007. Desde o começo, uma aventura sonora sem lugares-comuns.
Musicalmente, o Radiohead gerou filhotes como Coldplay, Elbow, Liars e Travis. Entretanto, provocou terremotos ainda mais barulhentos graças a uma atitude de integridade artística (o vocalista, Thom Yorke, prefere a reclusão ao status de celebridade) e à forma inteligente como confrontou uma decadente indústria fonográfica. Em 2007, deu o golpe de misericórdia ao lançar In rainbows via internet e com preço definido por cada fã. “Eles influenciaram uma geração inteira”, resume Beto Só, com ingresso comprado para o show de São Paulo.
O músico brasiliense admite ter bebido diretamente na sonoridade dos ídolos. “O que mais me atraiu neles foi a mistura de psicodelia com canções de apelo pop”, diz o compositor, que elege Ok computer como o favorito. “Eles sempre se renovam musicalmente e com isso acabam sugerindo caminhos e sonoridades novos, sem perder a sintonia com seu público”, observa. Para exemplificar essa postura desafiadora, Beto lembra da performance do Radiohead no Grammy Awards deste ano. “Enquanto o Coldplay fez uma apresentação-padrão, cantando junto com um rapper, o Radiohead veio com um arranjo novo para a música deles (15 step), com sopros e percussão”, compara.
Mesmo com diferenças sonoras, não são raros os fãs na cena brasiliense do rock e da eletrônica. “O Radiohead começou como uma banda comum de um sucesso só (Creep). Ninguém achava que passaria daquilo. Mas eles conseguiram criar uma sonoridade única de vanguarda, que se renova com os anos”, afirma o DJ Hopper, que reconhece a inspiração no tempo em que tocava no Low Dream, nos anos 1990. “Foi uma influência forte. Essa coisa de colocar suavidade e agressividade em uma música ao mesmo tempo”, lembra. Ok computer também ocupa o lugar mais alto da lista de preferidos do músico. “A experimentação deles com barulhos e música eletrônica, apesar de não ser novidade na época, foi bem diferente de tudo e acabou virando referência”, completa Rafael Monstro, guitarrista do Disco Alto.
Valor artístico
Para o DJ de rock Montana, que torce para ouvir Paranoid android e Reckoner no Brasil, a importância do Radiohead está no “valor artístico” dos álbuns. Na discografia, fica com The bends, o primeiro álbum deles que ouviu e comprou. “Na pista, geralmente toco Just e uma versão do The Twelves para Reckoner”, conta. Até quem não se diz fã, como Fábio Pop, do Club Silêncio, quer conferir a apresentação. “Decidi ir a esse show como fã de música. Acho que o Radiohead é a última das grandes bandas do século passado, depois do Nirvana. E a última das grandes bandas que surgiram, também”, explica.
O público brasileiro esperou 15 anos para assistir ao show do grupo, que terá abertura de Los Hermanos e Kraftwerk. Para compensar o atraso, eles prometem um set generoso, de mais de duas horas de duração, com faixas sacadas de todos os discos. A relação tumultuada com os palcos parece ter ficado no passado. Depois do sucesso de Ok computer, o Radiohead quase se separou durante a turnê Against demons, atormentado por pressões comerciais. A tempestade cedeu lugar a um período mais ameno, de independência e sutilezas. A angústia permanece afiada — mas a viagem ao Brasil promete cumprir expectativas dos fãs. O que não deixará de contar como surpresa.
terça-feira, 3 de março de 2009
No 'Cria da Cidade'
Reparem na camiseta do Elliott Smith! Presente da minha super-irmã, Rô. :-)
Abração!
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Baladas
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Disco Alto
eu que esperei só
todo silêncio
eu não vou mais me conter
em quase tudo
por querer mais
do que é bom pra mim
a te perseguir
mesmo assim
não espero te aborrecer
talvez eu ousasse me esforçar pra ser mais
quando foi que eu parei de sonhar
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Lacuna preenchida
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
O brinquedo mais legal
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Mais um...
O novo ovo
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
A sapatada eternizada
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
A criatura
Hoje, leio nos jornais que Oscar Niemeyer se diz surpreso com a polêmica em torno de seu projeto da Praça da Soberania, que, se construída, fará surgir no amplo gramado da Esplanada dos Ministérios um obelisco de mais de 100 metros de altura e um edifício para abrigar uma galeria dos presidentes da República.
Surpreso, estupefato até, fico eu ao reparar que o gênio não percebeu que, há algum tempo já, Brasília deixou de ser uma tela em branco (ou vermelha, como a terra que há aqui), para que o artista invente sem objeções. Suas invenções, por mais geniais que continuem sendo, hoje afeta pessoas, gente esquisita, única, singular – os tais brasilienses.
"Querem defender o monumento de seu próprio criador", alfineta o amigo de Niemeyer, Jayme Zettel, ex-presidente do Iphan, o órgão que, hoje sob nova direção, contesta a construção da praça. O monumento, senhor Zettel, essa criatura fascinante chamada Brasília, cresceu, ganhou vontade própria e, junto, o direito de espernear, brigar pelo que acredita ser o melhor para ela. E isso pode significar dizer não ao seu criador, sim.
A criatura ainda olha desconfiada para a imensa biblioteca vazia construída alguns anos atrás, capricho sem muita utilidade, pelo menos até agora. Mais um monumento na nossa paisagem? Pra quê? Será que queremos? Temos o direito de perguntar.
Brasília pode até decidir que quer a nova praça e daqui a alguns anos não conseguir se imaginar sem ela. Mas o que Brasília não pode, e que bom que não está fazendo isso, é aceitar que simplesmente a avisem que uma nova construção será erguida em seus gramados – sem discutir, sem entender bem do que se trata, sem opinar.
Brasília é minha, é nossa, dos brasilienses. Não é demais pedirmos para sermos ouvidos. Pois não é demais quando a criatura pede para exercer seu direito de seguir o próprio caminho, que pode ser diferente daquele imaginado por seu criador.
Niemeyer se diz em uma “trincheira”, apoiado por seus amigos. Deveria ansiar pelo apoio dos brasilienses, os únicos que podem dar legitimidade ao seu novo projeto.